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TMDQA! Entrevista: Offspring fala sobre relação com o Brasil, line-up dos sonhos e nova geração do Punk antes de show no Lollapalooza

Em 2024, o Offspring está completando 40 anos de carreira. Em todos esses anos de história, a banda tem uma relação muito forte com o Brasil — não à toa, são quase 30 shows por aqui nesse período, fazendo com que o país seja o 10º no mundo a mais receber apresentações de Dexter HollandNoodles e commpanhia.

Mais um capítulo dessa história está prestes a ser escrito, e dessa vez de uma maneira bastante especial. Com uma turnê focada praticamente apenas em grandes hits da carreira, o grupo desembarca no Brasil muito em breve para se apresentar no Lollapalooza 2024 em show único, repetindo a estratégia da última vinda ao país em 2022, quando o grupo esteve apenas no Rock in Rio.

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Talvez ofuscados em um line-up que tem como grande destaque a estreia do blink-182 no Brasil, o Offspring servirá como um aquecimento perfeito para os fãs de Mark, Tom e Travis. A banda toca no mesmo palco, no horário anterior, nesta sexta-feira (22) e é claro que ambos os grupos compartilham muitos fãs — ainda mais em um país com ligações tão fortes com as duas bandas.

Em sua última passagem por aqui, o Offspring conversou com o TMDQA! e deixou claro que “não há lugar melhor no mundo” para se estar durante um show do que o Brasil. Dois anos depois, batemos um novo papo com Noodles para saber se as expectativas foram atendidas naquela ocasião e para entender melhor o atual momento do grupo.

A conversa, claro, também seguiu por outras direções e viu até o músico montando um “line-up dos sonhos” para uma próxima I Wanna Be Tour e recomendando algumas de suas descobertas recentes. Confira na íntegra a seguir!

TMDQA! Entrevista: Kevin “Noodles” Wasserman (Offspring)

TMDQA!: Oi, Noodles! Tudo certo por aí?

Noodles: Olá! Tudo bem, tudo bem.

TMDQA!: Que bom. É um prazer estar falando com você novamente; a gente bateu um papo lá em 2022, quando vocês estavam pra vir pro Rock in Rio, e eu queria justamente começar com isso. Na ocasião, você me falou que “não há lugar melhor no mundo” do que o Brasil para fazer um show e queria saber se esse show confirmou sua opinião, e como está a expectativa para voltar agora!

Noodles: Ah, foi incrível. O dia do show em si foi meio que uma experiência da alma saindo do corpo! Sabe, foi tão grande — é difícil conseguir colocar na cabeça o quanto. No dia antes do show, inclusive, nós fomos lá e fizemos meio que um ensaio/passagem de som, tocamos quase todas as músicas.

E, conforme nós fizemos isso, o festival ainda não estava aberto, eram só as pessoas que estavam trabalhando lá.  Mas nós tivemos meio que uma pequena plateia no meio do dia, e eles ficaram tão empolgados com isso; foi legal demais. Foi divertido demais tocar nesse palco enorme para uma pequena multidão, todos trabalhadores do festival. Foi legal mesmo.

E a noite seguinte foi simplesmente, sabe… Há uma energia muito grande vindo de uma plateia como essa. É realmente difícil de processar, é meio que uma experiência da alma deixando o corpo, como falei.

TMDQA!: Essas pessoas foram muito sortudas, isso sim! Dito isso, dessa vez vocês vêm para o Lollapalooza, também um grande festival, e que dessa vez terá ainda o blink-182 vindo pela primeira vez ao Brasil…

Noodles: Sério? Eles nunca foram aí antes?

TMDQA!: É verdade, eles nunca vieram! E cancelaram no ano passado, ainda por cima. E vocês vão tocar logo antes deles, no mesmo palco, então o que eu quero dizer é: vocês vão ter uma plateia bem especial por lá…

Noodles: Acho que sim, né? Sabe, é ótimo tocar com esses caras. A gente tem uma história bem longa. Eles são uma banda ótima, têm ótimas músicas e fazem um show ótimo, então estamos empolgados em tocar com eles. E, sabe, as plateias de festival sempre são uma diversão à parte.

