Lagum - Depois do Fim
Crédito: Weber Padua

A Lagum produziu seu quarto disco de estúdio, Depois do Fim, de uma maneira inédita para a banda: fazendo uma imersão de dois meses em Campinas, no interior de São Paulo, com o objetivo de se concentrar apenas no projeto.

O TMDQA! foi convidado para ouvir o trabalho dias antes do lançamento e conversou com Pedro Calais, Zani Furtado, Jorge e Chico Jardim sobre o álbum que eles consideram o mais íntimo do grupo até agora.

No papo, os integrantes apontaram que além de se dedicarem ao disco, o período em isolamento também serviu como um processo de se conhecer novamente depois de oito anos de banda. Zani declarou:

A gente se reconhecer foi muito importante pra gente enquanto banda e eu acho que além de tudo desse álbum, de todo o conceito, eu acho que este processo deixou a Lagum muito mais forte, nós quatro como integrantes.

Depois do Fim, que foi disponibilizado nesta sexta-feira (14), é o primeiro disco que o grupo mineiro lança sem a presença do baterista Breno Braga, o saudoso Tio Wilson, que nos deixou cedo demais em Setembro de 2020 após sofrer uma parada cardiorrespiratória.

A banda relatou que a ausência do músico refletiu no processo de produção e na sonoridade experimental apresentada no disco, mas confessou que sentiu falta principalmente da convivência com o baterista e de suas atitudes nos momentos um pouco mais delicados que o grupo enfrentou.

Jorge explicou:

Eu acho que ele era um peso e medida muito forte em equilibrar energia interna, sabe? E lá em Campinas a gente passou por momentos bem intensos e profundos que por não ter essa energia mediadora e apaziguadora fez muita falta. Porque ele era alguém que chegava e equilibrava tudo e até por ser cinco, então era dois pra lá, dois pra cá e o Tio decidindo com bom senso.

Zani completou dizendo que “baterista tem um monte. A falta que ele faz é mais como um brother, como o cara que colava sempre, como voto de desempate, era mais como essa figura que ele era dentro da banda”.

Na conversa, a Lagum também explicou o lançamento do EP FIM que antecedeu o disco, e compartilhou detalhes sobre o processo de criação do seu novo álbum visual, além de comentar os preparativos para a turnê, que já tem algumas de suas datas marcadas no Brasil e na Europa.

Confira a entrevista na íntegra e ouça “Depois do Fim” logo abaixo.

TMDQA! Entrevista Lagum

TMDQA!: Oi pessoal, tudo bem? Queria parabenizar vocês pelo novo disco “Depois do Fim”. Eu ouvi as músicas e achei que o resultado ficou muito bom, que o projeto consegue passar a ideia desse “recomeço” que vocês estão colocando em prática a partir do EP “FIM”. E eu vou começar perguntando exatamente sobre ele. Por que vocês escolheram essas três canções para apresentar aos fãs uma prévia dessa nova fase?

Pedro: Primeiramente eu acho que é importante ressaltar que o “Depois do Fim” é o grande produto assim, é o que a gente se propôs a fazer na nossa imersão, né? A gente passou dois meses morando em Campinas pra fazer esse disco e a gente percebeu que dentro do “Depois do Fim” ainda tinha alguns resquícios de fim, né? Algumas músicas com uma energia mais densa, com papos mais densos, de fim mesmo. E aí a gente escolheu lançar o “FIM” com “Ponto de Vista”, que é a única música do “Depois do Fim” que está no EP, né? E as outras duas que só fazem parte do “FIM” pra gente dar início a essa comunicação dessa nossa nova fase.

“Depois do Fim”, ele é um álbum pra mim, assim, muito de imersão para dentro de si, de olhar pra dentro de você e de emergir, de botar a cabeça pra fora da água, de ver a luz. Enquanto “FIM” pra mim é um álbum de escuridão. E eu acho que antes da gente mostrar pras pessoas a luz é importante a gente mostrar a escuridão, de onde vem os questionamentos né? De onde vem a vontade de fazer o “Depois do Fim” e botar o disco no mundo, por isso a gente lançou o “FIM”.

