
Os dados da mais recente pesquisa da Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados revelam um panorama fascinante e cheio de nuances sobre como o público brasileiro consome música.
Não é mais segredo para ninguém que o streaming musical se tornou o protagonista da forma como acessamos nossas trilhas sonoras diárias. Mas a pesquisa da Nexus solidifica essa percepção com números que não deixam margem para dúvidas: 78% dos brasileiros das classes A, B e C utilizam algum serviço de streaming de áudio, seja na versão gratuita ou paga.
Oito em cada dez pessoas estão com a música na palma da mão, a qualquer hora e em qualquer lugar, indicando uma adesão massiva e uma mudança de hábito que já se consolidou. É um dado robusto que reflete não apenas uma preferência, mas uma nova infraestrutura de consumo musical.
E por que tanta gente abraçou o streaming? Os motivos são tão variados quanto as playlists que criamos. O principal deles, para 57% dos entrevistados, é a grande variedade de músicas. Convenhamos: ter acesso a praticamente qualquer canção já gravada no planeta, por um valor fixo mensal, é tentador demais. Essa “biblioteca infinita” é ainda mais valorizada pelos Baby Boomers, onde esse percentual salta para impressionantes 82%, o que nos diz muito sobre a percepção de valor que essa geração, acostumada a coleções finitas, tem do streaming.
Em segundo lugar, com 38%, vem o conteúdo exclusivo e original, um formato potente que os serviços usam para se diferenciar. E, claro, o custo-benefício/preço acessível, com 37%, mostra que a equação financeira ainda pesa bastante na decisão de assinar.
O impacto curioso nos formatos físicos
Se por um lado o streaming domina, por outro, os formatos físicos como CDs e LPs sentem o impacto. A pesquisa aponta que 45% da população das classes A, B e C diminuiu muito ou parou completamente de escutar LPs ou CDs após a adesão ao streaming.
O curioso é que uma das partes mais intrigantes e contraintuitivas dos dados mostra que essa mudança de hábito é mais acentuada justamente entre os mais velhos, os Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964). Entre eles, 76% diminuíram ou abandonaram o consumo de formatos físicos, com 27% parando por completo. A Geração X (45-60 anos) segue a tendência, com 55% diminuindo ou parando.
É quase irônico, não é? A geração que cresceu com o vinil e o CD é a que mais rapidamente os deixou de lado. Marcelo Tokarski, CEO da Nexus, resume bem essa dinâmica:
“O que é mais interessante é que a mudança de hábito é mais forte entre os mais velhos, os Baby Boomers, que foram a primeira geração a consumir música em formatos físicos como vinil e CD. Eles são os que mais abandonaram esses formatos, mostrando a praticidade do streaming.“
Isso aponta para uma valorização da praticidade e conveniência que o streaming oferece, uma virada de chave para quem lidou com fitas, discos de vinil e CDs por décadas.
Enquanto os mais velhos “se desapegam”, as gerações mais jovens mostram um interesse crescente pelos formatos físicos. 20% dos entrevistados aumentaram ou aumentaram muito o consumo de música em discos ou CDs. Detalhando: 19% da Geração X, 21% dos Millennials e 26% da Geração Z disseram ter aumentado o consumo desses formatos. Os Baby Boomers, por sua vez, representam apenas 2% nesse quesito.
Isso não é apenas um “modismo”; é uma ressignificação, como Tokarski também destaca:
“No entanto, o paradoxo é que as gerações mais jovens, que cresceram com o digital, mostram um interesse crescente em LPs e CDs, indicando que o formato físico está se transformando em um item de colecionador ou um complemento para a experiência digital. O mercado precisa entender que o digital e o físico podem coexistir, cada um atendendo a uma necessidade e a um comportamento diferente do consumidor.”
Para a Geração Z e os Millennials, que nasceram imersos no digital, o LP ou CD se torna um objeto tátil, uma forma de conexão mais profunda com o artista, um item de colecionador que expressa identidade e status cultural. É a experiência curada, o ritual de ouvir um álbum por inteiro, a arte da capa, a raridade.
