Albuns rap internacional
Foto: Reprodução

Assim como no Brasil, o rap internacional vive um de seus anos mais criativos da década. Entre retornos históricos, projetos póstumos e investigações emocionais, 2025 tem mostrado que o gênero ainda é um campo aberto para a reinvenção e profundidade. Neste panorama, destacamos 10 discos que, até aqui, se sobressaíram não só pela qualidade técnica, mas pela coragem de avançar.

A lista vai de nomes consagrados como o duo Clipse, Tyler, The Creator e Raekwon, até vozes mais recentes que estão consolidando seu espaço, como McKinley Dixon e Little Simz. São discos que desafiam o ouvinte, abraçam a vulnerabilidade e mostram um rap em constante mutação.

Confira a seguir!

10. Aesop Rock – Black Hole Superette

Conhecido por sua densidade lírica e imaginação sem freios, Aesop Rock entrega talvez seu trabalho mais acessível até aqui – ainda que envolto em estranhezas. Produzido inteiramente por ele, Black Hole Superette parece ter sido gravado em um universo paralelo feito de rádios quebrados, caracóis assexuados e gelos que vendem em promoções cósmicas. Tudo soa propositalmente torto e esquisito, mas com uma ternura nostálgica que emociona.

Há uma delicadeza discreta por trás do caos sonoro. Faixas como “Movie Night” e “So Be It” são quase sussurros existenciais, enquanto “Unbelievable Shenanigans” encerra o disco como um abraço silencioso.

É um disco que exige escuta paciente e aberta. E recompensa com uma viagem afetiva, criativa e singular como poucas no rap atual.

9. Saba & No I.D. – From The Private Collection Of Saba And No I.D.

Este álbum soa como uma conversa entre gerações. Com produção quente e orgânica de No I.D., marcada por soul, jazz e funk empoeirado, Saba flui com naturalidade e sensibilidade, transformando temas banais em poesia cotidiana. Mesmo nas faixas mais leves, há uma observação atenta da vida ao redor.

A química entre os dois é evidente. Saba soa seguro e relaxado. As batidas respiram, os samples são bem encaixados e há uma leveza madura em cada faixa. From The Private Collection… é o tipo de disco que cresce a cada audição. Ele nunca grita por atenção, mas conquista pelo detalhe e pela elegância.

8. Mac Miller – Balloonerism

Lançado postumamente, Balloonerism desafia a tentação de ser interpretado apenas sob a sombra do luto. Apesar de ecoar estruturas e climas já vistos em Faces, o disco mostra um Mac Miller que seguia buscando novos caminhos, experimentando com arranjos excêntricos e atmosferas delicadas.

O álbum é um laboratório emocional. Mac alterna entre introspecção suave (“Funny Papers”) e caos sonoro (“Transformations”), equilibrando nostalgia, humor e angústia com sensibilidade rara.

Mesmo sem ser sua obra mais ousada, Balloonerism confirma o quanto Mac era plural, intuitivo e sincero. É mais uma janela aberta para a mente inquieta de um artista que nunca parou de se transformar.

7. billy woods – GOLLIWOG

GOLLIWOG é um álbum que parece emergir de um pântano, como se tivesse saído de um filme de terror do Jordan Peele. A produção, assinada por nomes como The Alchemist, EL-P e Preservation, constrói uma paisagem sonora claustrofóbica, que dilui qualquer conforto.

Cada faixa é um fragmento de uma cena de crime sem resolução. “Jumpscare” e “STAR87” definem o clima melancólio, enquanto “Misery” e “Waterproof Mascara” mergulham na exaustão emocional. É um disco difícil, abstrato, mas executado com maestria.

6. Raekwon – The Emperor’s New Clothes

Após oito anos de hiato, Raekwon volta com um disco maduro, cinematográfico e lapidado com a precisão que só um rapper do seu tamanho conseguiria . Se em The Wild ele já se afastava do Wu-Tang Clan em termos de sonoridade, aqui ele firma-se como cronista urbano atemporal, costurando ambição, lealdade e sobrevivência.

A produção é elegante e as colaborações são impecáveis: Nas, Ghostface, Method Man e o trio Griselda somam sem sobrecarregar o disco. Há espaço para reflexão, ostentação e também para a narrativa sobre as vivências nas ruas.

