
“As pessoas estão prestes a ouvir, pela primeira vez, minha verdadeira voz de cantor”, confessa Nasri Atweh, em uma conversa com o TMDQA! na Casa AlgoHits, em São Paulo. Com três shows marcados no Brasil ao lado do MAGIC!, o frontman aproveitou a viagem para gravar um clipe com Maiara & Maraisa e fortalecer colaborações com artistas brasileiros em seu projeto solo.
Após mais de uma década como vocalista do grupo que estourou globalmente com “Rude”, Nasri vive uma fase de redescoberta artística. A faixa ultrapassou 4,5 bilhões de streamings, segundo o Songstats, que compila dados de diversas plataformas digitais. O Brasil, agora, funciona como base criativa para uma fase de testes, reinvenções e novas colaborações.
O compositor está no Brasil para uma curta turnê com o MAGIC! do quarto álbum Inner Love Energy, iniciada na sexta-feira (1º), em Brasília, com show no festival Capital Motoweek. No sábado (2), a banda passou por São Paulo, com apresentação no Tokio Marine Hall, e encerra o giro neste domingo (3), em Florianópolis, no John Bull. A nova visita marca o reencontro com o público brasileiro pouco mais de um ano após a última passagem da banda pelo país, que incluiu cidades como Ribeirão Preto, Belo Horizonte, Vitória, Salvador e também a capital paulista.
Aos 44 anos, longe da correria de agendas internacionais e compromissos ininterruptos, o canadense adota um outro ritmo. Fala com a tranquilidade de quem escolheu desacelerar para se reconectar consigo mesmo.
“Da primeira vez que vim ao Brasil, eu me sentia perdido. ‘Onde estou? Que horas é a passagem de som?’ Eu tinha uma música número um mundial e voava de país em país sem experimentar nada. Naquele tempo, minha esposa tinha acabado de engravidar. Tinha muita coisa acontecendo. Os filhos cresceram agora e estou aqui. Comecei a aprender a falar português. E estou apenas, não sei, tratando isso como um lugar para ir num ritmo mais lento”, conta.
Sertanejo & Aulas de Português
O lançamento de “Pra Sempre (Falei)”, em julho, ao lado da dupla Maiara & Maraisa, marca um ponto de virada na trajetória recente de Nasri. Mais do que a estreia no universo sertanejo, a parceria simboliza uma abertura concreta para novos territórios criativos. “Não tenho nenhuma conexão com a música sertaneja. Esta é minha primeira, e é louco como isso aconteceu”, conta, sobre uma colaboração que nasceu de forma totalmente espontânea.
A história é inusitada: “Tenho feito aulas de português. E minha professora tem outro aluno, o Julian [Lepick], que trabalha e administra a gravadora da Maiara & Maraisa. Ele perguntou: ‘o Nasri não teria interesse em colaborar com os nossos artistas?’ E eu só disse: vamos conversar. A gente acabou fazendo uma aula juntos, em que eu falava português e ele falava inglês. Os dois aprendendo a língua um do outro. E então eu comecei a escrever”, relembra. Dois meses depois, a música e o clipe já estavam no ar.
Gravada parcialmente em Los Angeles e finalizada no estúdio de Eduardo Pepato em Mairinque, a faixa teve produção dividida entre os dois artistas. A experiência sertaneja é apenas a ponta do iceberg de um projeto maior.
“Acho que vai acontecer um álbum em português”, deixando o suspense com convicção no ar. “Muitas pessoas estão entrando em contato. Coloquei esforço em aprender o idioma, mas também posso cantar e escrever. E não tenho medo de escrever em português.”
A entrevista foi conduzida quase toda em inglês, mas o cantor fez questão de arriscar frases em português para mostrar o que tem aprendido. Com boa pronúncia, admitiu que ainda apanha das conjugações irregulares. A surpresa vem logo depois: diz que nunca foi bom com idiomas, algo que, na prática, se revela bem questionável.
O entusiasmo é evidente quando descreve os próximos passos. “Estou fazendo música quase no estilo Drake cantando em português, com o meu lado R&B também. E soa muito legal.” Para um artista que sempre transitou entre gêneros, apesar de ser ‘tachado’ sempre como regueiro, o idioma virou um novo ponto de partida.
Momento de Transição
Quando questionado sobre equilibrar Magic! e sua carreira solo, Nasri hesita por um momento antes da confissão: “Posso fazer os dois? Não sei. Meio que gosto de fazer algo 100%”. É uma resposta que sintetiza o dilema criativo de um artista em transição, alguém que reconhece seus próprios desejos enquanto explora novas possibilidades. “Estou mais motivado pelos meus projetos solo agora”, admite, sem culpa.
