TMDQA! entrevista: Derek
Foto por Negrotti /Reprodução/Instagram

Com o crescimento constante da cena do Trap nacional, você possivelmente já ouviu falar de Derek, artista em ascensão que desde o início de sua carreira, que começou como integrante do coletivo Recayd Mob, fez questão de apresentar ao público brasileiro o estilo musical que tomava conta dos Estados Unidos.

Além da Recayd, o trapper também investiu em sua carreira solo e, depois de alguns lançamentos que começaram lá em 2016, liberou em 2020 a mixtape Trap The Fato que funcionou como um divisor de águas para o artista.

Em conversa exclusiva com o TMDQA!, o músico paulista apontou que precisava desse trabalho para se provar como um artista solo bom, depois de ser conhecido principalmente por seu trabalho no grupo.

Ele explicou:

Eu sou um artista que canta há muito tempo e eu precisava de um álbum pra me consolidar, sabe? Como artista grande do trap, porque eu vim da Recayd. […] Quando um artista começa a fazer uma música solo dentro do grupo, ele tem que se provar de novo e tal. […] Eu precisava desse álbum para me reposicionar na cena.

Após o lançamento, que empolgou bastante os fãs, Derek compartilhou em Outubro deste ano a versão deluxe do Trap The Fato. O disco, que marca seu primeira lançamento pela Universal Music, chegou surpreendendo a todos, já que algumas faixas apresentam sonoridades mais experimentais, que, segundo o rapper, são inspiradas em músicas que ele ouve e já produz há muito tempo. Para se reinventar e sair da zona de conforto, ele conta que seu processo criativo “é ouvir e estar sempre em conexão com artistas que estão lançando coisas novas”.

A repercussão do disco, que tem como foto de capa um registro do artista durante sua recente viagem a Moçambique, foi tão grande, que Trap The Fato Deluxe chegou ao top 7 global e no Spotify, Derek já acumula mais de 2 milhões de ouvintes.

Entre as 23 faixas inéditas, Derek contou com um time de peso que inclui tanto artistas consolidados como novos nomes da cena de trap/rap/urbano. O público encontra músicas com Baco Exu do Blues, Slipmami, MC Luanna, Brocasito além do duo norte-americano G4 Boyz e muito, muito mais. Em nosso papo, o artista revelou qual faixa superou suas expectativas e com qual artista ele estava mais ansioso para colaborar.

Você ainda pode conferir ele contando sobre sua passagem por Moçambique, refletindo sobre seu papel e da Recayd Mob no crescimento da cena do Trap nacional e explicando quais são os próximos planos do seu selo Trap The Fato, que completa um ano este mês.

Leia a entrevista na íntegra logo abaixo e ouça o novo disco solo de Derek ao final da matéria.

TMDQA! Entrevista Derek

TMDQA!: Primeiro eu quero te parabenizar tanto pelo “Trap The Fato Deluxe”, como também pelos números e marcos que você alcançou com o disco até agora, como ter ficado entre os dez álbuns mais escutados mundialmente no Spotify na semana do lançamento. Você esperava essa resposta tão positiva e ao que você atribui esse retorno tão rápido do público?

Derek: Tipo assim, eu esperava que as pessoas fossem ouvir, mas eu não esperava que ia chegar no top global, sabe? Eu imaginava que as pessoas estivessem na ansiedade de ouvir um projeto novo meu, com músicas novas, ainda mais com 23 músicas inéditas, mas eu não imaginava que ia ser tipo tanto assim igual ao top global, sabe? Não imaginava mesmo, fiquei surpreso.

TMDQA!: Mas você atribui isso a mais alguma coisa, além da ansiedade das pessoas também? O fato de tanta gente estar ouvindo e estarem na expectativa por esse disco que é um deluxe?

Derek: Cara, eu acho que foi muito mais o nosso trabalho que foi bem feito. A gente conseguiu atender talvez a expectativa do público, que as pessoas queriam ouvir músicas novas também. Acho que foram vários fatores que colocaram a gente num top global, sabe mano? Não sei se tem uma razão específica assim, sabe?

