
No turbilhão de lançamentos diários, clipes viralizando e artistas construindo suas personas online, é fácil cair na ilusão de que a vida no Music Business é feita apenas de holofotes e streams. Mas a verdade, é que por trás de cada hit, cada trilha sonora impactante e cada projeto artístico independente, existe uma complexa teia de “corres” invisíveis, de profissionais que dedicam suas horas e talentos em uma quantidade infinita de funções para sustentar não só a vida, mas também seus mais profundos desejos artísticos.
O que os trabalhadores da música estão fazendo quando não estão postando? Eles estão, como diz o ditado popular, ralando. E poucos personificam essa realidade com tanta maestria e resiliência quanto Ota Carvalho.
Ota é engenheiro de som, músico multi-instrumentista, compositor e produtor musical. Como sócio do estúdio e produtora Submarino Fantástico, participa da criação de áudio para grandes plataformas como Netflix, Discovery Kids, HBO e Cartoon Network, além de produzir discos para artistas como André Abujamra, Maglore, Josyara, Alzira E e Virgínia Rodrigues. Sua jornada é um exemplo de como a paixão pela arte, quando aliada a uma visão estratégica e uma dedicação incansável, pode se transformar em um ecossistema profissional robusto e multifacetado. São 24 anos de estrada com um portfólio que, por si só, já desmistifica qualquer ideia de que a vida na música é um caminho linear.
A sustentação da vida artística, para Ota, passa necessariamente pelo empreendedorismo. Em 2020, ele co-fundou o selo Pequeno Imprevisto ao lado do jornalista e pesquisador musical Eduardo Lemos. O nome já é poético e revelador: “Ideias, poesias, canções… Surgem como um pequeno imprevisto”. Mas por trás da poesia, há um propósito muito claro e pragmático: lançar e potencializar trabalhos autônomos e criativos. Este não é apenas um projeto de paixão; é uma estrutura de negócios com alcance global, consolidando atuação no Brasil, França, Inglaterra, Portugal, Moçambique e Itália. É o “corre” de gestão, curadoria e distribuição que permite que a criatividade de outros artistas, e a própria visão do selo, encontre seu público, gerando um fluxo que alimenta todo o sistema. “A criatividade salvará o mundo”, é um lembrete constante de que o propósito maior impulsiona o dia a dia do selo.
No entanto, a principal atuação de Otávio, e onde ele concentra boa parte de sua expertise técnica e anos de experiência, é no Submarino Fantástico. Com 12 anos de mercado e co-fundado com Ingo André, este estúdio e produtora de áudio é focado em inovação sonora. Pense em transformar roteiros em experiências auditivas imersivas: é isso que eles fazem. Mais de 1.000 projetos para TV, cinema, streaming, discos e publicidade já passaram pelas mãos da equipe, criando trilhas, canções originais, versões icônicas, sound design, foleys e até vozes originais. No Submarino Fantástico, Otávio e Ingo não estão apenas gravando sons; eles estão, como o próprio Ota pontuou, pensando na “textura do som, como quem pensa na textura de uma imagem”.
Além de estar presente nos bastidores, Ota é, antes de tudo, um músico. Como integrante de bandas como Vitrola Sintética e Čao Laru, e acompanhando nomes como Paulo Miklos e Gustavo Galo (principalmente como baixista), ele vive a experiência do palco, da composição e da criação artística em sua forma mais pura. É o equilíbrio entre o trabalho técnico, que sustenta o negócio, e a expressão artística, que alimenta a alma. A indicação ao Grammy Latino, três vezes entre 2015 e 2016, nas categorias de artista, compositor, engenheiro de gravação e mixagem, mostra que o seu “corre” técnico e artístico se entrelaçam e são valorizados em nível global.
A trajetória de Otávio Carvalho é um espelho para a realidade de muitos trabalhadores da música: a necessidade de ser flexível, de dominar diferentes habilidades e de enxergar oportunidades em diversas frentes. Ele não está apenas “fazendo música”; ele está construindo um legado, solidificando um negócio e pavimentando o caminho para que sua criatividade, e a de outros, possa florescer. O “corre” de Otávio é uma estratégia consciente para colaborar com a construção de um cenário musical plural e inovador.
Da próxima vez que você se deparar com uma trilha sonora impecável em sua série favorita, ou se encantar com um artista independente lançado por um selo com uma curadoria de peso, lembre-se: por trás dos holofotes, existe um exército de Otávios seja como engenheiros, músicos, produtores, empreendedores, educadores; que com seu trabalho incansável e muitas vezes invisível, fazem a magia acontecer. É esse “corre” diário, essa paixão transformadora em trabalho, que realmente move o Music Business e sustenta a arte em sua essência. E é uma história que merece ser contada, vista e celebrada, muito além das redes sociais.
Por falar em redes sociais, a maioria dos trabalhadores da indústria se vêem obrigados a compartilhar seus projetos em tempo real por ter esse movimento de imediatismo. Precisam ser vistos para fechar novos negócios, e isso vale para qualquer área. O que é totalmente compreensível, considerando os dias de hoje e como a forma de consumo vem mudando. Mas precisa ser aceito por todos? Ota, foi na onda reversa e deixou para compartilhar seus projetos feitos no primeiro semestre de 2025 em apenas um reels publicado semana passada. E fica o questionamento, tudo precisa mesmo ser compartilhado em tempo real? A resposta está na quantidade de projetos incríveis que ele compartilhou no reels. Confira aqui: https://www.instagram.com/reel/DM8L5RQRoV7/?igsh=MWtzdTVrZ2FveHMxYw==