Faixa a Faixa: os contrastes de "HIT ME HARD AND SOFT", novo disco de Billie Eilish

No novo disco "HIT ME HARD AND SOFT", Billie Eilish não foge de temas profundamente pessoais e entrega seu álbum mais confessional. Mergulhe na obra!

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Reprodução/Instagram

Convidando-nos a conhecer um lado mais sincero e íntimo em suas composições, três anos após o lançamento de seu último álbum de estúdio, Billie Eilish lançou recentemente seu novo projeto HIT ME HARD AND SOFT, demonstrando mais uma vez razões suficientes para quebrar inúmeros recordes e acumular comentários positivos de público e crítica.

Apresentando 10 faixas em pouco mais de 40 minutos, a artista mergulha em letras com as quais muitos podem se relacionar, envolvendo temas que foram atrelados ao seu nome durante os últimos anos e/ou desde ao início de sua carreira.

Ao lado dela, Finneas, seu irmão e exímio produtor/co-autor, entrega o toque necessário para transformar a experiência do ouvinte na mais imersiva possível.

Neste especial, vamos destrinchar HIT ME HARD AND SOFT em um Faixa a Faixa, mergulhando nos detalhes de cada uma das canções do novo álbum. Confira a seguir!

Faixa a Faixa: “HIT ME HARD AND SOFT”

“SKINNY”

Logo na primeira faixa da produção, Billie toma as rédeas ao cantar sobre críticas constantes às quais a jovem de 22 anos é submetida de tempos em tempos: a visão do público de sua aparência física.

People say I look happy / Just because I got skinny / But the old me is still me and maybe the real me / And I think she’s pretty [As pessoas dizem que eu pareço feliz / Só porque eu estou magra / Mas a velha eu ainda sou eu e talvez a eu real / E eu acho ela bonita]

A verdade é que Billie nunca preencheu um padrão convencional na indústria musical, e isso vai desde a arte que produz até seu estilo de vestimenta e aparência. Em músicas de seu segundo álbum Happier Than Ever (destaques para as canções Not My Responsibility” e OverHeated”) e entrevistas para veículos, ela sempre foi aberta a comentar sobre o tópico.

Em “SKINNY”, ela reflete mais uma vez sobre estas questões e ainda canta visando a exposição pública e fama:

And the internet is hungry for the meanest kinda funny / And somebody’s gotta feed it [E a internet está faminta para o tipo de comédia mais cruel / E alguém tem que alimentá-la]

Por fim, Eilish finaliza a canção se referindo a um amor que se esvaiu. Podemos relacionar este final com o seu relacionamento público mais recente com o também cantor-compositor Jesse Rutheford (The Neighbourhood), com quem Billie namorou desde o fim de 2022 até o início de 2023:

I, I nеver did you wrong (Never did you wrong) / And my (Oh), my patiеnce is gone (Is gone) / And I (I), I never did you wrong (You) / I, I loved you for so long (Hmm) [Eu, eu nunca errei contigo (Nunca errei contigo) / E a minha, minha paciência se foi (Se foi) / E eu, eu nunca errei contigo / Eu, eu te amei por tanto tempo]

“LUNCH”

Se colocando em um lado totalmente contrário ao da primeira faixa, temos uma canção dançante que acompanha um instrumental totalmente vicioso. Em “LUNCH”, vemos o primeiro relato público da artista sobre sua sexualidade e desejo por outras mulheres em uma de suas canções:

I could eat that girl for lunch / Yeah, she dances on my tongue / Tastes like she might be the one [Eu poderia almoçar essa garota / É, ela dança na minha língua / Tem gosto de que pode ser a escolhida]

Billie foi capa da edição do mês de maio da revista Rolling Stone dos EUA e, na entrevista, conversou melhor sobre a questão:

Estive apaixonada por garotas durante toda a minha vida, mas simplesmente não entendia. Eu nunca planejei falar sobre minha sexualidade, em um milhão de anos. É realmente frustrante para mim que isso tenha surgido.

