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TMDQA! Entrevista: ÀTTØØXXÁ conta sobre singles inéditos e remixes do seu novo EP de verão

O ano do ÀTTØØXXÁ começou “daquele jeitão”, expressão usada com frequência na Bahia e presente no início da letra de “Vssim da Não”, um dos primeiros sucessos do grupo baiano que tem conquistado o Brasil nos últimos anos com o groove único de suas músicas.

Se tornou uma tradição da banda formada por Oz, RDD, Raoni e Chibatinha lançar singles para embalar o verão dos seus fãs e este ano eles trazem um lançamento ainda mais especial: o EP SUMMER GROOVE. O trabalho chega com músicas inéditas, apresentando parcerias com Baco Exu do Blues, Rico Dalasam, Vitão e outros artistas, além de apresentar remixes de algumas faixas disponibilizadas no álbum Groove, lançado pelo grupo em Maio do ano passado.

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Raoni, um dos vocalistas da banda, conversou com o TMDQA! sobre o novo EP e compartilhou alguns detalhes sobre a faixa “Tá Gostosin”, parceria com É O Tchan que foi lançada como single de estreia do novo projeto e apresentada ao público antes do seu lançamento oficial durante o Bailaum Black Groove, evento da própria banda que aconteceu em Salvador no início de Janeiro.

Sobre a colaboração inédita com o grupo veterano que completou 30 anos de carreira, o vocalista declarou:

Foram pílulas de aula, né? Porque acabou sendo pouco tempo que passamos juntos. A gravação foi uma tarde e o clipe também foi meio que uma tarde, um dia que choveu muito. E acabou que nem conseguimos gravar o clipe da forma que a gente queria, mas só esse tempo com eles dá pra gente mensurar como a presença deles é forte. É uma energia mesmo.

O cantor do ÀTTØØXXÁ, que divide os vocais com Oz e RDD, ainda comentou sobre o encontro de gerações que aconteceu tanto entre as bandas como através da relação da dança presente no clipe do single, que é mais direcionada ao TikTok enquanto ao mesmo tempo faz referência aos passos de dança que acompanhavam os shows do Tchan.

No papo, Raoni também destacou o crescimento do Afrobeat, ritmo presente em algumas músicas do grupo, e apontou a relação do gênero com o samba duro e o pagode que sempre foram a raiz da sonoridade da banda e de muitos artistas da Bahia.

Confira a entrevista na íntegra abaixo, bem como os clipes recentes e o novo disco do ÀTTØØXXÁ!

TMDQA! Entrevista ÀTTØØXXÁ

TMDQA!: Primeiro de tudo, eu queria parabenizar vocês pelo Bailaum Black Groove. Vocês entregaram um evento que eu acredito que os fãs de Salvador estavam aguardando muito e foi um show muito completo, com vocês passando por praticamente todas as fases da banda. Eu queria saber como foi começar o ano com esse Bailaum e ter essa troca com o público?

Raoni: Pô, era até uma responsabilidade nossa fazer um bailão, né? Porque quando a gente tocava no Pelourinho, a gente até conseguia fazer muitos mais shows, né? Durante o ano inteiro e tudo mais. Mas com a agonia que está agora, a gente sabe que é mínimo, a gente tem que ter o bailão ali em algum momento, tá ligado?

E a gente também estava também numa onda tipo, a cabeça estava no céu, não sei onde estava nossa cabeça estava. Botamos quatro bandas pra tocar! E pô, foi lindo. Espero que todo mundo tenha gostado mesmo. Começamos o ano já com o pé direito, porque a gente meio que, sei lá… A gente só pensou ‘Véi, vamos fazer’. A gente tem tocado bastante fora, você está ligada. Então, a gente fica querendo saber o que o público daqui tá achando, como estão sendo nossas músicas para eles. Se a galera quer colar [no bailão], se eles estão sentindo falta, sabe? A gente começa o ano já pensando, ‘Vamos voltar para lá’. Foi demais. Eu estava nervoso, mas curti bastante o resultado.

TMDQA!: E lá vocês chegaram a tocar o novo single “Tá Gostosin”, mostraram a coreografia, e eu quero saber se com a resposta do público naquele momento vocês sentiram que escolheram a música certa para ser a primeira prévia do novo disco de vocês, o “SUMMER GROOVE”?