TMDQA!: Entendi. Voltando um pouco para o seu lançamento anterior, que foi a mixtape “Trap The Fato”. Você considera que ela foi um divisor de águas na sua carreira solo, no sentido de você se reposicionar musicalmente? E de que maneira ela te preparou para o lançamento da versão deluxe?

Derek: Mano, eu sou um artista que canta há muito tempo e eu precisava de um álbum pra me consolidar, sabe? Como artista grande do trap, porque eu vim da Recayd, que é um grupo. Então quando um artista, tipo, começa a fazer uma música solo dentro do grupo, ele tem que se provar de novo e tal. Como era de um grupo muito conhecido, sabe? 180 milhões numa música no YouTube, eu tinha que me provar como artista solo bom e eu consegui. Eu precisava desse álbum pra me reposicionar, igual você disse, na cena. Então, sério, esse álbum foi o meu divisor de águas na minha carreira tipo 100%, sabe?

TMDQA!: E agora na versão deluxe, muitas pessoas foram surpreendidas com a sonoridade que você apresenta, até por conta do que você tinha apresentado na mixtape do ano passado. Queria saber quais foram suas inspirações para essas novas músicas, e como funciona o seu processo criativo para se reinventar e sair da zona de conforto, como você fez ali em algumas músicas como “Metade da Bala”, que tem uma pegada mais dançante, e em “Eu entendo” também.

Derek: Cara, essas músicas mais experimentais assim, essas músicas mais, como que eu posso dizer? Mais diferentes, são algumas músicas que eu ouço e faço há muito tempo, sabe? Eu pesquiso músicas desse tipo, eu ouço artistas que fazem músicas, que é uma parada talvez mais lo-fi, uma parada não tão incisiva igual ao trap, igual ao “Trap The Fato”, original sem ser o deluxe. Então o processo criativo é ouvir mesmo e estar sempre em conexão com artistas que estão lançando coisas novas.

Eu sou um artista que consome, e eu conheço muito bem a indústria da música, assim, do trap. Então eu estou sempre de olho em artistas que lançam artistas novos, ou de olho em filmmakers que estão lançando uma estética visual nova. Então não é só uma parada musical, é uma parada, tipo, conjunta que eu pesquiso diariamente, uma pesquisa diária mesmo com eu e meus amigos de pesquisa, de ouvir músicas novas, de trazer novas sonoridades também, está ligado?

TMDQA!: Que massa! E DEREK, falando também sobre esses outros artistas, seu disco está repleto de parcerias incríveis. Eu queria saber das parcerias inéditas do disco, com quais artistas você estava mais ansioso para trabalhar junto? E teve algum que te surpreendeu durante a colaboração?

Derek: Nossa, eu gosto muito de uma música que se chama “Metade da Bala”, que você falou, que é com Brocasito, é um artista que eu me reconheço muito nele, sabe? Tipo, artisticamente. Ele é um artista muito bom, Brocasito. Se eu fosse falar de uma faixa assim que eu imaginava que não ia ficar tão boa, essa foi uma das faixas que me surpreendeu, porque eu tinha ouvido o meu verso aí eu falei “mano, o bagulho vai ficar da hora”. Depois que eu vi o verso do Brocasito, eu achei muito mais da hora ainda, então essa música me surpreendeu.

E falando de feat específico, acho que o feat com a Luanna. Trabalhar com ela significa muito pra mim, porque a gente é do mesmo rolê, sabe? A gente se viu crescendo como artista, eu vi ela nos rolês quando ela não cantava ainda, ela também me via nos meus rolês quando eu não cantava ainda. A gente sempre teve esse match musical e eu tenho uma irmã que também é muito fã da Luanna, então ter feito uma música com ela tem um bagulho mais de família também, está ligado? Ela ouve a Luanna todos os dias, então acho que essa música foi uma das mais da hora de fazer.

TMDQA!: Adorei saber disso! Eu também gostei muito da música com o Baco. Eu sou daqui de Salvador, então consegui sentir bem o que vocês falaram no material sobre ele ter voltado ali um pouco às origens com a música, realmente deu para perceber essa diferença das faixas que ele tem lançado nos últimos tempos.

