Glen Powell stars in Paramount Pictures' "THE RUNNING MAN."
Glen Powell stars in Paramount Pictures' "THE RUNNING MAN."

Poucos diretores contemporâneos tratam a trilha sonora como parte principal do filme da forma que Edgar Wright faz. Para ele, a música não é “só” uma trilha, um acessório ou um pano de fundo, mas o motor que dirige ritmo, montagem e até a construção da própria identidade dos personagens.

Seu próximo filme, O Sobrevivente, já nasce envolto por essa expectativa: o que Wright fará agora para reinventar o casamento entre som e imagem?

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Se olharmos para trás, é fácil entender de onde vem essa expectativa.

Em Scott Pilgrim vs. The World (2010), Wright transformou guitarras distorcidas em armas narrativas, criando um universo onde riffs, batalhas de banda e cultura gamer se fundiam sem pedir licença, de forma original e interessante. O filme virou um manifesto pop justamente por entender que a música não estava ali para ambientar, mas para estruturar toda a lógica de linguagem – cortes, enquadramentos, onomatopeias gráficas, tudo pulsava como se fosse parte de uma mesma playlist.

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Já em Baby Driver (2017), Wright deu um salto ainda maior: elevou a música à categoria de coreografia. Cada passo, perseguição, cada disparo e cada derrapagem de carro seguia o compasso da trilha, como se o mundo todo obedecesse ao fone de ouvido do protagonista (exemplo que foi usado mesmo…).

A música não apenas comentava a ação – determinava a ação. Foi nesse ponto que o diretor consolidou uma assinatura rara: ele não filma para depois colocar a música, ele escreve e filma a partir da música. O roteiro nasce em cadência, a decupagem já prevê compassos e pausas.

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No subestimado, mas bom, Last Night in Soho (2021), ele coreografou memória. O filme acompanha Eloise (Thomasin McKenzie), uma jovem apaixonada pela moda e pela estética dos anos 60 que, ao se mudar para Londres, começa a ter visões imersivas da época… e a música é a chave que abre essa porta temporal.

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Wright declarou que tinha a intenção de “fazer uma jukebox movie”, uma espécie de cápsula cultural construída a partir de canções icônicas da época. A trilha é carregada de sucessos britânicos dos 60s, mas nunca funciona apenas como nostalgia: cada escolha musical cria tensão, encanto ou desconforto, dependendo do ponto da narrativa.
Recomendo carinho e atenção para esse filme também. A música em Last Night in Soho não é só pano de fundo estiloso, mas sim um portal narrativo. Cada música funciona como gatilho de deslocamento temporal. 

Essa forma de pensar o som como alicerce narrativo coloca Wright em uma linhagem muito particular do cinema – de Sergio Leone, que fazia os duelos de faroeste ao som pré-gravado de Ennio Morricone, a Quentin Tarantino, que construiu uma mitologia inteira em torno da música pop como comentário cultural. Mas ao contrário de Tarantino, que trata a música como citação, Wright a trata como ritmo interno. Seus filmes são playlists encarnadas, experiências que só existem porque música e imagem foram pensadas juntas, inseparáveis.

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O que esperar, então, de O Sobrevivente?

Se a tradição se mantiver, veremos mais do que um filme de ação: veremos uma obra em que cada batida sonora dita respirações e decisões. Wright já demonstrou que não está interessado apenas em contar histórias, mas em compô-las como se fossem álbuns visuais. E talvez aí resida seu maior diferencial: enquanto muitos cineastas ainda enxergam a trilha como um recurso de impacto emocional, Wright a trata como dramaturgia pura.

No fim, a pergunta não é se a trilha de O Sobrevivente vai ser boa ou memorável. A pergunta é: como ela vai ditar o filme? Se em Scott Pilgrim a música era identidade e em Baby Driver era destino, em O Sobrevivente talvez vejamos a música como território – um espaço onde personagens, câmera e espectador só podem se mover em compasso.

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O que sabemos

Com um dos queridinhos da vez, Glen Powell, O Sobrevivente é uma adaptação do livro O Concorrente (The Running Man, no original), de Stephen King (que o lançou sob o pseudônimo Richard Bachman). O livro já foi adaptado em 1987, um filme com Arnold Schwarzenegger no papel principal.

A adaptação de Wright não é um remake direto da versão de 1987 com Arnold Schwarzenegger, mas uma nova releitura mais fiel ao romance.

Em uma sociedade distópica no futuro próximo, existe um game show chamado The Running Man, no qual os “runners” (participantes) são caçados por assassinos profissionais. Quem conseguir sobreviver por 30 dias ganha um prêmio milionário. O protagonista: Ben Richards, interpretado por Powell, um homem da classe trabalhadora que aceita entrar no jogo para salvar sua filha doente (ou pelo menos obter recursos para tratar sua condição) — uma circunstância desesperada que o leva à competição letal.

Outros personagens do elenco incluem Josh Brolin (como o produtor Dan Killian), Colman Domingo (o apresentador do programa), Lee Pace como um dos “hunters”, Emilia Jones, Michael Cera (olha o Scott Pilgrim aí…) , William H. Macy, Jayme Lawson, entre outros.

O trailer já traz um remix de Underdog, de Sly & the Family Stone, indicando que Wright já está implicado numa abordagem musical expressiva desde a promoção. No Brasil, chega aos cinemas no dia 20 de novembro.

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Gustavo Giglio
Kill Your Logo - Reinventando marcas com atitude

Coluna dedicada a explorar como o marketing pode transformar bandas em marcas icônicas e vice-e-versa. Com mais insights sobre música, estratégias criativas e cases de sucesso, a coluna pretende desvendar o universo em que música e negócios se encontram.

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