Nilüfer Yanya, em foto por Molly Daniel
Foto por Molly Daniel

Uma das artistas mais originais e instigantes da cena atual finalmente chega ao Brasil para a sua estreia. A cantora e compositora Nilüfer Yanya conquistou público e crítica com sua mistura única de indie, soul e batidas eletrônicas, criando uma sonoridade que transita entre a intimidade e a grandiosidade.

Ela consolidou seu nome como um dos principais da música global com seu aclamado álbum, My Method Actor (2024), celebrado e altamente conceituado afora. Sua trajetória é notável, incluindo colaborações com Sampha e King Krule, além de turnês ao lado de gigantes como Adele, Mitski e prestes a adicionar Lorde nessa lista.

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Nilüfer se apresenta no Cine Joia (SP), no dia 12 de novembro, em uma noite que integra a curadoria ÍNDIGO – projeto da 30e focado em conectar diferentes estilos e comunidades em experiências musicais únicas.

Em um momento em que a artista opta por priorizar a intimidade de casas de shows menores para se apresentar pela primeira vez em novos mercados, o TMDQA! conversou com Nilüfer Yanya sobre a escolha de tocar sob o ecossistema curatorial ÍNDIGO, a importância de locais como o Cine Joia para a conexão com o público brasileiro, e os desafios de traduzir a coesão de seus aclamados trabalhos de estúdio para a energia de uma performance ao vivo. Vem conferir esse papo!

TMDQA! Entrevista Nilüfer Yanya

TMDQA!: Então, vamos lá. Obrigado por nos receber, Nilüfer! O show de São Paulo se enquadra na label curatorial ÍNDIGO, que a produtora criou com foco na experiência e no senso de comunidade em um nicho sofisticado. Qual o impacto de se apresentar sob um rótulo que prioriza o tom curatorial e a qualidade, em vez do apelo de massa de um festival? Isso muda a forma como você aborda o setlist ou a interação com o público?

Nilüfer Yanya: Bem, eu acho que… quero dizer, está um pouco acima (da minha decisão), mas esta foi a primeira oportunidade que tivemos para vir ao Brasil de forma adequada, então aproveitei a primeira chance porque eu queria vir. Mas estou muito feliz por estarmos fazendo isso com a ÍNDIGO porque eles realmente parecem levar a música a sério, e isso é importante. [risos] Acho que quando você está se esforçando para trazer seu show ou sua performance para um lugar novo, você quer saber se as pessoas estão indo para ouvirem música, de fato. Os festivais às vezes podem ser bem caóticos e têm muita coisa acontecendo, então é ótimo sentir que as pessoas estão vindo focadas apenas para nos ver tocar. É muito bom.

TMDQA!: O Cine Joia – local do seu show -, é conhecido por sua capacidade restrita e intimista. Sua equipe planejou essa alternância de locais como forma de calibrar o foco, usando a exposição massiva na Europa para capitalizar na construção de público em novos mercados, como o Brasil?

Nilüfer Yanya: Com certeza! Eu acho que locais intimistas são a melhor maneira de apresentar música a um novo público ou em um novo mercado pela primeira vez, porque as pessoas conseguem se concentrar na música – e esses locais geralmente são construídos pensando na acústica, então a música vai soar como se deve ser. E sim, faz parte de uma história e cultura mais amplas.
É importante continuar alimentando os diferentes negócios musicais e as “famílias musicais” que estão vivas em diferentes cidades e países ao redor do mundo. É realmente uma honra poder tocar em um lugar onde tantas pessoas já tocaram antes.

TMDQA!: Seus três álbuns de estúdio alcançaram uma estabilidade notável em pontuações da crítica. My Method Actor, em particular, é frequentemente descrito como o seu melhor trabalho. Após atingir este pico de aclamação e refinamento, qual é o principal desafio em traduzir essa coesão de estúdio para a execução ao vivo durante uma turnê intercontinental?