TMDQA!: No ano passado, quando a gente conversou em Novembro, vocês ainda estavam isolados trabalhando neste novo projeto e eu queria saber um pouco mais sobre essa imersão. O que motivou vocês a fazer isso e como foi esse período de convivência. Tirando o disco obviamente, o que essa imersão gerou para vocês enquanto banda?

Zani: Eu acho que a gente quando está num dia normal assim na sua casa ou no escritório é muita coisa rolando. A gente marca muita coisa. Então você volta pra casa, você tem as coisas da sua casa. Você não está realmente imerso numa parada só fazendo aquilo. E a ideia foi justamente essa, a gente sentar, parar nossa vida, o nosso mundo, pra poder fazer o álbum. A ideia é que a gente estivesse lá fazendo só isso, sabe? Com essa ideia de “vamos pensar nisso, qual que é a pilha de cada um”. Então foi um processo bem importante, além dos aspectos musicais da produção do disco… Eu costumo falar que esses dois meses foram um “reconhecer” de todo mundo depois de oito anos de banda, sabe? Tanto musicalmente, cada um começou a escutar coisas diferentes, quanto pessoalmente, cada um fez escolhas diferentes para sua vida, então a gente se reconhecer foi muito importante pra gente enquanto banda e eu acho que além de tudo desse álbum, de todo o conceito, eu acho que este processo deixou a Lagum muito mais forte, nós quatro como integrantes.

TMDQA!: As músicas de vocês normalmente abordam temas relacionados a romances, ou fases da vida, como aconteceu bastante em Coisas da Geração. Mas eu senti um tom um pouco mais de desabafo em algumas canções de “Depois do Fim”. Vocês consideram esse disco o trabalho mais pessoal e íntimo de vocês até agora? Que elementos causaram isso?

Pedro: Eu acho que sim e eu acho que o que causou isso foi a necessidade de falar sobre isso, no momento em que eu estava começando a escrever as primeiras músicas, eu estava passando por uma instabilidade emocional, eu estava com a saúde mental bastante abalada por conta de tudo que aconteceu nos últimos anos. A pandemia foi muito difícil pra gente, problemas na vida pessoal e coisas que hoje em dia a gente já consegue ver de fora e ver que foi muito importante pra mim principalmente como compositor falar sobre isso nesse álbum como um processo mesmo de melhorar a cabeça que que eu estava precisando naquele momento e foi muito importante.

Pra mim foi muito íntimo, foi muito pessoal fazer esse disco. Um momento que eu resolvi compartilhar com os nossos fãs e compartilhar por causa deles mesmo, porque depois que a gente voltou a fazer show a gente começou a receber muitas pessoas no camarim que falavam tipo “véi, eu estava pensando em me matar e desistir de fazer isso por causa da sua música, eu estou vendo a vida dessa maneira, estou tentando levar a vida dessa maneira”. Então coisas que inspiraram a gente a fazer uma coisa um pouco mais íntima porque a gente percebeu que era importante pras pessoas que acompanhavam a gente ali naquele momento. Então foi uma decisão minha como compositor, falar “não, vou me mostrar mesmo porque isso está servindo pro bem que continue assim”. E pros meninos eu já não sei como é que foi, mas eu acho que tem também esse lado deles como músicos de um processo tipo “pô, não é simplesmente tocar guitarra né”. Acho que cada um ali passou pelo seu processo e até interessante que eu queria ouvir deles, se pra eles também foi um processo mais íntimo ou não tipo, a que eles se colocaram a serviço nesse álbum, sabe?

Zani: Eu acho total, concordo cem por cento e eu acho que tem muito a ver o íntimo desse álbum com a imersão que a gente fez. Realmente pra mim faz muito sentido até por ter passado por certas coisas durante a construção desse álbum que dizem muito sobre o que eu vivi também, sabe? Então acredito sim, que seja o álbum mais íntimo do Lagum até agora.