Com frases afiadas e beats enfumaçados, Raekwon entrega uma obra que respeita a tradição e atualiza sua assinatura. Um retorno à altura da lenda.

5. Tyler, The Creator – DON’T TAP THE GLASS

Lançado quase que “do nada”, DON’T TAP THE GLASS é um exercício de liberdade sonora. Curtinho, com 28 minutos, o disco mistura rap, eletrônica e groove dançante com uma estética quase de fliperama: cada faixa é uma fase, cada batida exige movimento e atitude.

Tyler, The Creator brilha ao brincar com suas personas, de Igor a Wolf Haley, enquanto explora a fluidez como essência artística. Enquanto há momentos que ele usa sua agressividade estilizada, o rapper também evoca nostalgia e sensualidade em faixas da obra.

Mais uma vez, Tyler transforma impulso criativo em conceito, mostrando DTTG não é só sobre som, mas é também sobre ritmo, corpo e liberdade de ser o que quiser.

4. McKinley Dixon – Magic, Alive!

Em 35 minutos, McKinley Dixon entrega um dos álbuns mais vibrantes e emotivos do ano. Não conhecia a fundo a obra dele e fui pego com uma grata surpresa. Misturando jazz, rap e soul, ele narra o luto pela perda de um amigo como quem transforma dor em festa.

A produção é rica e dinâmica, com instrumentos ao vivo, metais e flautas conduzindo faixas como “Sugar Water”, “Run, Run, Run Part II” e a gigantesca “Magic, Alive!”. Há momentos eufóricos, calmarias e transições que soam como ciclos emocionais completos.

Com rimas afiadas, convidados bem encaixados e um senso de estrutura raro, Dixon consolida seu disco como um dos mais criativos e sensíveis do rap atual.

3. Freddie Gibbs & The Alchemist – Alfredo 2

A sequência de Alfredo troca a névoa noturna do primeiro disco por uma paleta ensolarada e vibrante. Gibbs e Alchemist brilham em uma combinação de lirismo afiado e beats soul/jazz com cara de filme de verão.

As faixas são diversas: de reflexões pessoais (“I Still Love H.E.R.”) a rimas debochadas (“Lavish Habits”). JID e Anderson .Paak somam, e o disco flui como um cardápio bem equilibrado, sem excessos nem sobras. Mais do que repetir a fórmula do sucesso, Alfredo 2 a refina. É maduro e coeso, como era de se esperar quando dois gênios se unem.

2. Little Simz – Lotus

Depois de uma ruptura profissional e emocional, Little Simz retorna com um disco introspectivo, cru e multifacetado. Em Lotus, ela troca a grandiosidade de Sometimes I Might Be Introvert por uma abordagem mais humana, franca e real.

As faixas oscilam entre agressividade e fragilidade, passando por soul, jazz, rock e pós-punk. Momentos como “Hollow”, “Lonely” e a faixa-título são especialmente tocantes e até emocionais.

É um disco de transição, com altos e baixos, mas que acerta ao retratar a reconstrução como processo artístico. Simz segue sendo uma das vozes mais inquietas e corajosas da sua geração.

1. Clipse – Let God Sort Em Out

O retorno mais impactante do ano. Após 16 anos de hiato, Clipse volta com um disco conciso, denso e poderoso, produzido inteiramente por Pharrell Williams. É uma aula de química entre irmãos, com Pusha T afiado como sempre e Malice mais introspectivo e maduro.

As faixas equilibram caos e sofisticação. Participações de Kendrick Lamar, Tyler, Nas e Stove God Cooks somam, mas não ofuscam a dupla. A produção é ousada, com arranjos inesperados, samples absurdos e um clima de elegância meio ameaçadora.

Let God Sort Em Out não vive do passado ou do legado da dupla. É um disco que respeita a história, mas pisa firme no presente. Um clássico instantâneo.

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Felipe Mascari
Rap em Pauta com Felipe Mascari

A coluna que mergulha nas histórias, letras e batidas que estão redefinindo o cenário musical do Rap. Acompanhe de perto os lançamentos e a força das rimas que ecoam pelas ruas.

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