Nilüfer Yanya: Eu acho que o principal desafio seria, provavelmente, conseguir manter a qualidade do show a mesma, porque toda vez que você viaja, cada lugar para onde você vai é diferente, cada local é diferente. Além disso, como não somos uma equipe muito grande e eu não tenho uma crew muito grande, quando algo está faltando ou algo dá errado, isso pode realmente afetar muito o show – porque planejamos de uma maneira específica.
Eu diria que essa é provavelmente a parte mais difícil. Logística, tentar manter tudo coeso e a qualidade de cada show a mesma. Essa é a natureza da turnê e a natureza da música e da arte. É uma coisa intangível e uma experiência intangível, então você tem que apenas tentar o seu melhor.

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TMDQA!: Críticos apontam para uma transição sônica estratégica com PAINLESS e My Method Actor em direção a uma abordagem mais centrada no rock, distanciando-se da paleta mais ampla de seus trabalhos anteriores. O público brasileiro verá uma Nilüfer Yanya mais eletrizante e direta no palco, ou a performance equilibrará a sonoridade nova com o soul e o art-rock do seu catálogo anterior?

Nilüfer Yanya: Haverá um equilíbrio entre o novo álbum e alguns dos trabalhos mais antigos, principalmente PAINLESS. Eu sinto que há uma forte conexão entre os dois e acho que a maneira como estamos tocando as músicas agora as faz soar mais centradas no rock e um pouco mais… meio que mais épicas. É muito divertido e acho que isso mostra o fio condutor entre os dois álbuns e as músicas. [risos]

TMDQA!: Este show em São Paulo acontece em um prazo de tempo extremamente apertado, dois dias antes do Corona Capital Festival no México e apenas um dia antes de um grande show no Reino Unido. Como você gerencia a logística e a mentalidade para entregar uma performance de estreia de alto impacto em um mercado tão distante, sabendo que está logisticamente espremida entre grandes compromissos globais?

Nilüfer Yanya: Nossa, é difícil… Não sei como vamos fazer isso, mas definitivamente vamos fazer. E, sabe, planejamos tudo, esperamos, corretamente.
Então, é só torcer para que nada de ruim aconteça e possamos fazer todos os três shows, porque eu realmente quero fazer todos esses três shows. Eles significam muito para mim.

TMDQA!: Sua turnê capitaliza o sucesso do álbum My Method Actor e promove o EP Dancing Shoes, lançado em julho. O título Dancing Shoes sugere um foco em ritmo e movimento. De que forma o novo material do EP foi concebido para dialogar com a energia e a receptividade do público latino-americano, conhecido por sua intensidade?

Nilüfer Yanya: Eu acho que cada um vai interpretar de uma maneira diferente. O público latino-americano tem uma conexão muito forte com movimento, dança e ritmo, e para mim, o título Dancing Shoes representa uma metáfora para o movimento que todos nós temos que fazer para atravessar a vida, algo que está em constante mudança.
Então, eu gosto de deixar a percepção para as pessoas, como elas escolhem perceber, e acho lindo que isso vá variar de cultura para cultura também.

TMDQA!: Nilüfer, por fim, eu represento um site chamado Tenho Mais Discos Que Amigos!. Considerando esta informação, você também diria ter mais discos do que amigos? E, se pudesse escolher um álbum para descrever a si mesma ou um álbum que seja significativo para você, qual seria?

Nilüfer Yanya: Eu acho que provavelmente tenho mais discos do que amigos! Eu tenho amigos, mas acho que um grupo menor de amigos próximos. E eu preciso dos meus amigos, mas definitivamente preciso da música e dos discos também, tipo, muito. [risos] Caramba, é uma pergunta difícil!

TMDQA!: Sobre os discos, sei que você fala sobre sua admiração por PJ Harvey…

Nilüfer Yanya: Eu tava pensando nisso! Mas, acho que hoje, eu diria I Put A Spell On You, da Nina Simone. Algumas das minhas faixas favoritas de toda a vida estão naquele álbum. É importante para mim, e toda oportunidade em se aprofundar nessa obra, é uma oportunidade válida.

TMDQA!: Nem preciso dizer sobre a escolha. Sério, espetacular. Obrigado pelo tempo, Nilüfer!

Nilüfer Yanya: Nos vemos em breve!

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