TMDQA!: E não tem como a gente não falar sobre as experimentações sonoras que vocês apresentam no disco. Eu queria saber se as músicas foram criadas com os ritmos em mente ou foi algo que surgiu ao longo do processo mesmo, com vocês experimentando os instrumentos e recursos em determinados trechos das faixas.

Zani: Cara, foi tanta música que é até difícil lembrar do processo de todas. Alguns processos marcam mais que outros e tal, mas eu acredito que foi uma coisa do acontecimento, assim, foi a coisa do o que a gente tinha nas mãos. Por exemplo, a gente chegou no estúdio em Campinas tinha um piano de cauda lindo, maravilhoso, tinha um moog lindo e maravilhoso. Então, foram coisas que a gente disse: “pô, vamos explorar isso aqui”. Eu acho que traz muito da humanidade, já que a gente está sendo introspectivo, eu acho que essa parada da humanidade, de alguém tocando a parada, sabe assim, foi muito a pira desse álbum e pra mim foi muito isso.

TMDQA!: Chico e Jorge, e pra vocês? É que eu achei que a sonoridade foi bem diferente do que vocês apresentam nos outros discos. No final de algumas canções tem ali a presença de instrumentos e recursos diferentes.

Chico: É. Eu acho bem legal esse ponto que você está falando que é realmente uma coisa que as pessoas vão se surpreender mesmo, porque tem coisas novas que a gente meteu a mão e elas aconteceram, elas ficaram bem legais. Uma delas foi até a presença do moog, que pra quem não sabe é um teclado que faz som de baixo, que dá aquele som mais encorpado, mais gravão, meio eletrônico. O som do moog ele vai estar até presente… estou planejando comprar um moog pra levar pros palcos também pra trazer essa realidade desse novo cenário que a gente conseguiu criar e proporcionar no álbum pros palcos também. Eu acho que assim como o moog chegaram outros elementos, e é legal a liberdade que a gente deu para esses elementos chegarem, para eles darem boas vindas e não ter a cabeça fechada de às vezes falar “não, não vamos seguir para outros caminhos e enraizar”. Eu acho que isso é um dos desafios assim da vida de vários profissionais, em várias áreas porque se engessar engessa, fica duro. Então é dar essa oportunidade pro novo, eu acho que é fantástico e a gente conseguiu fazer isso nesse álbum.

E sempre deixar a cabeça aberta pra continuar dando essa oportunidade e agora trazer pros palcos esse novo som, pra galera poder experimentar junto com a gente. Que a gente conseguiu gravar isso, mas no palco vai ser uma experiência nova pra todo mundo, né? Tanto com os ouvintes, como a gente que vai mandar ver lá em cima, todo mundo vai ter uma sensação nova junto. Esses primeiros shows vão ser quentes para todo mundo. Vai ter novidade pra gente e pro público também. Então, a galera que for vai ver uma Lagum completamente renovada, completamente nova. Provavelmente com frio na barriga, que eu nunca bati em tecla em palco e vou ter que bater, para produzir esses sons pesadíssimos de grave.

Jorge: O Chicão falou pra frente, eu vou falar pra trás, né, um pouquinho do processo que eu acho que tudo que aconteceu resultou na sonoridade. Tem uns elementos chaves, eu acho que a morte do Tio [Wilson] é um deles porque isso impacta que a gente não tenha uma pessoa ali na bateria. Então isso impacta também numa coisa que é às vezes você construir a música ali como banda, de ter todo mundo tocando ao mesmo tempo e aí a gente passa para um outro momento que foi quando a gente começou a gravar essas ideias em Belo Horizonte.

