Foto: Gerada com IA
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A música brasileira é muito mais do que trilha sonora do público que a ouve; é uma potência econômica com números impressionantes. E, para quem está na indústria musical, entender essa complexidade é fundamental. 

O relatório mais recente da ANAFIMA, “O PIB da Música no Brasil – Edição 2025”, nos entrega um raio-X detalhado desse mercado gigante, revelando não apenas seu potencial e brilho mas também os desafios que se escondem por trás de números bilionários.

Em 2024, a cadeia ampliada da música no Brasil movimentou a estonteante marca de R$116,06 bilhões. Sim, você leu certo: bilhões. Um setor que, apesar de todo esse porte, ainda lida com uma sub-representação fiscal, recebendo apenas 0,95% dos gastos tributários federais destinados à Cultura. Um contraste e tanto, não é?

Os motores da economia musical: ao vivo, gravada e além

Quando olhamos para a distribuição desse PIB, fica claro onde a energia e o dinheiro realmente fluem. A música ao vivo se consagra como o verdadeiro motor da nossa economia musical, respondendo por impressionantes R$94 bilhões. É o show, a experiência, o contato direto com o artista que puxa boa parte desse mercado.

Logo em seguida, embora com uma cifra bem menor, mas de impacto gigantesco, temos o segmento de áudio e instrumentos, movimentando R$13,9 bilhões. A música gravada, impulsionada majoritariamente pelo streaming, faturou R$3,486 bilhões, e os direitos autorais somaram R$1,8 bilhão. Há também o fomento público, que alcançou R$2,65 bilhões, um valor que serve de “piso” para o investimento público no setor.

Esses números mostram que, em vez de ser um nicho, a música é um pilar econômico robusto, com capacidade de gerar ainda mais valor se os gargalos estruturais forem endereçados.

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Fonte: ANAFIMA, “O PIB da Música no Brasil – Edição 2025”

A ascensão imparável do streaming e a força nacional

Se a música gravada faturou R$3,486 bilhões em 2024, um crescimento notável de 21,7% em relação ao ano anterior, muito se deve ao streaming. Essa modalidade já representa 87,6% da receita total do mercado fonográfico, com R$3,055 bilhões.

No Brasil, as assinaturas pagas são a força motriz, gerando R$2,077 bilhões – um aumento de quase 27% que demonstra a disposição do público em investir na experiência musical. O Spotify, inclusive, lidera com cerca de 60,7% do market share de assinaturas.

O mais animador é ver que, nesse cenário digital, a brasilidade brilha forte: 93,5% das 200 músicas mais consumidas no país são produções nacionais. Isso não é apenas um número, é um atestado da nossa soberania cultural e da capacidade dos nossos artistas de dominarem as paradas, independentemente da plataforma.

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Fonte: ANAFIMA, “O PIB da Música no Brasil – Edição 2025”

O Poder dos Palcos: festivais, shows e a complexidade do ingresso

Falando de música ao vivo, que movimentou R$94 bilhões, é fascinante observar como esse ecossistema é vasto e diversificado. Desde os megafestivais e turnês em estádios até os shows em casas de pequeno porte e eventos populares como o Carnaval e as festas juninas, tudo entra na conta.

O relatório destaca eventos com impacto econômico impressionante: o Carnaval do Rio (rua + Sambódromo) gerou R$5 bilhões, seguido de perto pelo Carnaval de Minas Gerais (R$4,7 bilhões) e um pouco mais distante pelo de São Paulo (R$3,4 bilhões). Eventos como o Rock in Rio, o São João de Campina Grande e Caruaru, e até o histórico show da Madonna em Copacabana também apareceram na lista dos que mais movimentaram dinheiro.

Contudo, há uma dicotomia importante: enquanto o ticket médio dos shows é de R$432, a pesquisa aponta que 70% dos frequentadores fixam um teto de R$300 por ingresso. Como conciliar isso? O parcelamento sem juros surge como o grande “facilitador” para a maioria, permitindo que shows com ingressos de pista entre R$795 e R 1.100 (e áreas premium que podem superar R$3.000!) continuem atraindo público.

É a prova de que a experiência ao vivo é um bem desejado, mesmo que exija um planejamento financeiro à parte. Geograficamente, o Sudeste domina, concentrando 41,7% dos eventos mapeados (com São Paulo e Rio de Janeiro à frente), mas outras regiões como Sul e Nordeste também têm seu peso, muitas vezes impulsionadas por eventos culturais massivos, como o Carnaval de Salvador e o São João de Campina Grande.

E a boa notícia é que o mercado está em franca expansão: em 2025, já se registrava um crescimento de 31% no número de eventos em comparação com o mesmo período de 2024.