Raoni: Putz, mas nem tinha como não ser né? É o momento chave, tanto pra gente quanto pra os masterclass do É O Tchan. Trinta anos [de carreira]. Foram pílulas de aula, né? Porque acabou sendo pouco tempo que passamos juntos. A gravação foi uma tarde e o clipe também foi meio que uma tarde, um dia que choveu muito. E acabou que nem conseguimos gravar o clipe da forma que a gente queria, mas só esse tempo com eles dá pra gente mensurar como a presença deles é forte. É uma energia mesmo.

É uma energia que eu digo que, todas as vezes que eu vou para o estúdio com Rafa, porque ele está com um estúdio na WR, tem os discos da galera que gravava lá e aí tem muitos do É O Tchan. E a gente fica impressionado. Tanto que no dia que a gente foi gravar lá, eles falaram: “Pô, que legal né velho?”. Como se fosse uma coisa normal para eles terem aqueles discos ali.

Acho que por isso a força da música é uma energia que eu nem sei como explicar, Lara. É uma parada que ficou muito boa. A gente gostou muito do resultado, eles são fenômenos, ícones demais. E a gente aprende muito sobre como lidar com a arte, sabe? Como respeitar o trabalho de quem está fazendo algo ali do seu lado. Bom, muito amor entre eles e com a gente. Como eles falam, “Meus sobrinhos, meus sobrinhos, vamos fazer a música assim desse jeito, manda pra gente, a gente quer tocar no show”. É muito bom, é muito carinho.

TMDQA!: Eu li que a música foi uma versão dos dois grupos para a canção “Touch It” do cantor ganense KiDi. E eu queria saber como vocês conheceram a faixa e viram uma oportunidade de trabalhar nela junto com o É O Tchan?

Raoni: Bom, eu acredito que hoje em dia tá muito em evidência o Afrobeat, a música africana, sabe? Se você for parar pra pensar, a música pop mundial está basicamente utilizando muito dessa linguagem. São muitos nomes, inclusive o Rema ia fazer um show na virada de Salvador. Então, eu acho que por ter esse groove que está tão em evidência agora, ficou fácil encontrar. Até porque a gente tem uma linguagem similar.

Essa música é algo que já está dentro das nossas raízes aqui, né? O pagode é a nossa raiz aqui, o samba duro é de onde saiu a primeira versão de tudo, né? Então, a gente conheceu a música na internet mesmo, mas hoje em dia eu acho que todos os artistas já têm um conhecimento de quem são esses artistas que estão trabalhando com essas músicas.

E eu acho que em breve a galera vai estar fazendo vários feats com eles. Assim como tem uma coisa que já toca com o RDD. E tem tudo a ver com o Tchan também, que já deu rolê pelo mundo todo, que já foi do Brasil ao Egito.

TMDQA!: Junto com a faixa vocês lançaram um clipe que ficou muito massa e apresenta a coreografia da Drica Bispo e da Aline Maia. Eu queria que você me falasse um pouco da importância desse encontro de gerações, tanto de vocês com o É O Tchan, como também da dança ali mais voltada para o TikTok, mas que não deixa de ser uma atualização das danças que são uma marca registrada do grupo, né?

Raoni: Exato! Foi muito fácil, estava tudo muito pronto. Desde já a gente agradece a presença deles, mas temos que deixar ali 50% também para as meninas que são referência demais. A Drica, que já chegou com a coreografia pronta ali, Aline, que hoje é uma referência na dança mundial, porque trabalha com artistas internacionais. Elas super se entenderam, todo mundo aprendeu, eu até arrisquei uns passos de dança… não sou muito bom, mas não tem jeito, tá na gente! A gente não vai ficar parado, vai pra cima também. É uma questão que estava meio assim, as mudanças… a música vai se renovando.

Há um tempo já tinha essa galera dessa geração que fazia os passinhos, tanto que o próprio axé também foi pra esse lugar, não só as músicas tradicionais daqui; samba reggae, samba duro, samba de viola, até chegar no pagode, com o Gerasamba e quem veio a partir dali, que já tinham suas músicas pautadas em coisas assim, bem sugestivas. E eu acho que só deu mesmo uma atualizada, um 2.0, já que o TikTok que toma conta agora. E acho que é até um pouco mais complicado, mais complexo. É uma evolução.