Derek: Que legal! Eu gosto muito do Baco, a gente fez uma música em 2017, ele está no meu primeiro álbum. Ele já era um artista que já estava em ascensão, sabe mano, e ele fez uma música comigo quando ele veio pra São Paulo, gostou muito de mim, a gente sempre esteve em contato, está ligado? E agora, depois de várias coisas que aconteceram, a gente lançou outra música, foi da hora.

TMDQA!: E ainda falando sobre as parcerias, depois de ter trabalhado com integrantes do A$AP Mob, agora, nesse novo disco você conta com a participação do duo G4 Boyz, dos Buggy e Ice Baby. Queria que você me falasse o quão importante são essas parcerias com artistas internacionais para o fortalecimento da cena brasileira? Você acredita que essa visibilidade tem gerado um retorno para o Rap nacional?

Derek: Cara, acho que a gente tem toda a capacidade de fazer uma colaboração onde a gente consiga atrair bastante público, com artistas dos Estados Unidos que é onde é a fonte do trap, está ligado? A gente precisa ouvir, a gente precisa estar sempre conectado com eles, porque eles são realmente os responsáveis por lançar as tendências das paradas estéticas, novas, sabe? Então eu acho que essas músicas, por mais que a gente ainda não esteja 100% dentro do mercado americano, acho que essas sementinhas já ajudam, sabe? Tipo, “Ah mano, o DEREK e G4Boys”.

Tipo, sei lá, o Matuê fez o som com Rich The Kid, sabe? É um bagulho que vai plantar uma sementinha que daqui a pouco a gente vai conseguir fazer música de igual para igual com os caras, sabe? Eu estou sentindo isso, que essas músicas, mano, são muito importantes pro nosso reconhecimento deles lá de fora, sabe? Pra eles conseguirem ver, tipo, caramba, mano, porque que o G4 Boyz, que é um grupo muito, muito, muito foda de Nova York, muito conceituado, tá gravando comigo, sabe? A$AP Mob tá gravando comigo, então essas colaborações são muito importantes, tanto para a visibilidade para a cena do Brasil, como pra mim também. É onde eu quero chegar também, sabe? Nesses artistas.

TMDQA!: E ainda falando sobre o “Trap The Fato Deluxe”, a capa do disco foi um registro feito durante sua viagem a Moçambique e ela consegue transmitir um pouco dessa conexão que você teve com o público de lá. Queria saber como foi sua experiência durante esse período na África e quem foi o Derek que voltou de lá?

Derek: É uma experiência surreal, sabe mano? Eu me senti como se eu já tivesse estado lá. É uma parada muito, muito, muito forte, sabe? Você está lá e você vê várias pessoas que você se reconhece nelas, sabe? Você vê aquelas pessoas, algumas em situações não tão boas, mas elas sempre vão estar felizes, saca? Mano, sempre vão estar te tratando mô bem, sempre vão estar querendo saber sobre você, sabe? Sempre vão estar com aquele sorriso no rosto. Então, sei lá, tipo, me fez repensar em muitas coisas, tipo, que a gente tem muitas coisas e a gente não dá valor também, sabe, mano? A gente tem uma infinidade de coisas pra fazer no dia a dia assim, a gente não dá valor, sabe? Sendo que lá eles vivem à margem de tantas coisas ruins e sempre estão felizes, mesmo com muitas dificuldades as pessoas tiraram um tempo delas, o dinheiro delas que elas poderiam estar comprando outras coisas pra comprar ingresso para ir no meu show.

Então é um choque de realidade muito forte, sabe? Tipo a gente viver aquilo, conseguir olhar pra dentro do olhar daquelas pessoas e ver que elas se espelham na gente, sabe? É muito doido isso. Você vê que elas pensam em você como se fosse uma saída, talvez, de mudar de vida também, sabe? No rap, dentro do hip-hop em si. Então é muito doido você ter essa responsabilidade. E os shows, cara, foram, tipo, surreal, mano. A gente parecia que estava fazendo show no Brasil, sabe? Muito da hora assim.

