Se você acompanha mais de perto a trajetória de Alok, sabe que o DJ brasileiro não tem medo de usar sua influência para divulgar seus ideais. Agora, o artista está trazendo ao centro do debate a urgência de preservar o elemento humano na arte com o movimento Keep Art Human (Mantenha a Arte Humana).
A iniciativa ganhou destaque ao ser encenada no palco do Coachella deste ano, quando, no início de sua apresentação, apareceu a frase “this is not A.I.” (“isso não é inteligência artificial”) em letras garrafais nos telões.
Para reforçar a mensagem, o espetáculo contou com mais de 40 dançarinos da trupe Urban Theory, criando coreografias sincronizadas e mecânicas, acompanhadas por projeções, lasers, fumaça e pirotecnia – tudo planejado para induzir a dúvida: coreografia humana ou tecnologia?
Em coletiva de imprensa (via CNN Brasil), Alok comentou:
Teve gente que assistindo ainda achava que era IA, ou alguma computação gráfica. Quando a gente prova que é capaz de fazer uma coisa ainda mais legal que a IA, a gente pode vir com esse manifesto. Como eu sempre uso tecnologia na minha carreira, eu tenho propriedade para falar disso.
O manifesto, que você lê na íntegra ao fim da matéria, reafirma o respeito à tecnologia, mas define limites bem claros: “Nenhuma inteligência artificial é capaz de capturar completamente a emoção que guia o traço de um pincel, o movimento de uma dança, o erro de uma tentativa.”
A estreia nacional do movimento ocorreu em São Paulo, no dia 28 de junho, na Arena Mercado Livre Pacaembu, durante o show da turnê Aurea. Mais de 30 mil pessoas assistiram a um espetáculo de cerca de três horas que reuniu 45 dançarinos, 50 lasers e 1.080 drones, estabelecendo um recorde latino‑americano.
Ainda na coletiva, Alok sintetizou:
Para você fazer arte, precisa de alma. Não trata a tecnologia como inimiga, mas como aliada. É um momento de resistência, de se posicionar. Nós, artistas, temos que fazer a manutenção da cultura. […] Como sempre uso tecnologia a favor na minha carreira, tenho propriedade para falar.
Keep Art Human
O espetáculo é estruturado em duas frentes: na primeira parte, Alok executa seu set em uma plataforma ladeada por grandes mãos prateadas, acompanhado por projeções sofisticadas e performances. Na segunda parte, ele mergulha na plateia, interagindo diretamente com o público, numa imersão sensorial que combina música, dança, drones e ancestralidade, com participação de artistas indígenas do movimento “O Futuro É Ancestral”.
A turnê “Keep Art Human” tem ambições globais: além de SP, estão confirmadas datas na Itália, Romênia e outras cidades da América Latina. Logo abaixo, você pode ler o manifesto de Alok sobre o projeto Keep Art Human, que se destaca pela importância no contexto atual.
Viva a arte humana!
Manifesto de Alok
KEEP ART HUMAN
A arte é a expressão da alma.
Entre o ruído e o silêncio das máquinas, ela nos lembra que ainda choramos, ainda sonhamos, ainda dançamos.
A alma é singular, incontrolável, imprevisível.
Não tem forma, não tem código e não depende de atualizações.
Ela é o tremor da mão que cria, o coração acelerado que se expressa, as veias que pulsam com a urgência de contar histórias.
Nenhuma inteligência artificial é capaz de capturar completamente a emoção que guia o traço de um pincel, o movimento de uma dança, o erro de uma tentativa.
Keep Art Human é um convite para celebrar a arte de viver, e mostra que a vida não é um algoritmo, é uma representação de nós mesmos — imperfeitos, contraditórios, humanos.
Alok e Urban Theory erguem um manifesto em meio a luzes e movimentos, amplificando as vozes daqueles que ainda acreditam na arte como um ato de existência.
Keep Art Human não rejeita a tecnologia: valoriza a alma por trás da criação, potencializando nossas ações.
Drones, luzes e ferramentas digitais são instrumentos incríveis para encantar as pessoas, desde que guiados pela emoção humana, e não por inteligências artificiais ou quaisquer outras reproduções sintéticas da nossa sensibilidade criativa.
Esses recursos se unem não para ofuscar a arte, mas para iluminá-la, fazendo da tecnologia uma aliada, não uma substituta.
Este é o nosso manifesto vivo: a revolução não é digital, é humana.
Enquanto houver alma, haverá arte. E onde houver arte, existirá humanidade para contar sua própria história.
Keep Art Human é uma reflexão sobre uma verdade inquestionável: se existe algo a ser copiado é porque antes foi vivido.
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