Assucena fala ao TMDQA! sobre visibilidade trans e abre o projeto "Por do Sol" no Rio de Janeiro

Neste sábado (18), Assucena abrirá o projeto “Por do Sol” na Lagoa, no Rio de Janeiro, apresentando as canções de seu primeiro álbum solo, "Lusco-Fusco".

Assucena abre o projeto Por do Sol
Crédito: divulgação

Neste sábado (18), a cantora Assucena abrirá o projeto “Por do Sol”, da Casa Museu Eva Klabin, localizada na Lagoa, Zona Sul do Rio de Janeiro, apresentando as canções inéditas presentes em seu primeiro álbum solo, Lusco-Fusco (2023).

Com ingressos a partir de R$25, a performance da artista será realizada ao lado do músico multi-instrumentista Rafael Acerbi e o repertório vai incluir faixas como “Menino Pele Cor de Jambo”, “Fluorescente”, “Nu”, “Manhoso Demais” e “A última, quem sabe” em arranjos instrumentais com improvisos e baseados no Jazz.

O projeto “Pôr do Sol” tem como objetivo enaltecer vozes do novo cenário da música brasileira e Assucena foi escolhida para inaugurar a proposta que cria uma atmosfera intimista de fim de tarde tropical.

Nascida em Vitória da Conquista, na Bahia, Assucena já fez parte do renomado trio As Baías e suas composições carregam uma reflexão sobre o Brasil contemporâneo, valorizando afetos e expondo desilusões de pessoas trans e travestis.

Antes do show Fluorescente no Rio de Janeiro, o TMDQA! conversou com a cantora para falar sobre a apresentação, visibilidade trans, inspirações, carreira e mais. Confira o resultado da conversa logo abaixo!

TMDQA! Entrevista Assucena

TMDQA!: O projeto “Por do Sol” carrega a missão de revelar novas vozes do cenário musical brasileiro e você foi escolhida para abrir a série de apresentações que virão. O que podemos esperar dessa noite que tem tudo para ser marcante tanto para você enquanto artista como para o seu público?

Assucena: É uma feliz coincidência que esse projeto é o pôr do sol [porque] o nome do meu primeiro disco solo, que eu acabei de lançar, se chama “Lusco-Fusco”, que também é um pôr do sol. É sobre o amanhecer e sobre o anoitecer, é sobre esses dois momentos de transição de estado. Então, é uma felicidade. É a primeira vez que eu faço essas canções com um músico, nesse formato intimista que a gente está preparando especialmente para a Casa Museu Eva Klabin. E está bonito. Enfim, é um momento especial, um momento de transição de estado [risos], no Rio de Janeiro ainda, uma das cidades mais lindas do mundo. Então, é uma a felicidade para mim poder fazer esse Lusco-Fusco ao lusco-fusco.

TMDQA!: Dá para adiantar alguns detalhes do seu show na Casa Museu Eva Klabin? Além das canções do disco de estreia “Lusco-Fusco”, existem surpresas no repertório?

Assucena: Eu adiantei um pouquinho nessa segunda questão mas eu sempre trago nos meus shows algo da nossa tradição, da música popular brasileira. Sim, vai ter uma canção da Rita Lee que eu amo e que tem a ver com a linguagem do disco. E, de novo, é a primeira vez que a gente toca em um formato violão, guitarra e alguma coisa de VS, que é o que a gente chama de base.

TMDQA!: Sua trajetória artística vem sendo construída com muita dedicação e sucesso. Não à toa, você já foi indicada ao Grammy Latino por duas vezes e conquistou duas vitórias no Prêmio da Música Brasileira com o trio As Baías. O que vem pela frente? Quais os próximos passos que você quer dar?

Assucena: Eu acabei de lançar meu primeiro disco solo, é um disco muito recente, ainda mais se tratando de um disco independente, e um disco independente ele tem uma divulgação mais lenta. Então, ele é sempre uma novidade quando chega para as pessoas. Tem artistas que trabalham o disco independente exaustivamente por dois, três anos, e eu quero trabalhar por uns dois [anos]. Tem os clipes do disco pra fazer ainda, a gente está preparando o primeiro clipe do álbum e vão vir mais. Eu quero muito poder rodar com esse disco pelo Brasil, na América Latina, na Europa. Esses são os passos, [fazer] essa tour de Lusco-Fusco.

TMDQA!: A gente conhece a luta da população trans no Brasil e ainda falta muito quando pensamos na validação de seus direitos. O que você gostaria de falar sobre a causa? Qual reflexão você julga pertinente nesse momento?