Aliás, um clipe foi lançado para esta música, e é muito admirável ver o apoio e orgulho dos fãs em ver a artista expor mais sobre o tema com trechos como este:

She’s takin’ pictures in the mirror / Oh my God, her skin’s so clear / Tell her, “Bring that over here” / You need a seat? I’ll volunteer / Now she’s smilin’ ear to ear / She’s the headlights, I’m the deer [Ela está tirando fotos no espelho / Ai meu Deus, a pele dela é tão clara / Falo pra ela, ‘Traz isso aqui’ / Você precisa de um assento? Eu me voluntario / Agora ela sorri de orelha a orelha / Ela é o farol, eu sou o veado’]

“CHIHIRO”

Fortemente esperada pela sua base fiel de fãs, a faixa que faz referência ao filme A Viagem de Chihiro (Spirited AwaySen to Chihiro no Kamikakushi) é um dos destaques do álbum. Sensações de incerteza constantes, angústias e um amor tirado do eu-lírico são pontos a serem destacados na produção de aplaudir a dupla de irmãos Billie e Finneas.

Saw your seat at the counter when I looked away / Saw you turn around, but it wasn’t your face / Said, “I need to be alone now, I’m takin’ a break” / How come when I rеturned, you were gonе away? [Vi seu assento no balcão quando olhei pro outro lado / Vi você se virando, mas não era seu rosto / Disse, ‘Preciso estar sozinha agora, vou tirar um tempo’ / Como é que quando eu voltei, você sumiu?]

Cativante, “CHIHIRO” pode ser apontado como um dos melhores lançamentos do ano até então.

 Open up the door, can you open up the door? / I know you said before you can’t cope with any more / You told me it was war, said you’d show me what’s in store / I hope it’s not for sure, can you open up the door? [Abra a porta, você pode abrir a porta? / Eu sei que você disse antes que não consegue mais lidar / Você me disse que era guerra, disse que me mostraria o que estava por vir / Espero que não seja certeza, você pode abrir a porta?]

“BIRDS OF A FEATHER”

Com uma batida cativante, acordes de um violão que aparecem para suavizar e tornar a canção extremamente adorável, aqui vemos uma obra que retrata um amor eterno, o qual vai além da morte.

I want you to stay / ’Til I’m in the grave / ’Til I rot away, dead and buried / ’Til I’m in the casket you carry / If you go, I’m goin’ too, uh [Eu quero que você fique / Até eu estar na cova / Até eu apodrecer, morta e enterrada / Até eu estar no caixão que você carrega / Se você for, eu vou também]

Billie retrata um eu-lírico que não tem mais controle de seus sentimentos na canção, que inclusive recebeu um snippet em um teaser para a terceira temporada da série Heartstopper, produzida pela Netflix.

Vale lembrar que a expressão “birds of a feather” tem uma tradução ótima, mas muito menos poética no português: “farinha do mesmo saco”. No inglês, entretanto, a expressão é usada em um contexto mais positivo, para falar sobre alguém com experiências semelhantes.

Birds of a feather, we should stick together, I know / I said I’d never think I wasn’t better alone / Can’t change the weather, might not be forever / But if it’s forever, it’s even better [‘Birds of a feather’, devemos ficar juntas, eu sei / Eu disse que eu nunca pensaria que não estaria melhor sozinha / Não dá pra mudar o clima, pode não ser pra sempre / Mas se for pra sempre, é melhor ainda]

“WILDFLOWER”

Completando a primeira parte do álbum, temos uma faixa com composição forte e que pode fazer alusão a uma experiência real vivida por Billie Eilish.

“WILDFLOWER” traz uma letra que demonstra a artista confortando uma amiga após o término de um relacionamento e, tempos depois, engatando um relacionamento com o ex dessa amiga, enfrentando dilemas pessoais ao experienciá-lo.

She was cryin’ on my shoulder / All I could do was hold her / Only made us closer until July / Now I know that you love me / You don’t need to remind me / I should put it all behind me, shouldn’t I? [Ela estava chorando no meu ombro / Tudo que eu poderia fazer era consolá-la / Só nos deixou mais próximas até Julho / Agora que eu sei que você me ama / Você não precisa me lembrar / Eu deveria deixar tudo isso pra trás, não deveria?]