Para ele, fazer parte de uma banda foi essencial, mas já não é uma necessidade. “O propósito de estar numa banda era viver essa experiência. Agora, posso cantar, dançar e ser um artista solo.”
O volume de composição e produção é impressionante: “Tenho cerca de 30 músicas saindo. Muitas músicas”. Mas não se trata de abandono, o grupo permanece como algo para a vida toda, com os integrantes sendo seus melhores amigos. A banda já está programando o próximo álbum, numa dinâmica que permite a Nasri explorar ambos os territórios artísticos simultaneamente, pelo menos por enquanto.
Essa liberdade se traduz em produtividade: cerca de 200 músicas finalizadas por ano e um histórico de colaborações com gigantes como Justin Bieber, Chris Brown, Shakira, Christina Aguilera e Lana Del Rey. Mas o que mais importa agora é tirar as próprias canções da gaveta. “Queria que as pessoas pudessem ouvi-las já. Elas precisam sair”, diz, com a urgência de quem sabe que criação, para ele, é uma necessidade.
Seu trabalho solo mergulha em uma sonoridade mais romântica: “uma mistura entre Babyface, Bob Marley e Jeff Buckley”, como ele define. “A vida é curta. E eu quero lançar essas músicas como eu mesmo.”
A Desconstrução do Personagem Reggae
Pouca gente sabe, mas Nasri viveu um dilema de identidade musical que acabou moldando sua carreira sob os olhos do mercado. “Magic é uma coleção de todas as nossas imaginações, e eu me tornei esse tipo de cantor de reggae, mas eu não era isso antes. Cinco minutos antes disso, eu era um cantor de R&B”, revela. A fala expõe a complexidade de uma trajetória construída sobre camadas de referências e papéis assumidos ao longo do tempo. Essa dualidade não foi construída por acaso. É o reflexo de um artista que sempre transitou entre gêneros, mas que acabou associado a uma imagem única, cristalizada pelo sucesso comercial.
“Não somos uma banda de reggae. Apenas temos músicas de reggae”, afirma Nasri, quebrando o rótulo que acompanha o grupo desde o sucesso global de “Rude”. Fundado em 2012, o Magic!, que soma mais de 13,5 milhões de ouvintes mensais apenas no Spotify, mantém sua formação com Nasri (vocal e guitarra), Mark Pellizzer (guitarra e teclado) e Ben Spivak (baixo), e evoluiu tecnicamente ao longo de quatro álbuns de estúdio.
No mais recente, “Inner Love Energy”, lançado em abril de 2024, a banda reafirma sua versatilidade com faixas como “I’m Rich”, que chegou à sexta posição entre as músicas pop internacionais mais tocadas nas rádios brasileiras pouco após ser lançada, segundo o Crowley Charts.
Já “Good Feeling About You” se desdobrou em dois clipes distintos. O primeiro, com cenas da última visita da banda ao Brasil, trouxe registros dos músicos nas paisagens locais do Espírito Santo. A segunda versão, gravada com trechos em português em parceria com o grupo de pagode Akatu e o rapper FBC, teve produção no estúdio Sonastério, em Belo Horizonte.
O Peso do Mundo Real
Por trás da criatividade efervescente, há um artista que carrega silêncios mais profundos. De origem palestina, Nasri lida diariamente com o impacto emocional dos conflitos no Oriente Médio: “Tenho minhas manhãs e as pessoas podem saber ou não, mas minha família é da Palestina. Então, para mim, às vezes não acordo querendo lançar essas músicas felizes. E isso está me atrasando um pouco porque me sinto culpado. Por ter essa liberdade. Mas ao mesmo tempo, toda minha família na Palestina diz: ‘estamos tão orgulhosos de você, continue’.”
Essa tensão entre o que sente e o que cria não o transforma em um artista político, e ele deixa isso claro. “Ainda quero ser o entertainer que acho que sou. Não quero ser um entertainer político. Já disse isso para as pessoas um milhão de vezes.”
O que realmente o motiva são as canções de amor e a busca por parcerias que ampliem sua expressão musical. “Estou sempre explorando o mundo, tentando encontrar pessoas diferentes para colaborar. Sinto que minha voz soa muito bem com uma mulher cantando. Existem muitos duetos românticos que eu poderia fazer.”
A colaboração com Maiara & Maraisa é um marco nesse novo momento e, segundo Nasri, apenas o início de uma fase mais aberta a conexões internacionais. “É apenas o início das diferentes oportunidades que estão surgindo para mim”, afirma. Ao mesmo tempo, reconhece que essa busca ainda está em construção. “Também sinto que ainda não encontrei as parcerias certas no mundo para promover minha música”, diz, não como crítica, mas como quem enxerga um horizonte amplo e ainda em expansão.
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