Você sabe que está tocando para pessoas que não são necessariamente suas fãs, então você tem que tentar conquistá-las. Você precisa ser um pouco mais criativo, fazer coisas diferentes. Estamos empolgados para isso, vai ser um show divertido.

TMDQA!: Ainda assim, acho que por ser um show com o blink-182 logo em seguida, dá pra dizer que muitos fãs vão aproveitar demais o Offspring por curtirem vocês também.

Noodles: É verdade. Acho que eles vão levar muita gente que ouve as duas coisas, com certeza.

TMDQA!: Acho que o fato de vocês dois estarem tocando em sequência e em posições privilegiadas no festival também diz muito sobre o momento de… bom, tem gente que chama de Emo, de Pop Punk, de Punk, chame do que for, mas é um momento muito bom que essa cena vive, né? Queria saber como você enxerga isso, já que eu sinto que vocês estão tocando não apenas para quem sempre acompanhou vocês, mas também para uma galera que voltou a ir em shows, talvez até por conta da pandemia, e para jovens que estão conhecendo vocês agora.

Noodles: Sabe, é curioso porque nós temos tido jovens na grade dos nossos shows desde sempre! A gente envelhece, mas as primeiras filas dos nossos shows continuam iguais. [risos] Ou não envelhecem muito, pelo menos.

Eu acho que nós temos fãs que vêm lá de trás, fãs que nos conheceram ali no Americana ou talvez até no Smash primeiro, e aí o Americana trouxe ainda mais gente. Depois, o Rise and Fall, Rage and Grace trouxe todo um novo grupo de fãs também.

Eu sei que foi nesse momento que o Brandon [Pertzborn], nosso baterista, nos conheceu! Ele disse que ouviu “Hammerhead” quando era jovem e pensou, “É isso que eu quero fazer”. Ele amou essa música e decidiu que queria ser baterista. E agora ele está com a gente tocando “Hammerhead” toda noite, é legal demais.

Então, não sei como exatamente contabilizar isso, mas é ótimo ter, como você disse, pessoas que estão voltando a ouvir esse tipo de música, pessoas que estavam ali nos anos 90 e que agora estão trazendo seus filhos consigo também, sabe. É ótimo.

TMDQA!: E acho que, também nesse sentido, as bandas da velha guarda continuam por ali — vocês, o blink, tantas bandas. Mas também há muitas bandas novas, acho que a nova geração principalmente tem se conectado muito com estas. Tem algo que você tenha ouvido recentemente que chamou sua atenção?

Noodles: Olha, sempre surgem coisas novas que eu adoro. Uma das bandas mais recentes que eu amo se chama The Bronx. Apesar de que eles estão por aí já faz um tempo, mas são uma das minhas bandas Punk preferidas dos últimos anos.

Tem também uma banda local chamada Plague Vendor que eu curto muito. Eu fui outro dia ver também um show do Otoboke Beaver, aquelas garotas japonesas, e elas são simplesmente fenomenais. Teve uma banda que abriu pra elas também, Drinking Boys and Girls Choir, eles foram ótimos, gostei muito deles.

E eu vi também recentemente um cara chamado N8NOFACE pela primeira vez. Ele é um cara local de Long Beach, que faz essa música eletrônica bem frenética. Não sei muito bem como explicar, mas tem algo Punk sobre isso, mesmo que não tenha baixo e bateria na prática. Ele tinha um guitarrista com ele, mas tem um baixo bem pesado, ainda que eletrônico. Mas, sabe, é uma coisa legal e ele é maluco! De um jeito bom, claro, então foi um show ótimo.

Sempre estou tentando procurar coisas novas e legais, coisas assim.