TMDQA!: E Derek, em 2020, vocês do Recayd Mob falavam sobre como o Trap era a nova era, e de lá pra cá a gente tem visto cada vez mais artistas explorando esse estilo e também consolidando uma cena no Brasil. Queria saber como você avalia o seu papel nesse processo, tanto como parte do coletivo e com seus trabalhos solo?

Derek: Mano, eu acho que a influência da Recayd e a minha influência dentro da parada ela pode ser notada ano a ano, porque ano a ano a gente foi lançando estéticas novas, e artistas mainstream foram fazendo as estéticas que a gente estava fazendo, sonoridades que a gente estava fazendo, sabe? Então eu vejo como um lugar de referência mesmo, a gente é referência dentro da cena então é natural que a gente consiga chegar em outros artistas que não levantam, talvez, a bandeira que a gente levanta do Trap, tipo “isso é Trap”. A gente desde 2015 foi batendo na tecla que isso é Trap. Eu tenho essa noção desse lugar de referência já, sabe? Da Recayde junto com outros manos que pavimentaram a cena do Trap, então acho que é mais sobre isso.

TMDQA!: Agora em Novembro, o seu selo Trap The Fato completa um ano e eu quero saber se nesse período os planos estão saindo como você esperava ou superaram as expectativas e quais são os próximos passos da gravadora?

Derek: Cara, tipo assim, a gente está acontecendo até mais rápido do que a gente imaginou. A gente teve um problema que a gente ficou sem estúdio, então a gente está voltando para o nosso estúdio agora, mas os trabalhos nunca pararam. A gente está pesquisando, lançando novos artistas sempre, estamos lançando os singles dos nossos artistas, estamos conseguindo fazer shows com os nossos artistas também, sabe? Trazer o mínimo de estrutura possível que os meus artistas merecem, sabe? Que é ter um estúdio da hora, fazer um clipe da hora, de lançamento também. Então tá ocorrendo tudo certo, a gente vai entrar numa nova fase agora, a gente vai começar a pensar na nossa mixtape também no final desse ano, sabe? Então as coisas estão acontecendo e estão acontecendo talvez do jeito que devem acontecer.

TMDQA!: Derek, você foi anunciado como uma das atrações do Festival Cena e ele é um festival voltado para o movimento do Rap e suas vertentes. Eu queria que você me falasse da importância de um evento como esse estar se consolidando e crescendo, já que desta vez eles anunciaram edições em três cidades.

Derek: Então, o Cena é muito importante para mim como artista em ascensão e também é bom para artistas que estão começando, que vão ter um espaço ali, conseguir mostrar o seu trabalho pra uma quantidade grande de pessoas. É muito importante isso porque também afirma muitas coisas que a gente precisa da cena, sabe? A gente precisa de um festival que traga artistas da gringa também, que dê essa valorizada também nos artistas nacionais também, está ligado? Então, o Cena é importante na minha opinião pra isso, como reforçar que está acontecendo na cena, sabe? Seja artistas grandes, que precisam mostrar um trabalho recente, está ligado? Ou artistas em ascensão que também estão com trabalhos recentes que precisam ser mostrados, está ligado?

TMDQA!: E pra gente encerrar, agora com o lançamento do Trap The Fato Deluxe, quais são os planos futuros? Eu li você falando sobre lançar um clipe por semana, e o que não faltam são músicas para escolher. Como você tá fazendo essa seleção?

Derek: A gente quer lançar os próximos clipes, estamos com uma identidade muito foda, visual dos clipes, a gente está conseguindo elevar cada vez mais o nível do audiovisual, sabe? Então a gente vai lançar os audiovisuais. Eu penso em trabalhar com artistas novos já, começar a inserir novos artistas nas TTF até o final do ano, acho que tem muito artista novo bom aparecendo que merece uma atenção. Então é isso, é mais a gente trabalhar nos clipes, na identidade visual não só da minha carreira como na da TTF também, vamos tocar em bastantes festivais até o final do ano, então é isso. A gente só quer entregar mesmo uma parada da hora.

OUÇA AGORA MESMO A PLAYLIST TMDQA! ALTERNATIVO

Clássicos, lançamentos, Indie, Punk, Metal e muito mais: ouça agora mesmo a Playlist TMDQA! Alternativo e siga o TMDQA! no Spotify!