Ozzy Osbourne se apoiando em microfone
Foto de Ozzy Osbourne via Shutterstock

Poucos momentos na música são tão marcantes quanto os últimos atos de um artista. Quando um músico se despede da vida deixando um disco recém-lançado ou após uma grande apresentação, sua obra parece ganhar um significado ainda mais especial para quem o acompanhou ao longo dos anos.

Mesmo diante da fragilidade física, alguns artistas decidiram seguir em frente, encarando o palco ou o estúdio com a força que ainda lhes restava. Os discos lançados nesses momentos soam muitas vezes como confissões, expondo em registros íntimos suas reflexões finais sobre a vida. Já os shows acabam reverberando como despedidas, mesmo quando essa não era necessariamente a intenção.

Esses atos finais dizem muito sobre o vínculo entre o artista e sua arte: é como se, conscientes ou não, esses músicos estivessem deixando uma última mensagem, mantendo viva a conexão com aqueles que sempre os admiraram.

Na lista abaixo, relembramos cinco músicos que, pouco antes de partir, lançaram discos ou realizaram turnês que foram verdadeiros marcos na vida de seus fãs!

5 artistas que entregaram seus últimos atos antes de morrer

Ozzy Osbourne

A ficha ainda está caindo, mas na última terça-feira, 22 de julho, o mundo se despediu do lendário Ozzy Osbourne. Parece inacreditável, mas o músico faleceu aos 76 anos de idade, menos de 3 semanas depois de ter feito sua histórica despedida dos palcos.

No dia 5 de julho, o Villa Park em Birmingham, na Inglaterra, recebeu o evento histórico Back to the Beginning, onde Ozzy e sua banda Black Sabbath realizaram suas últimas apresentações. Além disso, foram homenageados durante todo o dia, com performances de nomes como Alice in Chains, Pantera e Metallica tocando clássicos de suas carreiras.

Na ocasião, os fãs de Osbourne tiveram a oportunidade de ver o músico apresentando 9 músicas: “I Don’t Know”, “Mr. Crowley”, “Suicide Solution”, “Mama, I’m Coming Home” e “Crazy Train” com sua banda de apoio formada por Zakk Wylde (guitarra) Mike Inez (baixo), Tommy Clufetos (bateria) e Adam Wakeman (teclados) e depois “War Pigs”, “N.I.B.”, “Iron Man” e “Paranoid” em sua reunião com Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward.

David Bowie

O disco Blackstar, lançado por David Bowie em 8 de janeiro de 2016, no dia em que ele completou 69 anos de idade, se tornou um presente de despedida para os fãs já que o icônico músico faleceu apenas dois dias após o seu aniversário e o lançamento do álbum por conta de um câncer.

A obra foi gravada em segredo na cidade de Nova York com seu coprodutor de longa data Tony Visconti e um grupo de músicos de jazz locais. Mais experimental do que seu antecessor, The Next Day (2013), Blackstar combina art rock atmosférico com influências modernas de jazz e até referências contemporâneas como Kendrick Lamar e Death Grips.

O disco também se destacou por suas letras, que abordam temas como sofrimento, a morte e o lado pesado da vida. Além de toda a honestidade da voz de Bowie, o músico em muitos momentos usou a palavra falada para conversar com o ouvinte em seu novo trabalho.

Após seu lançamento, Blackstar foi recebido com sucesso comercial, liderando as paradas de diversos países – tanto que se tornou o único álbum de David Bowie a liderar a Billboard 200 dos EUA. O disco ainda ganhou três prêmios Grammy em 2017 e é difícil não ouvi-lo pensando que David sabia que estava se despedindo.

Leonard Cohen

Leonard Cohen também entregou um último ato marcante antes de partir. O influente músico e poeta canadense lançou em 21 de outubro de 2016, apenas 17 dias antes de falecer, seu décimo quarto disco de estúdio You Want It Darker, no qual fez reflexões sobre a morte e Deus.

Gravado de forma intimista na sala de estar de sua casa em Los Angeles, o álbum foi produzido enquanto Cohen enfrentava uma série de problemas de mobilidade, que surgiram após uma extensa turnê entre 2008 e 2013. O álbum se destacou por sua força lírica e pela sonoridade marcada pelo blues.

Em uma entrevista no início do mês do lançamento, Cohen disse que “estava pronto para morrer” e só esperava que “não fosse muito desconfortável”. A declaração soou como uma previsão de sua despedida, que viria pouco tempo depois.

You Want It Darker foi recebido com aclamação unânime da crítica e ganhou o Grammy de Melhor Performance de Rock em janeiro de 2018. Foi o último álbum de Cohen lançado durante sua vida, antecedendo o disco póstumo Thanks for the Dance, que chegou em novembro de 2019 como uma despedida definitiva.

Lemmy Kilmister (Motörhead)

A Motörhead 40th Anniversary Tour, realizada em 2015, acabou se tornando não só uma celebração das quatro décadas do Motörhead, como também a despedida definitiva de Lemmy Kilmister, que faleceu em 28 de dezembro daquele ano, pouco após o fim da turnê.

Mesmo enfrentando problemas de saúde graves que não foram divulgados aos fãs, Lemmy continuou liderando o Motörhead até o último show da turnê, que aconteceu em 11 de dezembro em Berlim. A turnê mundial promoveu Bad Magic, vigésimo terceiro álbum de estúdio da banda britânica e o último de material totalmente inédito.

Logo após o falecimento de Lemmy, o baterista Mikkey Dee resumiu o sentimento até mesmo da própria banda sobre essa “coincidência”:

“Ele estava terrivelmente magro. Ele gastou toda a sua energia no palco e depois ficou muito, muito cansado. É incrível que ele tenha conseguido tocar, que ele tenha conseguido terminar a turnê pela Europa. Foi há apenas 20 dias. Inacreditável.”

Um fim heróico!

Renato Russo (Legião Urbana)

O disco A Tempestade, lançado pela Legião Urbana em 20 de setembro de 1996, se tornou a despedida melancólica de Renato Russo. Considerado um dos mais influentes da música brasileira, o artista faleceu apenas três semanas depois do lançamento da obra, que foi gravada em meio a uma de suas recaídas.

Por conta de sua fragilidade, Renato gravou apenas as vozes-guia das faixas, sem retornar para registrar as versões finais, e todo o processo de gravação foi um pouco tenso. O músico quase não compareceu aos estúdios, acompanhando boa parte da produção à distância, em casa, e ainda reprovava com frequência o trabalho feito por seus companheiros no estúdio.

Nas letras introspectivas, que foram acompanhadas pelos vocais fracos e debilitados de Renato e arranjos tristes, o músico aborda temas como perda, pessimismo, tristeza, solidão e morte – uma despedida que ajuda a mostrar que nem sempre o fim é tranquilo, mas que a alma do artista sempre irá precisar de arte.