A princípio a ideia inicial era que a gente fizesse um álbum acústico, gravasse um acústico, então os primeiros registros eles foram muito fortes assim, violão de nylon, pensando nessa questão acústica e depois que a gente foi transformando pra ideia de um álbum, né? E aí quando a gente chega em Campinas, no ano passado, a gente de cara com um estúdio que se chama No Santo Som, que tem um piano lá de todo tamanho. Então as coisas vão acontecendo assim, um pontinho vai ligando ao outro, que eu acho que tem um impacto muito grande. Outros pontos assim, o Zani toca trompete, eu estou com uma MPC então isso tudo vai entrando neste liquidificador que é esse momento. E dentro da Lagum a gente sempre teve uma liberdade muito grande de opinar e é o primeiro álbum que a gente assina como produtor também. E é isso eu acho que teve um impacto muito grande, porque produzir da forma que a gente já produzia a gente fez isso a vida toda, né? Só que dessa vez a gente estava com pessoas que são meio que porto seguro pra gente que é o Pedro Peixoto e o Victor Amaral. Que o Pedro é do Medisen, o estúdio que a gente gravou nosso primeiro álbum e vários singles e o Vitão foi um cara que a gente descobriu ao longo desse processo do ano passado de gravar novas ideias, ele é um cara muito talentoso e de muito bom gosto. Então foi esse time e essa circunstâncias que originaram a sonoridade desse álbum.

Zani: Eu acredito também que os frutos do bom aproveitamento de tempo da pandemia, de tá estudando, de estar aprendendo novas coisas e poder colocar isso em prática na produção do álbum foi fenomenal.

TMDQA!: E além de sair de uma zona de conforto e se desenvolver enquanto banda usando esses novos recursos, eu queria saber se fazer essa mudança na sonoridade também tem como objetivo alcançar e atingir um novo público?

Pedro: Eu acho que não, porque a gente não mudou pensando nisso, sabe? Se vier vai ser porque calhou de ser assim mas não foi uma coisa pensada. E eu acho que também o nosso público ele cresce muito com a gente, né? Então se a gente está amadurecendo de certa forma, vivendo nessa época, escutando as músicas dessa época, sendo influenciado por essa evolução sonora, provavelmente isso vai refletir no público que acompanha a gente, né? Então não foi pensado, mas eu acredito que possa acontecer.

TMDQA!: Entendi, Pedro. E uma coisa que eu senti foi que as últimas músicas do disco elas parecem resgatar a sonoridade do que vocês apresentam nos discos anteriores. É proposital manter essa conexão com o som que os fãs já estão acostumados?

Zani: É natural, eu acredito que seja natural. Por exemplo, “Coisa Boa”, “Depois do Fim”, “Olha Bela”, eu acho que são coisas que se parecem mais com sons que a gente “já fez”, mas eu acredito que pela naturalidade, por não pensar tanto no público quando a gente estava produzindo isso, acho que a ideia da imersão foi justamente a gente fazer o que a gente achava que a gente tinha que fazer e eu acho que foi uma missão cumprida, e se acontecer vai ser natural.

TMDQA!: No último disco, “Memórias (de onde eu nunca fui)” vocês começaram a destacar mais o Rap nas letras com as participações de Emicida e L7NNON. E Pedro, eu achei muito interessante as faixas em que você aparece declamando, ou fazendo um rap de certa forma de alguns trechos das músicas no novo álbum. Eu queria saber como foi para você se expressar dessa forma e como surgiu a ideia de explorar isso, era algo que você já tinha vontade de trazer em outros trabalhos ou surgiu especificamente para esse atual momento da banda?

Pedro: Eu já tive sim vontade de fazer coisas assim. Eu até cheguei a fazer isso em algumas músicas, com menos melodia, né? Uma coisa mais falada e eu acho isso legal porque cabem muitas palavras em pouco tempo de música e também eu comecei a ver, tem um cara que ele chama Hobo Johnson e eu vi uns vídeos desse cara, ele e uma banda que ficava atrás tocando e ele meio que declamando cheio de interpretação assim e eu achei muito da hora isso e a gente fez isso nesse álbum em músicas como “De Amor Eu Não Morri”, “Frágil”, que é uma música do Zani e já tinha uma melodia muito forte ali na voz do Zani que ele já tinha gravado e tal e eu me deparei com aquilo e falei “cara, não cabe eu criar uma melodia aqui né, a música já existe assim”.