O título da música pode ser uma alusão à Wildflower Cases, marca fundada por Devon Lee Carlson, que já havia namorado o agora ex-namorado de Billie citado logo ao início do especial, Jesse Rutherford.

But I see her in the back of my mind all the time / Like a fever, like I’m burning alive, like a sign / Did I cross the line? [Mas eu a vejo no fundo da minha mente o tempo todo / Como uma febre, como se estivesse queimando viva, como um sinal / Será que cruzei uma linha?]

“THE GREATEST”

Com forte crescente instrumental e vocais angelicais, THE GREATEST” inicia a segunda metade de HIT ME HARD AND SOFT surpreendendo o ouvinte com uma obra sobre a busca de ser suficiente ao seu parceiro.

And you don’t wanna know / How alone I’ve been / Let you come and go / Whatever state I’m in, ah [E você não quer saber / O quão sozinha tenho estado / Deixei você ir e vir / Qualquer estado em que eu esteja]

Complexidades do amor, sacrifícios e falta de reciprocidade são transmitidos palavra por palavra nessa faixa, puxando um ar sentimental e melancólico sob a frustração de se esforçar para ser bem vista em um relacionamento, mas falhando graças à desatenção do outro lado da moeda.

Man, am I the greatest / My congratulations / All my love and patience / All my admiration / All the times I waited / For you to want me naked / Made it all look painless / Man, am I the greatest [Cara, eu sou a melhor / Meus parabéns / Todo meu amor e paciência / Toda minha admiração / Todas as vezes que eu esperei / Pra você me querer pelada / Fez tudo parecer indolor / Cara, eu sou a melhor]

“L’AMOUR DE MA VIE”

Em constraste com o nome da música, Billie canta sobre o lado contrário do que foi apresentado na faixa anterior. Aqui vemos uma jovem madura dissertando sobre um namoro medíocre, nos ajudando a visualizar as várias facetas do mesmo.

Did I break your heart? / Did I waste your time? / I tried to be there for you / Then you tried to break mine [Eu parti seu coração? / Eu desperdicei seu tempo? / Eu tentei estar ali pra você / E aí você tentou partir o meu]

Não é demais pedir desculpas a alguém que a fez se sentir presa ou sufocada no relacionamento, e o eu-lírico reflete bem sobre como o seu ex-parceiro não entregava reciprocidade dentro da relação.

It isn’t asking for a lot for an apology / For making me feel like it’d kill you if I tried to leave / You said you’d never fall in love again because of me / Then you moved on immediately [Não é pedir muito um pedido de desculpas / Por fazer com que eu sentisse que te mataria se eu tentasse sair de perto / Você disse que nunca mais iria se apaixonar por minha causa / E aí seguiu em frente imediatamente]

“THE DINER”

Mais uma vez podemos entrelaçar uma das obras do projeto com a vida pessoal da artista, lembrando da vez em que Billie encontrou um invasor em sua casa.

A oitava música instiga temas de obsessão e desespero. A letra mostra um indivíduo problemático que ultrapassa limites apenas para estar com seu “amante”, enquanto luta contra a rejeição e até mesmo problemas legais.

I’m here around the clock / I’m waitin’ on your block (I’m waitin’ on your block) / But please don’t call the cops / They’ll make me stop / And I just wanna talk (I just wanna talk) [Eu estou aqui o tempo todo / Estou esperando no seu bloco (Estou esperando no seu bloco) / Mas por favor não chame a polícia / Eles vão me fazer parar / E eu só quero conversar (Só quero conversar)]

Embora Eilish esteja assumindo a perspectiva de um fã enlouquecido, é possível que THE DINER” também possa ser interpretada como a própria Billie sendo obsessiva por um amante — dado o contexto do restante do álbum.