Assucena: A causa pelos direitos políticos, civis da população trans é algo que me toca todos os dias, desde quando eu acordo até quando eu vou dormir. Porque a gente está falando de uma população que é extremamente marginalizada e a gente está chegando nos meses de Junho e Julho por conta do Dia do Orgulho LGBT, que é no final de Junho, essa pauta reacende, né? Essas discussões de forma mais vibrante, mas eu penso que isso tem que ser discutido sempre, porque a gente está falando de uma parcela da população que cria linguagem, que é propositora de cultura, propositora estética, e que foi muito silenciada.

Então, que bom que a gente está vendo eclodir muitos nomes não só no campo das artes, mas na academia da ciência e da política, o que é muito importante para a gente. Eu penso que a gente precisa desidealizar o que significa ser uma pessoa trans, porque ainda as pessoas olham dentro de uma idealização negativa, como se o ser trans fosse pecaminoso, fosse vinculado a algo errado, e não, não tem nada de errado, o que está errado é o preconceito, o que está errado é o pensamento. A gente precisa falar da causa trans com amor, com respeito, com dignidade e dizer que a gente tem muita coisa boa para oferecer, porque a gente foi muito silenciada. Então, as nossas dores, as nossas alegrias precisam ser contadas, em livros, em canções, em telas. É por isso que eu acordo todos os dias, para poder contar bem a minha história, a nossa história.

TMDQA!: Seguindo nessa importante temática: quais artistas trans da música o público deveria escutar? Quem merece a nossa atenção e não está sendo ouvido?

Assucena: Olha, eu vou dar duas indicações de quem está merecendo muito ser ouvida. A primeira é uma artista baiana que se chama Coral [você encontra ela também como “aocoral”], que está com um trabalho lindo, grande compositora e artista. A outra é a Ayô Tupinambá. Enfim, ela é uma mestra do canto e está vindo com seu primeiro disco solo, mas você já pode encontrar o trabalho da Ayô nas redes sociais, no Spotify, assim como o da Coral. Além de tudo, essas duas meninas têm grandes shows, cantam muito.

TMDQA!: Na estreia de sua carreira solo, você criou um show dedicado à saudosa Gal Costa. Que outros ícones da música brasileira te inspiram? Quem mais você enxerga com admiração na cena artística?

Assucena: Eu costumo dizer que Gal é minha escola, né? Além de grande inspiração, ela é minha escola. É a Gal quem me ensina e quem me ensinou, a como fazer um disco, por exemplo. Além de tudo tem toda a música brasileira, imagina! Sem falar dos tropicalistas, como Caetano [Veloso], como Gilberto Gil, Rita Lee. Inclusive, trago a música da Rita, a Rita Lee é uma um nome que me inspira profundamente. Outros nomes são a Elza [Soares] e a [Maria] Bethânia. A Elza foi a primeira artista que eu tive consciência da grandiosidade da música brasileira, foi quando eu escutei a Elza cantando “O Meu Guri” pela primeira vez, eu era adolescente.

E não parei, depois veio a Betânia, eu nas minhas dores de amor ouvindo Maria Bethânia. Eu amo a música brasileira, amo o que ela me traz, amo suas nuances, suas palavras. Acho que a música brasileira é o que mais me inspira, é onde mais eu me me conecto. Apesar de ouvir muita música internacional também, eu sou uma cantora que cresceu nos anos 1990 ouvindo Whitney Houston. Eu sou apaixonada pela voz daquela mulher, mas amo também as cantoras de Jazz, enfim. E eu tenho ouvido muita música latino-americana. A Mon Laferte é uma cantora que eu gosto muito, a Natália Lafoucarde também. É por aí.

TMDQA!: Gostaria de deixar a última pergunta para que você convidasse o público para o seu show Fluorescente! Aproveite o espaço para qualquer complemento que julgue necessário.

Assucena: Eu amo cantar na Cidade Maravilhosa e esse show vai ser muito especial, no jardim da Casa Museu Eva Klabin, na Lagoa. Então, eu quero convidar vocês a experienciarem esse lusco-fusco no meu Lusco-Fusco fluorescente. Venham comigo para essa mudança de estado, eu espero vocês na Casa Museu Eva Klabin.

Serviço – Assucena na Casa Museu Eva Klabin

SERVIÇO:
Dia: 18 de maio (sábado), às 17h
Local: Casa Museu Eva Klabin (Av. Epitácio Pessoa, 2480 – Lagoa)
Ingressos: R$50 (inteira); R$25 (meia-entrada)
Site para a compra: https://casamuseuevaklabin.byinti.com/#/event/show-assucena
Capacidade: 100 pessoas
Classificação livre