E é legal porque tem como você descolar um pouco a música do que você quer falar, né? E fica um espaço e aí acaba que a musicalidade fica mais como um apoio ali, uma base pra você falar e buscar sentimentos para aquilo que você quer falar. Então eu fiquei muito feliz de descobrir isso que eu não sabia, na “De Amor Eu Não Morri” acabou sendo assim porque tinha o sample do Djavan e eu acho que o que o Djavan fala ali naquela letra, tipo “quanto querer cabe no meu coração”, “o que não mata fere”. A poesia já tá ali na letra dele, eu acho que eu venho só retocando e dando mais contexto para aquilo que ele está falando. Então é um outro jeito de fazer música, que eu não tenho intenção nenhuma de me tornar um rapper ou um cara que que faz esse tipo de coisa, mas eu me diverti muito fazendo isso. Foi muito da hora fazer isso.

TMDQA!: Bom, já que você falou sobre “De Amor Eu Não Morri”, pra mim, pessoalmente falando, é uma música que resume de certa forma o que vocês apresentam neste novo disco. Você aparece declamando, tem som experimental e também o sample do Djavan e uma conversa de vocês ali no final da faixa. Queria saber um pouco sobre o processo dessa música, como vocês pensaram em incluir todos esses elementos?

Pedro: Essa música um amigo meu deixou um beat lá em casa, tinha só a batera e um pianinho assim e foi na mesma época da composição de “Oi”, há muito tempo. E eu sempre ouvia esse beat e cantava “Samurai”, e aí fiquei com essa ideia na cabeça de fazer uma música com o sample. E aí a gente foi, botou o sample e foi uma música que ela veio depois que já tinha muitas músicas do álbum, então eu escrevi ela junto com o João Ferreira, que é meu parceiro vocalista da banda Da Parte, porque, enfim a gente já tinha feito outras músicas juntos, “Depois do Fim” é uma composição que ele está presente também. E foi uma música eu falei pra ele tipo “cara, eu quero que essa música fique nesse ponto do disco, que eu quero que ela explique isso, quero que ela passe isso” e aí a gente construiu a letra. E depois a parte sonora os meninos vieram criando também assim, eles vão poder falar melhor das influências deles, do que foi usado ali, mas as conversas no fundo foi logo ali no início da gravação do do álbum lá em Campinas, num churrasco que a gente estava fazendo e falando merda, se zoando, rindo e aí eu comecei a gravar e aí foi engraçado porque teve uma vez num festival que a gente tocou que a gente deu uma entrevista pro Multishow e aí os entrevistadores sempre perguntam né? “E aí, o que vem pela frente e não sei o quê” e tipo, nem sempre a gente tem alguma coisa pela frente. Aí eu fui e inventei que o Zani tem um segredo guardado que a gente ia revelar um dia qual é o segredo do Zani, e aí é legal que no final você escuta ele falando “o segredo do Zani está sendo revelado”, mas não está sendo revelado porra nenhuma é só zoeira.

Zani: Cara eu acho que o que eu tenho pra falar é que uma coisa que me pegou nessa música por ter sido usado o sample do Djavan é que eu tentei buscar uma referência também, então tem coisas escondidas ali de algumas coisas gringas, um Bobby Caldwell, algumas coisas assim né? Nesse meio, nessa mistura que eu busquei pra trazer essa ideia de misturar as referências mesmo, sabe? Assim como tem ali o Djavan, tem o Bobby Caldwel e tem uma mistura de um monte de coisas de referências que talvez sejam um pouco diferentes do que as pessoas imaginam que a gente realmente escuta.