Me remete um pouco à música preta, ao hip hop, aquelas danças que são realmente mais elaboradas, mais megalomaníacas, meio Michael Jackson e tal. Eu acho que já estava tudo meio pronto. Claro que a gente fez propositalmente, mas a gente está super feliz e eu espero que todos gostem, porque a gente se divertiu muito.

TMDQA!: O último disco lançado por vocês foi o “Groove” e agora vocês chegam com uma versão de verão desse disco. Seria isso? Eu queria saber se as faixas inéditas deste novo álbum surgiram ali das sessões do “Groove” e por que vocês decidiram lançar em outro momento?

Raoni: Não, muito bom. É isso. Você mais do que ninguém conhece, né? A gente sempre tá tendo uma música que é single de verão, né? Desde os primórdios, já dançou muito com a gente lá! “Tá Batenu”, “Rebola a Raba”, “Metedêra” e várias outras.

Antes éramos independentes e agora, com a gravadora, a gente já estava organizando de ter um EP mesmo, com várias canções. Até porque tiveram canções que não deu pra botar no disco, mas assim, é muito variado. O EP tem essa conotação de vir trazer uma continuidade para essa onda mais realmente verão, do que a gente apresentou com o disco, só que tem música, a faixa com Baco por exemplo, que é de 2019. A gente ama a música, sempre quis lançar e não teve um momento específico certo pra gente lançar, mas agora que a gente conseguiu trabalhar nela, ter clipe, tá lindo demais e é uma parada que, com aquela letra, tinha que ter tudo isso mesmo porque é uma questão de espiritualidade, muito respeitosa, que a gente tem que tratar com muito respeito.

Então, a gente teve que ter esse cuidado e também tem faixas que surgiram depois do Groove também, que já estavam ali, que não podiam entrar, ou que não estavam prontas ainda. Só que cada música tem sua particularidade. O disco realmente vai pelo verão, assim como o Groove passeia pela Black Music, pelo groove de diáspora do mundo, nós viemos agora com o groove de diáspora de verão do mundo. Esse EP reflete isso. A gente vai lá e toca uma música mais América Central com o Tchan, com Bahia total e do nada toca um sambinha lá de São Paulo com Rico Dalasam, sabe? Se tiver um sol domingo de tarde, toma uma cerveja e é o verão. É isso aí que a gente tá trazendo nesse EP.

TMDQA!: Com relação às versões remixes de faixas do álbum “Groove”, o que definiu a escolha dessas músicas? A sonoridade que também combinava com outros elementos? A resposta do público em relação a essas músicas? Como funcionou essa escolha?

Raoni: A gente queria muito trabalhar com essa galera que chegou fazendo os remixes. São amigos nossos, né? E eles complementam essa versão do Summer Groove mesmo. A gente queria lançar um CD deluxe, com todas as faixas, mas a gente já tinha seis músicas prontas e não ia conseguir colocar todas elas, ia ser bagaceira demais. Então optamos por quase um disco de novo mas com dois lados. E é isso, a gente gosta muito do pessoal que fez os remixes e acho que eles trazem um pouco de cada lugar aqui do Brasil, com as referências do que está rolando por lá, cada um contribuindo com sua sonoridade.

TMDQA!: Para encerrar o papo, vocês participaram do Festival de Verão Salvador no final de Janeiro e eu queria saber como foi representar a Bahia e o pagodão baiano com essa mistura de elementos que está presente nas músicas de vocês em um evento com um line-up tão diverso e com um público com gostos musicais diferentes.

Raoni: É um festival que não é mais regional, a proposta dele sempre foi de trazer artistas do Brasil todo e sempre teve artistas internacionais também. É uma coisa que realmente agora está com outra cara, mas acho que está cada vez mais plural. Ele está proporcionando encontros que antigamente a gente só via em esquetes de TV a cabo, dois artistas de mundos completamente diferentes tocando juntos. Esse ano teve muito disso, segundo ano já com essa pegada.

E a gente estando lá só reafirma mais uma vez que a nossa música não é uma música que se restringe apenas ao momento que é o verão, não só a uma coisa regional, não é uma coisa que só a galera daqui escuta, é um som que está aí desde que o É O Tchan aparecia na televisão em todos os domingos e foi passando para outros artistas como Terra Samba, Harmonia… agora já tem Psirico, Léo Santana. Então, nosso som de fato é um som nacional, popular. Independente de quando foi a época, ele estava aí o tempo todo. Pra gente é muito importante, a gente se sente muito honrado.

Published by
Lara Teixeira