estude o funk
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O funk sempre ocupou um espaço fundamental de expressão social nas periferias — e agora também se torna ferramenta direta de debate ambiental. O #estudeofunk, produtora e programa de aceleração artística sediado na Fundição Progresso, apresenta o EP Meio Ambiente, um projeto que dialoga com a urgência climática que marca o Brasil às vésperas da COP30. Lançado originalmente em 2023, o EP ressurge agora com novo fôlego, conectando juventudes, música e consciência ambiental em um momento decisivo para o país.

A ideia nasceu de uma conversa entre Vanessa Damasco, diretora do #estudeofunk, e o ativista Daniel Calarco, representante da Organização Mundial da Juventude (OIJ). A partir das diretrizes da UNESCO e da provocação sobre aproximar temas ambientais da juventude através da arte, o coletivo reuniu cerca de 50 artistas em uma aula-debate que deu origem às composições do EP. “Percebemos a responsabilidade que temos em ampliar pautas sociais junto aos artistas, ainda mais quando falamos de meio ambiente, que é urgente”, explica o #estudeofunk.

O resultado é um trabalho que transforma clima, floresta, futuro e sobrevivência em linguagem urbana, com batidas dançantes que carregam crítica e mensagem. Abrindo o EP, “Raízes”, de Oxy, produzida por Ardo, discute o mundo que estamos construindo e o que ainda precisamos resgatar para sustentá-lo. Na sequência, “Amazônia”, interpretada por Tabatha Aquino, mistura sons da floresta com denúncias sobre destruição, garimpo e violência contra povos originários.

As faixas “Terra Viva” (Kamy Mona) e “Pega a Visão” (Duhpovo) reforçam o contraste entre paisagens naturais ameaçadas e tragédias urbanas que atingem principalmente a população periférica. Já “Fortalece Aí”, de Letinzz e Sabrina Azevedo, produzida por Dee-X, convoca a comunidade à ação e ao engajamento.

A criação de um funk ecológico e coletivo

O EP é resultado de um processo criativo colaborativo, alimentado por um banco musical exclusivo criado pelo #estudeofunk para temas ambientais. Embora o plano inicial fosse produzir apenas uma faixa, a curadoria recebeu 16 músicas, todas produzidas em apenas 10 dias. “Percebemos que havia complementaridade entre as composições. Juntas, elas construíam um mosaico potente, então o projeto evoluiu para um EP completo”, conta o coletivo.

As diferentes vozes, estéticas e percepções se unem em uma narrativa comum: a crise climática vivida sob a ótica de jovens que sentem seus efeitos diariamente, seja pela destruição da floresta, seja pelas enchentes, pelo calor extremo ou pelas desigualdades que atravessam a vida nas periferias urbanas.

Funk, COP30 e o papel da juventude periférica

Conectar o funk à pauta ambiental é, para o #estudeofunk, uma forma de ampliar o debate e alcançar quem mais será afetado pelo futuro climático. “O funk é um veículo poderoso que alcança uma camada muito jovem. A juventude periférica precisa estar alinhada com o planejamento do futuro — e o funk pode ser esse canal”, afirmam.

O coletivo lembra que questões ambientais não são abstratas para quem vive nas periferias. Pelo contrário: falta de saneamento, enchentes, calor extremo e racismo ambiental são parte do cotidiano desses jovens. “O funk sempre foi ferramenta de denúncia e conscientização. Estamos ampliando esse discurso para incluir o meio ambiente.”

Um dos pilares do EP é equilibrar mensagem, ritmo e sensibilidade sem abrir mão da energia da pista. “O nome desse equilíbrio é arte”, resume o #estudeofunk. O projeto usa a música como ferramenta de educação emocional, política e ambiental, incentivando artistas e ouvintes a transformar informação em criação — e criação em reflexão.

Para o #estudeofunk, a meta é simples: que o EP circule, convoque conversas e inspire novas produções. “A gente espera que a galera escute, curta, dance, pense e converse. Trabalhamos para que esses temas continuem vivos e para abrir caminhos a futuros possíveis na vida dos artistas periféricos.”