Venere Vai Venus
Foto por Sofia Rojas

A Venere Vai Venus tem se destacado como um dos nomes mais interessantes do Novo Rock brasileiro.

O quarteto paulistano, formado por Lua Dultra, Ávila, Rey Sky e Caio Luigi, ganhou visibilidade após abrir um show do Capital Inicial, o que chamou a atenção de Dinho Ouro Preto. Desde então, a banda participou de festivais como o João Rock, após vencer um concurso seletivo, e conquistou espaço nas paradas do Spotify Brasil, emplacando simultaneamente duas faixas no ranking viral: “Anjos”, que chegou ao top 3, e “Circo”, que alcançou o top 10.

Com o lançamento de Divino, seu primeiro álbum, o grupo vive um momento importante na carreira, marcado pela expansão do público e pela consolidação de sua identidade musical. A proposta combina energia crua no palco com letras que exploram experiências pessoais e reflexões, conquistando uma base de fãs formada de maneira pouco convencional.

Em entrevista ao TMDQA!, a banda comentou a origem do nome, os bastidores do processo criativo e a recepção do disco de estreia. Confira!

TMDQA! Entrevista – Venere Vai Venus

TMDQA!: Queria de cara perguntar pelo nome da banda, que é bem curioso.

Lua: Não é nada específico. É uma junção de conceitos, mais pra sentir do que pra entender. Venere vem do Italiano, é Vênus. Então é Vênus duas vezes. O Vai é de Steve Vai, um guitarrista que a gente gosta bastante. É mais sobre a sonoridade, essa coisa do VVV, que deu origem ao nosso logotipo, e te faz pensar em várias coisas: na estrela, na mitologia, etc. Assim como em muitas bandas, não tem um propósito em si. É pra sentir e encher a boca ao falar.

Ávila: É. E tem também a parada de que esse é um nome potente em qualquer lugar do mundo. Porque Venere é Vênus em vários lugares do mundo…

Lua: …e Venus é Vênus em vários lugares do mundo.

Ávila: É tipo um nome universal. Eu achava que eram verbos. Mas na verdade são substantivos. É tipo um grande nome próprio, “Venere Vai Venus Vieira” (risos).

Lua: Sim. Não é pra venerar ninguém nem ir pra lugar nenhum.

TMDQA!: E como foi o processo de formação da banda?

Lua: Eu estudava no mesmo colégio que o Ávila, e foi lá que eu comecei a tocar piano. Acho que ele me viu tocando, e a gente meio que se seguia nas redes sociais. Por volta de 2023, eu chamei ele e falei, “cara, eu quero fazer uma banda, ganhar um dinheiro. Vamos trabalhar juntos”, e ele falou: “tá bom”. Aí a gente começou. Foi isso. A gente ainda não era amigo, então só tivemos essa conexão por causa da escola.

Ávila: Você me ligou faltando trinta minutos para o ano novo, e a gente combinou de no mês seguinte juntar as pessoas e fazer alguma coisa. Depois a gente encontrou a Rey, nossa baixista, que tá desde o começo com a gente, e o Caio.

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TMDQA!: E como a Rey e o Caio entraram na banda?

Rey: Eu conhecia a Lua pelo Instagram, pois estudamos na mesma escola de música uma época e tínhamos amigos em comum. Em 2023, ela me contou sobre o projeto da banda e perguntou se eu teria interesse em participar. Fiz um ensaio com eles, amei o som e estou aqui desde então!

Lua: Nós já estávamos em contato há uns três anos, mas ela tava numa outra banda. Eu falei que ela tinha que vir e fiz de tudo, meti esse louco, e hoje em dia ela também agradece, mas eu meio que roubei ela da outra banda (risos). O Caio era de outra banda também e a gente meio que converteu ele, também. Ele foi ver o nosso primeiro show e ficou apaixonado. Tínhamos outra baterista na época, a Camila, mas ela saiu pra trabalhar com produção de videogame e eu liguei pra ele na hora: “Cara, tem que ser você”.

Caio: A Lua conhecia a minha banda pela internet, aí eu acabei conhecendo ela também, na época que a Venere tava surgindo, lançando os primeiros materiais. Nós começamos a conversar pela internet, fizemos amizade, eu convidei ela pra vir até a minha cidade e a gente começou a ter uma convivência. Quando a primeira baterista saiu da banda, eu fui a pessoa que mais se encaixou ali pelo contexto musical e de entrosamento com a banda.

TMDQA!: E como foi a trajetória musical de vocês antes da banda?

Caio: Eu sou músico desde os 11 anos de idade. Comecei com violão, bateria, depois baixo e guitarra, piano e canto. Eu entrei na banda como baterista, mas sou multi-instrumentista e toquei diferentes instrumentos nas diversas bandas anteriores. Além disso, eu tenho também um trabalho solo no meu alter ego chamado Caravaggio, onde eu sou compositor e vocalista.

Rey: Comecei meus estudos na música aos 13 anos, com o baixo. Depois, comecei a estudar canto, piano e guitarra. Desde então, tenho participado de diversos trabalhos e projetos musicais. Já me apresentei para mais de 10 mil pessoas ao lado de grandes referência da música brasileira como Badauí (CPM22), Digão (Raimundos), Pompeu (Korzus), entre outros. Também possuo minha carreira solo, com composições próprias, e já lancei cinco singles.

