Of Monsters and Men, em registro feito por Eva Schram
Foto por por Eva Schram

Seis anos se passaram desde o lançamento de Fever Dream, e logo após, os ícones do indie folk islandês Of Monsters and Men iniciaram um período de reclusão criativa, que incluiu trabalhos solo e um retorno às suas raízes. Agora, a banda de Reykjavík, conhecida mundialmente pelo hino geracional “Little Talks”, está de volta e prestes a adicionar um novo e significativo capítulo à sua aclamada trajetória!

O retorno do grupo foi coroado com o anúncio de seu mais novo álbum, All Is Love and Pain in the Mouse Parade – e enfim disponível ao público. O disco, que explora o paradoxo entre a alegria e a tristeza da experiência humana – a “Mouse Parade” que molda suas histórias coletivas -, já teve alguns singles revelados, incluindo “Television Love” e “Ordinary Creature“, que anteciparamm a sonoridade introspectiva e renovada da banda.

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Em entrevista ao TMDQA!, Ragnar “Raggi” Þórhallsson, um dos co-vocalistas e letristas do OMAM, conversa sobre o processo de autodescoberta e renovação criativa que definiu este novo trabalho. O músico detalha a produção de All Is Love and Pain in the Mouse Parade, as inspirações por trás das novas faixas e reflete sobre a evolução da banda desde seu sucesso meteórico com My Head Is An Animal e Beneath The Skin até o o resgate da sua essência.

Bora conferir o bate-papo!

TMDQA! Entrevista Raggi (Of Monsters and Men)

TMDQA!: Primeiramente, Ragnar, muito obrigado por me receber! É um prazer. Quero começar perguntando sobre o nome da banda. O nome de vocês, Of Monsters and Men, é grandioso e mitológico. Já a metáfora central do novo álbum, a “Mouse Parade” (Parada dos Ratos), trata de criaturas coletivas, pequenas e vulneráveis. Por que a escolha do rato para representar a história, a essência e a família da banda? Essa mudança simbólica representa um abraço consciente da vulnerabilidade?

Raggi: Os ratos entraram em jogo de uma forma meio estranha. Estávamos escrevendo a partir de um lugar muito humano – sobre nossas lutas e problemas -, mas, ao mesmo tempo, estávamos sendo cercados por ratos enquanto fazíamos o álbum – Tanto em nossa cabana quanto no estúdio. Eles estavam por toda parte.

Quando você se depara com a vida deles, isso coloca todos os seus dramas e lutas humanas em perspectiva. Seus problemas parecem muito pequenos. Você pensa sobre esses ratos, como eles trabalham em comunidade, e como, de repente, nós, humanos, decidimos: “Vamos construir uma casa aqui”, e todos esses ratinhos precisam se mudar. Os problemas deles são uma questão de vida ou morte, de sobrevivência.

Isso nos fez refletir sobre os nossos próprios problemas e colocar nossos pequenos dramas em perspectiva. Acho que foi aí que eles apareceram, servindo também como um toque irônico, uma forma de rir de nós mesmos.

TMDQA!: Incrível! Inclusive, o novo álbum explora o paradoxo da experiência humana: alegria, tristeza, amor e dor. Qual foi o momento ou experiência mais paradoxal que a banda – coletivamente ou individualmente -, enfrentou nesses seis anos desde Fever Dream, e que se tornou a espinha dorsal emocional deste novo trabalho?

Raggi: Acho que é uma coleção de muitos momentos. À medida que envelhecemos, começamos a entender mais a área cinzenta, o “entre”. As coisas não são tão preto e branco quanto parecem quando somos mais jovens.

Quando somos jovens, você está bravo ou triste, são sentimentos bem definidos. Mas quando você coleciona mais memórias e mais pensamentos, você percebe que o que o entristeceu no passado pode ser algo pelo qual você se sente muito bem hoje, ou o que o fez feliz no passado não era necessariamente algo que realmente lhe deu algo ou permaneceu com você. Sentimos que temos tudo resolvido no momento, mas depois as coisas mudam, e a cada ano você ganha novas perspectivas. Então, não foi um momento específico, foi apenas a vida, sabe?

TMDQA!: Após os projetos solo e paralelos, o que cada membro trouxe de novo para a banda – uma nova perspectiva, uma técnica ou até mesmo uma nova função no estúdio – que moldou o som ou o processo de escrita deste álbum?

Raggi: A Nanna [co-vocalista], por exemplo, fez um álbum solo nesse meio tempo e acumulou muito mais experiência. Ela trabalhou com pessoas incríveis, como Aaron Dessner, que acabaram trabalhando conosco neste álbum também.

Acho que o que ela trouxe para a mesa foi uma energia muito calma e acolhedora, e essa experiência a fez sentir-se confortável para que pudéssemos convidar muitos amigos para participar do álbum. Há uma calma e leveza que você pode ouvir no disco.

Nosso guitarrista também fez outro álbum com sua banda Slowshift. Todas essas “missões secundárias” ou outras coisas que os membros fazem, simplesmente se somam à nossa experiência coletiva e ao álbum.

Nosso baixista é engenheiro de áudio e engenheiro em geral, e trouxe muito para a mesa nesse sentido. E o baterista surgiu com muitas canções de piano incríveis – o que ele costuma fazer, mas neste álbum ele se destacou muito. Ele fez músicas flutuantes, longas e muito bonitas, e muitas delas acabaram no disco.