TMDQA!: E é muito doido que hoje em dia você tem bandas como Knocked Loose e Turnstile tocando em festivais enormes como o Coachella, né? Ainda que não me lembro se o Turnstile chegou a tocar de fato, mas enfim…

Noodles: Eu acho que o Turnstile tocou sim! Acho que um ou dois anos atrás. Nós vimos eles por lá e depois novamente em seguida na Europa. Eles são uma força! Tem também uma banda que chama Destroy Boys que eu estou curtindo muito agora.

TMDQA!: Legal demais! Valeu pelas dicas, Noodles. Em tempo, acho que é legal te contar que, neste momento, está rolando um festival pelo Brasil que é meio que a nossa primeira experiência com algo que parece uma Warped Tour, um When We Were Young. A banda principal é o Simple Plan e tem bandas como All-American Rejects, A Day to Remember, enfim… Eu estive na primeira noite, foi incrível, e é a primeira vez que vemos tantas bandas assim juntas, foi lindo ver a plateia se conectando. Eu sinto que talvez tenha sido um sentimento parecido pra vocês tocar no When We Were Young, né?

Noodles: Sim! A plateia do When We Were Young foi incrível, sabe. Meio que foi uma sensação de estar em casa. Emocionalmente, foi bem isso. Porque, novamente, foi um grande festival, a coisa estava pegando fogo, mas teve essa sensação de estar em casa.

Eu preciso comentar, os caras do Simple Plan são alguns dos mais legais que já conhecemos! Uma das melhores turnês que já fizemos pela América do Norte, no ano passado, foi com o Sum 41 e o Simple Plan e toda noite essas bandas meio que trocavam posições e nós fechávamos, e todas as noites foram fenomenais. O público era intenso, e as duas bandas faziam shows ótimos!

Muita gente acha que o Simple Plan é super Pop porque os hits mais Pop deles são aqueles que todo mundo conhece, mas eles sabem fazer Rock! Eles são do Rock! Eles chegam lá e… o Chuck [Comeau, baterista do Simple Plan] é um baterista intenso pra caramba.

TMDQA!: E um cara legal demais também, né? Tive a oportunidade de falar com ele uns anos atrás, um querido mesmo.

Noodles: Totalmente! Todos eles, os quatro, mas o Chuck e o Pierre [Bouvier, vocalista], sabe, a gente ficou mais tempo juntos porque fizemos várias coisas promocionais para essa turnê, e são caras legais demais.

Tem uma foto enorme do Chuck no Museu do Punk Rock em Las Vegas, uma parede inteira, e é o Chuck fazendo crowdsurf durante a Warped Tour, é um registro incrível. Eu tirei uma foto e mandei pra ele, e ele nem sabia que aquilo estava lá. [risos]

TMDQA!: Então, e isso que é legal. O Chuck estava fazendo isso esta semana no Brasil! [risos] Pra gente, foi uma experiência incrível finalmente poder viver essa coisa da Warped Tour, que não tivemos por aqui. E quem sabe temos uma edição no ano que vem com o Offspring? Aliás, quem você traria junto? [risos]

Noodles: Ah, caramba, pra gente? Se fosse ser uma coisa tipo Warped Tour, acho que as bandas que estão conosco são aquelas que nós somos amigos, sabe? Tipo Rancid, Pennywise, NOFX… O NOFX, alias, supostamente vai se despedir dos palcos, né. Parece ser sério mesmo. É de partir o coração. Eu amo todos esses caras, amo ver aquela banda tocar. Sou um grande fã mesmo. Mas tenho certeza que todos eles farão coisas ótimas no futuro.

Enfim, acho que eu adoraria ver isso. O Bad Religion é ótimo, claro.

TMDQA!: Nossa, seria um sonho. [risos]

Noodles: E os Dickies! Eu amo os Dickies. [risos] E… que tal o X? Dead Kennedys? [risos]

TMDQA!: Olha, curiosamente, a última vez que eu vi um show de vocês foi quando vocês tocaram aqui junto com o Dead Kennedys. Eu toparia isso de novo, sem dúvida alguma! [risos]

Noodles: Ah é! A gente fez isso, né? Tocamos depois deles, eu lembro.