Ávila: Eu nasci numa casa muito musical, porque meu pai toca guitarra também. Ele não é músico profissional, mas gosta muito de música, então passei minha infância inteira escutando muito blues, rock, Beatles. O básico, né? Eu comecei tentando tocar bateria, depois baixo. Aos 12, comecei a tocar guitarra. Eu fiquei obcecado. Na pandemia, com o confinamento, eu tive muito tempo para desenvolver essa musicalidade. Passei dois anos inteiros tocando guitarra, que nem um louco. Depois da pandemia, a gente criou a banda. Foi mais ou menos isso.

Lua: Eu nunca tive ninguém músico na minha família. Minha mãe cantava em coro, mas o sonho dela era ser cantora e atriz. Ela chegou a passar na USP, em artes cênicas, mas desistiu quando eu nasci. Para eu existir. Então eu meio que concluí o que ela começou, como uma continuação do sonho dela. Na escola, eu encontrei um piano, num dia aleatório, achei muito legal e fui na diretoria pedir a chave. Comecei a praticar todo dia na escola, depois descobri um piano na Estação Tietê e minha avó me levava pra lá nos fins de semana, pra eu treinar. Foi meu primeiro instrumento. Eu me apaixonei. Depois veio o violão e o canto. Quando eu tinha uns 10, 11 anos, vi o filme do Queen e fiquei maluca. Eu queria ser o Freddie Mercury. Desde o começo, eu sempre soube onde eu queria chegar com a música. Foi por isso que eu e o Ávila nos conectamos tanto.

TMDQA!: E de onde veio toda essa paixão, toda essa garra?

Lua: Eu acho que é porque, desde muito nova, eu passei por dificuldades. Eu sentia muita angústia e não tinha onde deixar isso, então o piano era o lugar onde eu podia largar essas coisas. Foi minha obsessão. Era onde eu conseguia deixar minha alma. Eu não tinha outra escolha. Foi a coisa que me salvou, e eu fiz disso a minha vida. “Eu vou fazer a banda e vai dar certo”. E já tá dando certo. Sempre foi essa a mentalidade: apostar literalmente tudo. Toda a minha vida. Toda a minha alma.

TMDQA!: E como é o processo de composição de vocês?

Lua: Normalmente, quem escreve as músicas sou eu, as letras e as melodias. Eu levo pra banda e cada um vai dando suas ideias. São histórias de vida que eu trago e cada um da banda coloca a sua verdade. Mas tem esse core, o coração e a alma da música, que é o jeito que eu vivo, sinto e conto essas histórias.

TMDQA!: Vocês também começaram a carreira de maneira atípica, engajando uma fanbase nas redes sociais antes de lançar os primeiros trabalhos e fazer os primeiros shows. Como foi esse processo?

Ávila: Desde o começo, a gente tinha uma percepção de que se a gente não tivesse uma base de fãs que gostassem da gente, não ia ter ninguém pra ir no nosso show ou ouvir nossos lançamentos. Então foi uma questão de prospecção, pra não sairmos do zero. Tanto que no nosso primeiro show, em setembro de 2023, se não me engano, a gente conseguiu colocar 200 pessoas na casa. O nosso segundo show foi direto na rádio Kiss, no programa Kiss Club. Dava pra perceber que a banda estava começando. A gente evoluiu bastante nestes dois anos. Nosso terceiro show foi num festivalzinho de amigos e no quarto ou quinto show a gente já tava abrindo pro Capital Inicial. Então foi algo muito veloz.

TMDQA!: E como foi essa experiência?

Ávila: Eu nunca tive muito medo de palco, mas eram oito mil pessoas, né? Em comparação com as duzentas do primeiro show. Foi um baque. E a realização de um sonho, ao mesmo tempo. Ter um camarim próprio, conhecer pessoas importantes da música. E o mais legal foi que nessa época a gente tinha só três músicas lançadas, mas já tinha pessoas que conheciam a gente, lá em Recife. Isso mostra como esse poder da criação de conteúdo no começo foi importante. Mas o legal é que a gente também conseguiu não ficar caricato como uma banda da internet. Tem muita banda que fica só fazendo vídeo pro TikTok e esquece de fazer o que torna uma banda de verdade e que as pessoas levam a sério: fazer músicas e shows.

TMDQA!: Pra finalizar, pode me falar um pouco sobre a arte da capa do álbum?

Ávila: Tem duas amigas que trabalham com a gente, a Sofia, nossa produtora executiva, e a Maria Laura, nossa fotógrafa e diretora de arte. Foi ela que teve a ideia da capa, e que pensa a imagem da banda. A gente alugou uma hora numa casa lá na Mooca, um lugar bem vintage, e decidiu botar uma mesa cheia de coisas, como se fosse final de banquete, de rolê. E, sim, são cobras reais. O conceito do álbum é uma desconstrução do divino como coisa incrível, mostrando que o divino também é humano, e que o ser humano também tem algo divino.

Venere Vai Venus – Divino