
Você pode nunca ter ouvido o nome de Nicky Hopkins, mas certamente já ouviu o som do seu piano. Discreto, talentoso e de uma sensibilidade ímpar, ele foi o músico por trás de algumas das gravações mais icônicas do século 20 – de “Sympathy for the Devil”, dos Rolling Stones, a “Revolution”, dos Beatles, passando por “My Generation”, do The Who, e faixas fundamentais dos Kinks, Jeff Beck, Donovan e até do Grateful Dead.
Três décadas após sua morte, Hopkins finalmente começa a receber o reconhecimento merecido. O tecladista será homenageado no Hall da Fama do Rock and Roll de 2025, na categoria “Musical Excellence”, e é tema do recém-lançado documentário The Session Man, produzido por John Wood e dirigido por Michael Treen, que dedicou sete anos à produção antes de falecer em abril deste ano.
Wood conta:
Ele era um cara muito quieto, reservado, mas uma pessoa adorável. Todos o amavam, não só pela música, mas por quem ele era.
Nicky Hopkins, o pianista que estava em todos os lugares
Nascido em 1944, na periferia de Londres, Nicky Hopkins começou a tocar piano aos três anos e ganhou uma bolsa para estudar na Royal Academy of Music. Mas a rebeldia o levou rapidamente para o Rock and Roll. Ainda adolescente, tocava em bares e clubes da capital britânica e, aos 16, já impressionava músicos veteranos com sua habilidade de unir técnica clássica e feeling de Blues.
Depois de passar pelas bandas Screaming Lord Sutch e Cyril Davies All-Stars, Hopkins chamou a atenção de Mick Jagger e Keith Richards, que o viram tocar no lendário Marquee Club. “Aquele pianista simplesmente nos derrubou”, recorda Richards no filme. “Parecia um garoto branco vindo direto do Mississippi.”
A ascensão, no entanto, veio acompanhada de dificuldades. Diagnosticado com doença de Crohn, Hopkins passou mais de um ano hospitalizado e teve que abandonar as turnês. Foi nesse período que sua vida tomou um rumo definitivo: se não podia viajar, passaria a se dedicar integralmente ao trabalho de estúdio. E o resto é história.
Entre 1965 e 1968, seu nome, ainda que raramente creditado, apareceu em uma quantidade impressionante de gravações. Hopkins se tornou o pianista mais requisitado da cena londrina, emprestando seu toque cinematográfico a discos como Something Else (The Kinks), Beggars Banquet (The Rolling Stones) e Truth (Jeff Beck Group).
“Ele tinha um estilo especial, uma mistura de gospel e música clássica que ninguém mais fazia”, relembra Mick Jagger em The Session Man. “Ele conseguia entender o que você queria sem precisar explicar.”
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Do swing londrino ao psicodelismo californiano
O final dos anos 1960 marcou uma virada na vida de Nicky Hopkins. Após se recuperar parcialmente da doença, ele se juntou ao Jeff Beck Group e, em turnê pelos Estados Unidos, se apaixonou pela efervescente cena da Califórnia. Logo passou a tocar com Jefferson Airplane, Jerry Garcia e Quicksilver Messenger Service – e chegou até a subir ao palco de Woodstock.
Mesmo morando em Mill Valley, no norte de São Francisco, Hopkins continuou a colaborar com artistas britânicos, participando de gravações lendárias como Imagine (John Lennon), Who’s Next (The Who) e Living in the Material World (George Harrison).
Com os Rolling Stones, sua ligação foi ainda mais duradoura: ele tocou em praticamente todos os álbuns entre Their Satanic Majesties Request (1967) e Tattoo You (1981), além de acompanhá-los em algumas turnês.
Mas, como destaca o documentário, a saúde frágil e o uso crescente de medicamentos e drogas tornaram difícil sua permanência nas estradas. “Ele vivia com dor constante”, explica Wood. “Usava o que tivesse à mão para tentar aliviar.”
Entre o anonimato e o reconhecimento tardio
Nos anos 80, Hopkins conseguiu vencer os vícios e viveu uma fase mais tranquila ao lado da esposa, Moira Buchanan. Infelizmente morreu em 1994, aos 50 anos, por complicações da doença de Crohn, deixando para trás um legado que, por muito tempo, permaneceu nas sombras.
John Wood, que produziu The Session Man, foi um dos principais responsáveis por reacender o interesse no nome do tecladista. Em 2019, ele organizou campanhas para erguer um banco em formato de piano em homenagem a Hopkins em seu bairro natal, criou uma bolsa de estudos em seu nome na Royal Academy of Music e conseguiu que a casa onde o músico cresceu recebesse uma placa comemorativa.
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Mas a grande virada veio quando Wood decidiu transformar a homenagem em filme. The Session Man reúne depoimentos de nomes como Mick Jagger, Keith Richards, Pete Townshend, Peter Frampton, Dave Davies e o engenheiro Glyn Johns, todos unânimes em exaltar o talento e a humildade do músico.
Pensei: como é possível que ninguém conheça esse cara? Ele trabalhou com os maiores nomes do rock, tocou em algumas das faixas mais importantes da história e fez todos soarem melhores.
Eternizado no Hall da Fama
Além de recuperar a trajetória de Hopkins, o filme teve um papel crucial na campanha por sua inclusão no Hall da Fama do Rock and Roll. Após tentativas frustradas de fãs, Wood decidiu contatar diretamente John Sykes, presidente da fundação. “Ele respondeu dizendo que era fã de Nicky desde adolescente”, lembra o produtor.
A partir daí, o apoio de músicos foi decisivo.
Escrevi para 52 pessoas e recebi 52 respostas. Keith Richards, Rod Stewart, Ronnie Wood – todos enviaram mensagens de apoio dizendo: ‘Claro que ele merece!’
O esforço deu resultado. Em 2025, Nicky Hopkins será finalmente imortalizado ao lado de nomes como Soundgarden, OutKast, Cyndi Lauper e Joe Cocker, este último outro artista que teve o privilégio de tê-lo ao piano.
Para Wood, o momento é a concretização de uma missão pessoal.
O que eu queria era fazer com que as pessoas conhecessem Nicky. E está acontecendo. O Hall da Fama é o auge de tudo isso — e, honestamente, não poderia ter terminado de forma mais bonita.
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