TMDQA!: Noodles, falando um pouco mais do Offspring em geral, eu sinto que esse é um ano bem especial pra vocês. O Smash está completando 30 anos e vocês têm uma comemoração especial marcada, vão tocar o álbum na íntegra… Primeiro, me diz: qual a chance de vermos esse show no Brasil? E há planos de uma celebração do tipo para outros discos?

Noodles: Neste momento, estamos só trabalhando com o Smash mesmo. [risos] Mas eu sei, as pessoas sempre mencionam isso porque, sabe… Dois anos atrás completamos 30 anos desde o Ignition, agora tem 25 anos do Ixnay on the Hombre chegando em breve, acho que o Americana também vem aí logo mais… Eu sou ruim de matemática, mas sinto que se você está em uma banda por tempo suficiente, você pode ter um aniversário pra comemorar a cada duas semanas. [risos]

Ao invés de sermos nostálgicos, a gente… Bom, sabe, nós queremos sim fazer homenagens às coisas que fizemos no passado, mas ao mesmo tempo ainda estamos trabalhando em outras coisas, sabe? Nós… Eu amo o Smash, eu amo o Americana, eu amo todas as coisas que já fizemos, sabe, Ixnay, Ignition… Mas eu também quero meio que ter um foco nas coisas novas.

A gente ainda tá tentando arrumar um espaço no setlist para as músicas novas, sabe! [risos] Está ficando cada vez mais difícil.

TMDQA!: Olha, legal você falar, porque eu estava na dúvida sobre perguntar. Porque, pelo que eu vi, as músicas do Let the Bad Times Roll estavam funcionando bem ao vivo, mas só pararam de rolar nos shows. Queria saber o que aconteceu…

Noodles: É meio que uma coisa de roubar do Peter pra pagar o Paul. [risos] A gente sabe que os hits que estão por aí há mais tempo são as músicas mais queridas porque as pessoas simplesmente, sabe, têm uma história com elas. Então é difícil. Tipo, eu odiava quando eu ia ver uma banda tocar ao vivo e eles não tocavam essas!

É meio que um trade-off, sabe. Nós não queremos ser só uma coisa ou outra, nós queremos misturar tudo e tocar algumas das coisas novas sem deixar de tocar as coisas antigas que nós sabemos que as pessoas amam.

TMDQA!: Faz sentido. Nosso tempo está acabando, Noodles, então como já é tradição por aqui, eu queria te pedir pra me contar alguns discos que mudaram sua vida — afinal, o nome do site é Tenho Mais Discos Que Amigos!. Pode ser um Top 5, 7, quantos quiser!

Noodles: Eu tenho cerca de 250 discos de vinil espalhados por aqui! E mais do que isso em CDs. [risos] Eu devo ter mais de mil CDs em casa. Então, escolher cinco que mudaram minha vida…

Vamos começar com o primeiro disco dos Ramones. Depois tem o Never Mind the Bollocks, dos Sex Pistols. O EP em vinil branco dos Dickies com “Paranoid”, “You Drag Me If You Want To”, “Gorilla” e “Hideous”. Vamos ver… Acho que vou escolher os Rolling Stones, Some Girls, só porque eu amo os Rolling Stones. E Simon & Garfunkel, Bridge Over Troubled Water!

TMDQA!: Ah, que legal. Bem diverso!

Noodles: Olha, eu era apenas um garoto quando ouvi isso. Eu era apaixonado por harmonias e simplesmente amei aquilo.

TMDQA!: Faz sentido. Noodles, muito obrigado pelo seu tempo! Foi um prazer bater esse papo e espero que possamos conversar de novo em breve. Espero que sua visita ao Brasil seja boa e nos vemos no Lollapalooza!

Noodles: Obrigado, Felipe! Foi bom falar com você. Até a próxima.

Published by
Felipe Ernani