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Fonte: ANAFIMA, “O PIB da Música no Brasil – Edição 2025”

A Vulnerabilidade do Som: dependência externa em equipamentos

Aqui reside um dos pontos mais críticos do relatório. A indústria de áudio e instrumentos musicais no Brasil enfrenta uma altíssima dependência de importações: cerca de 99,1% do valor transacionado entre 1997 e 2025 é proveniente do exterior. Isso gerou um déficit comercial de US$566,6 milhões em 2024.

Essa dependência se traduz diretamente no bolso do consumidor e do profissional brasileiro: o músico por aqui chega a pagar duas vezes mais por cestas equivalentes de áudio e instrumentos em comparação com EUA e Europa. Essa diferença se explica por um “multiplicador” de aproximadamente 4,5 vezes entre o valor de importação (CIF) e o preço final no varejo, devido a tributos e custos de internalização. Essa vulnerabilidade inibe o desenvolvimento tecnológico local e a geração de empregos qualificados, nos deixando em uma posição delicada no cenário global.

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Fonte: ANAFIMA, “O PIB da Música no Brasil – Edição 2025”

Quem Toca a Indústria: perfil empresarial e desafios do trabalho

A base empresarial da música no Brasil é, em grande parte, um reflexo do nosso cenário econômico: 19.530 CNPJs mapeados por CNAE, com uma esmagadora maioria de microempresas (88,4%). Quase metade (47,3%) opera como MEI, e 86% optam pelo Simples Nacional. Esse arranjo, embora facilite a formalização, impõe limites de escala e investimentos, além de restrições na proteção social.

A concentração geográfica segue a lógica econômica do país: o Sudeste abriga 53% das empresas, com São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais liderando. Atividades como varejo, gravação e edição, e produção musical são as que mais reúnem CNPJs.

No que pertence ao mercado de trabalho formal, o setor empregou 13.327 pessoas em 2024, com saldo positivo de empregos. A produção musical e as atividades de sonorização e iluminação se destacaram na geração de vagas. 

Contudo, a análise de gênero revela uma disparidade significativa: entre julho de 2024 e junho de 2025, 64,4% das admissões foram de homens e apenas 35,6% de mulheres. Setores como sonorização e iluminação (87,4% de homens) e comércio varejista (72% de homens) mostram as maiores discrepâncias, enquanto a fabricação de áudio e vídeo, gravação e edição, e ensino de música apresentam um equilíbrio maior ou até mesmo predominância feminina.

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Fonte: ANAFIMA, “O PIB da Música no Brasil – Edição 2025”

A Música que Paga as Contas: direitos autorais em novo fôlego

Os direitos autorais atingiram um patamar histórico em 2024. O ECAD arrecadou R$1,8 bilhão (um crescimento de 12%!) e distribuiu R$1,5 bilhão para mais de 345 mil titulares. E, pela primeira vez, o digital liderou a arrecadação, respondendo por 26% do total e superando o rádio, a TV e os próprios eventos presenciais. Um marco que demonstra a força da transformação digital na remuneração da criação.

É importante notar a relevância do repertório nacional, que respondeu por 62% da distribuição, reafirmando o valor da nossa música para o nosso próprio público.

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Fonte: ANAFIMA, “O PIB da Música no Brasil – Edição 2025”

A Trilha Sonora da Fé: o impacto da música religiosa

Um segmento muitas vezes subestimado mas de enorme relevância econômica e cultural é o da música religiosa. O relatório destaca que ela é um motor significativo da indústria criativa, com uma cadeia produtiva completa: compositores, músicos, estúdios, gravadoras e editoras.

A capilaridade é impressionante, com cerca de 579,8 mil estabelecimentos religiosos no Brasil gerando uma demanda contínua por instrumentos e equipamentos de áudio. Além disso, as igrejas (especialmente as evangélicas) são grandes formadoras de músicos no país, oferecendo educação musical para milhões de jovens. É um mercado em profissionalização crescente, com forte projeção de intensificação do consumo digital de música religiosa.

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Fonte: ANAFIMA, “O PIB da Música no Brasil – Edição 2025”

Uma indústria vibrante, mas sedenta por estratégia

O Relatório “PIB da Música no Brasil – Edição 2025” da ANAFIMA expõe uma indústria musical vibrante e com um poder econômico inegável. Somos um dos maiores mercados globais, com uma força cultural que se manifesta do streaming aos grandes palcos.

No entanto, o relatório também expõe os desafios cruciais: a quase total dependência de equipamentos importados, a fragmentação da base empresarial, as disparidades de gênero no mercado de trabalho e a concentração geográfica. Esses são pontos que exigem um olhar estratégico e a implementação de políticas que estimulem a produção nacional, o empreendedorismo e a inclusão.

A música brasileira canta alto, e os números provam isso. Agora, o desafio é transformar esse potencial em um ecossistema ainda mais forte, competitivo e equitativo. E para quem está no marketing para o Music Business, é crucial usar esses dados para construir estratégias mais inteligentes e impactantes.

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