Isso abre portas imensas para o marketing no Music Business, especialmente para marcas e artistas que querem criar experiências mais imersivas e produtos premium. Pense nas possibilidades de edições limitadas, embalagens inovadoras e o valor agregado que a IA pode trazer para personalizar ainda mais essa experiência física.
A briga das plataformas: Spotify e YouTube Music à frente
No campo das plataformas, a briga é boa, mas o Spotify ainda reina absoluto no Brasil, pelo menos entre quem decide pagar. Enquanto o YouTube Music lidera na versão gratuita (41%), o Spotify é o preferido dos pagantes, com 23% dos brasileiros das classes A, B e C optando por sua versão premium.
Mais ainda, o Spotify é a única plataforma que, somando usuários pagos e gratuitos (totalizando 58%), tem mais adeptos do que pessoas que não a utilizam (42%). É um verdadeiro fenômeno de penetração.
A versão paga do Spotify é mais utilizada por quem tem ensino superior completo (40%) e pelos mais ricos (38%), além dos Millennials (18%). Já os Baby Boomers, novamente, se destacam pela baixa adesão: 62% afirmaram não usar o Spotify de nenhuma forma. Isso mostra que as estratégias de aquisição e retenção de usuários precisam ser altamente segmentadas, considerando não só a faixa etária e poder aquisitivo, mas a disposição cultural de cada geração em abraçar a tecnologia de assinatura.
Quando o assunto é a preferência geral, o Spotify mais uma vez sai na frente, sendo eleito a plataforma favorita por 78% dos entrevistados. Em seguida, vêm o YouTube Music (64%) e o Deezer (32%). Isso reforça a importância de estar presente e com estratégias bem definidas nessas plataformas-chave.
Quanto o brasileiro gasta com streaming?
E o bolso do brasileiro, como se comporta diante desses serviços? A pesquisa revela que 52% dos entrevistados gastam até R$50,00 por mês com streaming. Contudo, a Geração X mostra ser a mais “gastona”, com 42% afirmando pagar entre R$51,00 e R$100,00, um percentual significativamente maior que a média geral (17%).
Uma parcela menor, 4%, gasta de R$101,00 a R$200,00, e apenas 2% acima de R$200,00. Isso indica que, embora haja uma base de assinantes disposta a investir mais, a maior parte busca um custo-benefício mais conservador. Para o Music Business, entender essas faixas de gasto é crucial para precificação de pacotes premium, combos ou mesmo para o desenvolvimento de novos modelos de assinatura.
O rádio segue firme e forte!
E o rádio? Ah, o velho companheiro segue firme e forte, e até surpreende em alguns dados. 52% dos separados, divorciados ou viúvos, por exemplo, passaram a consumir mais rádio depois da assinatura de streaming. Já a classe A (45%) também aumentou sua escuta de rádio.
Por outro lado, 29% dos Baby Boomers deixaram o hábito de lado. Esse vaivém com o rádio nos lembra que a paisagem de consumo musical não é uma via de mão única, mas um ecossistema complexo onde diferentes mídias se complementam, dependendo do perfil do ouvinte.
O Paradoxo do Streaming
O panorama do consumo musical no Brasil é, acima de tudo, uma mistura de diversos meios que podem ser explorados. O streaming não aniquilou os formatos físicos – ele os transformou em itens de valor cultural e colecionável para uma nova geração. O rádio, longe de ser obsoleto, encontra novas formas de se integrar ao dia a dia dos ouvintes.
Para quem está de olho em abrir um negócio no Music Business com foco em inteligência artificial, a mensagem é clara: a inovação está em entender essas múltiplas camadas de consumo. Não se trata de escolher entre digital ou físico, mas sim de criar pontes inteligentes entre eles, personalizando a experiência, gerando valor e engajando os diferentes públicos onde eles estão e da forma como preferem consumir.
O desafio é grande, mas as oportunidades são ainda maiores. A IA não é só uma ferramenta; é a lente que nos permite decifrar essa complexidade e desenhar as estratégias que irão embalar o futuro da música no Brasil!
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