I memorized your number, now I call you when I please / I tried to end it all, but now I’m back up on my feet / I saw you in the car with someone else and couldn’t sleep / If somethin’ happens to him, you can bet that it was me [Eu decorei o seu número, agora te ligo quando quiser / Eu tentei acabar com tudo, mas agora estou de pé novamente / Eu te vi no carro com outra pessoa e não consegui mais dormir / Se algo acontecer com ele, pode apostar que fui eu]

Além disso, um número pode ser ouvido ao fim da faixa – (310–807–3956) – e esse mesmo número pode ser encontrado no site de Billie. Ao ligar para o contato +1 (310) 807–3956 (chamada internacional), uma gravação automática pode ser ouvida:

Olá? Olá? Espere, não consigo ouvir você… / Olá? Olá? Espere, deixe-me ligar de volta.

Quando esse contato for salvo pelo WhatsApp, você poderá preencher um questionário para receber mensagens automáticas da equipe da artista. Mais uma jogada genial de marketing, né?

“BITTERSUITE”

Escolhida por alguns portais como a pior faixa do álbum, BITTERSUITE” pode facilmente ser música referência para o foco em contrastes dentro do projeto.

Dividida em duas partes, tornando-a uma experiência auditiva um tanto quanto peculiar, a canção traz Eilish transitando entre não querer se apaixonar e estar pronta para um próximo desafio em sua vida amorosa.

But I gotta be careful / Gotta watch what I say / God, I hope it all goes away / ’Cause I can’t fall in love with you / No matter how bad I want to [Mas eu preciso tomar cuidado / Preciso prestar atenção no que digo / Deus, espero que tudo desapareça / Porque eu não posso me apaixonar por você / Não importa o quanto eu queira]

Aqui, é interessante refletir a respeito do conflito como emoção clara na música, pois ela sabe que precisa se proteger e ir com calma – entretanto, se esforça para idealizar e vivenciar um relacionamento saudável.

We can be discrete / But I’ve been overseas / And I’ve been havin’ dreams / L’amour de ma vie / Love so bittersweet, mm [Nós podemos ser discretos / Mas eu estive do outro lado do mar / E eu tenho tido sonhos / L’amour de ma vie / Um amor tão agridoce]

“BLUE”

A última música é uma versão reformulada de duas canções inéditas/não-lançadas de Billie: “True Blue”, que Eilish e seu irmão, produtor e co-colaborador Finneas gravaram quando tinham 14 e 18 anos, e “Born Blue”, que seria apresentada como faixa seis do álbum de 2021, Happier Than Ever, mas Billie “simplesmente não conseguia a entender”.

Aqui, vale também apontar que “blue”, em inglês, é um termo comumente utilizado para se referir ao sentimento de tristeza – então, quando ela diz “I’m so blue”, trata-se de uma expressão para falar sobre essa lamentação.

I try to live in black and white, but I’m so blue / I’d like to mean it when I say I’m over you / But that’s still not true (Blue) / And I’m still so blue, oh [Eu tento viver em preto e branco, mas eu sou tão azul / Eu gostaria de querer dizer isso quando eu digo que te superei / Mas ainda não é verdade (Azul) / E eu ainda sou tão azul]

Referenciando todas as demais faixas, o final de HIT ME HARD AND SOFT nos entrega uma interpretação sobre a melancolia constante de maneira emocionante.

You were born reachin’ for your mother’s hands / Victim of your father’s plans to rule the world / Too afraid to step outside / Paranoid and petrified of what you’ve heard [Você nasceu buscando as mãos de sua mãe / Vítima dos planos do seu pai de dominar o mundo / Com medo demais para pisar do lado de fora / Paranoica e petrificada de medo do que ouviu]

O último verso, entretanto, nos deixa com um gostinho de quero mais:

But when can I hear the next one? [Mas quando é que posso ouvir o próximo?]

Por isso, existem rumores e teorias criadas pelos fãs de Billie Eilish de que o projeto que acabamos de destrinchar neste especial poderia ser na realidade um álbum duplo. Para descobrirmos se é verdade, parece que teremos que esperar!

Por enquanto, ouça HIT ME HARD AND SOFT logo abaixo.