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TMDQA!: Muitos observadores notaram que Fever Dream se inclinou mais para o surrealismo. O novo som parece ser uma recalibração do trabalho antigo e do anterior. Como vocês definiram o ponto exato de equilíbrio sônico entre o folk grandioso de My Head Is An Animal e o som mais experimental do álbum anterior, para criar essa textura introspectiva e rica do novo trabalho?

Raggi: No álbum anterior, queríamos explorar muito, tentar coisas diferentes. E, na minha opinião, algumas coisas foram ótimas, mas outras eu teria feito de maneira diferente. É sempre assim quando você faz um álbum.

Mas você sempre tem que querer fazer o que te excita – para este álbum, o empolgante era voltar para casa um pouco. Era voltar aos fundamentos em termos de instrumentação e inclinar-se para a dinâmica de banda que iniciou tudo isso: tocar juntos. Depois que isso estava estabelecido, adicionamos elementos de maneiras que achamos empolgantes.

Sabíamos o que queríamos fazer neste álbum: queríamos resgatar muita coisa, mas fazê-lo à nossa maneira, como as pessoas que somos agora. O som vai sempre mudar conosco.

Também queríamos trazer muitos músicos talentosos que conhecemos ao longo dos anos. O processo começou com um certo minimalismo, e então, como adoramos adicionar coisas, ficamos um pouco loucos em alguns pontos, mas não em todos.

TMDQA!: “Television Love” é descrita como uma conversa que a banda revisitou ao longo de cinco anos. Em uma era de produção musical instantânea, o que se ganha ao permitir que uma música se acomode e envelheça junto com as esperanças e experiências da banda?

Raggi: Uma das minhas maiores lições dos últimos anos é: nunca force uma música. Se algo é ótimo no momento, mantenha-o. Se não é o dia dessa música, deixe-a e talvez a revisite depois. Mas nunca force, porque você acaba com algo que não se conecta a nada. E escrever é sobre conexão – conexão com os momentos.

Com “Television Love”, os primeiros versos surgiram na mesma época que as melodias, e permaneceu assim por um tempo. Não tentamos fazer nada com ela. Mas, devagar, ela foi se construindo em algo que, de repente, era a música que mais nos empolgava.

Tudo isso aconteceu sem forçar, sem colocar pressão. A música foi se levando a ser o que é, e, no final, ela deu uma reviravolta e se transformou em uma espécie de canção com um duplo sentido. Foi um processo sem pressão, o que é ótimo.

TMDQA!: Vocês fizeram a transição de uma banda folk pop para pilares da era digital. Se você pudesse convidar um artista que os influenciou no início e um que os inspira hoje para uma “Mouse Parade” musical, quem seriam e por quê?

Raggi Uau, que boa pergunta! Sinceramente, eu só consigo voltar ao primeiro show que fui – foi o Blur. Eu tinha uns oito anos e lembro de estar nos ombros do meu pai, na Islândia. Eu ouvia tudo que minha irmã ouvia, e ela era uma grande fã de Blur, então lembro de pensar: “uau, isso é um momento poderoso!” Então, eu diria Blur. [risos]

TMDQA!: Eu acho que você sabe que eu preciso perguntar isso… Vocês têm uma base de fãs incrível no Brasil e a gente quer saber quando voltam! Sentimos saudades!

Raggi: Nós adoraríamos voltar, com certeza! Só planejamos a turnê europeia para o próximo ano, tudo depois disso está em aberto. Esperamos receber ofertas, talvez do Lollapalooza EUA ou de outros grandes festivais na América Latina. Seria muito emocionante para nós voltarmos.
Vemos todos os comentários, e nossa última experiência aí foi realmente incrível. Então, está definitivamente na nossa lista!

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TMDQA!: E o que o futuro reserva para o Of Monsters and Men em termos de planejamento? Vocês operarão em ciclos como nos anos anteriores, haverá espaço para projetos paralelos, ou o foco total é na Mouse Parade por enquanto?

Raggi: O foco agora é neste álbum, mas acho que somos bastante estóicos sobre isso. Apenas seguimos o que nos empolga. Se for pra ter outro álbum do grupo ou se quiserem fazer outras coisas, estamos abertos.

Estamos felizes que nossos fãs permaneçam conosco, mesmo que demore um pouco entre os álbuns. As melhores coisas surgem quando você está animado e inspirado para fazê-las. Então, vamos apenas seguir isso e ver o que vem a seguir.

TMDQA!: Por último, eu estou representando um website chamado Tenho Mais Discos Que Amigos!. Você concorda que também tem mais discos do que amigos? E se pudesse escolher um álbum para se descrever ou que é muito significativo para você, qual seria?

Raggi Sim, definitivamente tenho mais discos do que amigos. Tenho muitos discos!

Um álbum para me descrever… Sabe, eu tendo a ter um branco quando se trata de nomes de álbuns. Não consigo pensar em nada agora, desculpe! [risos]

TMDQA! Não se preocupe! É tudo o que precisamos saber. Ragnar, foi um prazer. Muito obrigado por me receber. Foi ótimo conversar com você, e espero os ver em breve.

Raggi: Eu também! Foi ótimo falar com você também. Obrigado!

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