Jorge: É engraçado que teve um dia lá que o pessoal saiu do estúdio, e era um processo que acontecia muito de ficar eu e o Vitão, que foi o produtor e o principal engenheiro assim do disco, e aí eu liga a MPC, que pra quem não sabe é um aparelho muito usado na década de noventa e até hoje por beatmaker e justamente para pegar sample, e aí nós dois ficávamos brincando de caçar som e foi interessante que para “Samurai” tem umas adições muito boas assim de um sample de rhodes e de um sininho que eu senti que deu um tempero muito especial pra música. E eu acho que diz muito da linguagem dela.

TMDQA!: E Com relação a parte visual do disco, vocês pretendem lançar clipes ou visualizers das faixas? Como está esse planejamento?

Pedro: O álbum acabou se tornando um álbum visual. A gente fez um visualizer pra cada faixa e foi legal porque a gente gravou tudo na nossa cidade, Belo Horizonte. A gente gravou com pessoas fazendo o que elas fazem no dia a dia, sabe? A gente veio pelo caminho de ocasião de consumo. Como a gente imaginava as pessoas consumindo aquela música e gravamos isso. Tem algumas coisas que são um pouco controvérsias e até não da ocasião de consumo, mas foi o principal ponto de partida. Por exemplo, em “Depois do Fim” tem um amigo nosso que ele é inicialmente amigo do Zani, o Zani trouxe ele pra galera, que é o Tiozão, ele está presente em dois clipes nossos já e a gente fez um vídeo dele tomando vinho e dançando em uma sala que tem vista pros prédios, e ele está de cueca e camisa social, a gente imaginava que alguém ouviria essa música dançando em casa e bêbado, meio feliz, meio triste.

Já em “De Amor Eu Não Morri”, a Iara, uma amiga nossa, está dentro de um lava jato ouvindo a música no carro e se preparando para ir dar um rolé. Por exemplo, “Mantra do Bom Término”, a gente gravou a Cecília que é uma amiga nossa num ponto de ônibus com fone de ouvido e ela é atriz né? E ela está chorando e ouvindo a música. E tem coisas também, por exemplo, “Frágil” a gente gravou um levantador de peso chamado Bruno Belém, ele está carregando duzentos e quarenta quilos no levantamento terra e é muito louco porque ele é muito grande e muito forte, então tem essas brincadeiras que a gente pode fazer e acabou se tornando um álbum visual, sabe?

TMDQA!: E falando de um assunto um pouco mais delicado, e com muito respeito, o “Memórias (de onde eu nunca fui)”, foi o último lançamento de vocês com a presença do Breno Braga, o saudoso Tio Wilson. E eu queria saber de que maneira a ausência dele fica marcada durante o processo de criação de vocês no novo disco? Além da contribuição na bateria, o que mais vocês sentiram falta da presença do Breno durante as sessões?

Jorge: Eu acho que ele era um peso e medida muito forte em equilibrar energia interna, sabe? E lá em Campinas a gente passou por momentos bem intensos e profundos que por não ter essa energia mediadora e apaziguadora fez muita falta. Porque ele era alguém que chegava e equilibrava tudo e até por ser cinco, então era dois pra lá, dois pra cá e o Tio decidindo com bom senso. E fora isso, é um impacto grande porque acaba que é uma bola de neve. Então desde que ele morreu a gente passou por muitos processos, tanto pessoais, quanto profissionais, principalmente profissionais, de a morte dele ter sido um início de um processo que a gente teve que nos redescobrir como músicos, como sócios, como produtores, como muita coisa assim, sabe? E isso envolve muito mais gente do que a gente, envolve as nossas empresas, os nossos funcionamentos e eu acho que a todo momento que a gente já achava que tinha superado ou que já tinha resolvido isso, apareciam novos desafios. Então eu acho que no fim das contas é isso, é a gente tentando levar pra frente tudo que ele ensinou, principalmente em termos de relacionamento, coisas que são muito importantes também e é isso que eu enxergo.

Zani: É, eu gosto de falar que tipo assim, baterista tem um monte. Eu acho que a falta que ele faz não é como um baterista, é mais como um brother, é mais como um cara que colava sempre, era mais como o voto de desempate, era mais como essa figura que ele era dentro da banda tanto socialmente com os fãs e tudo mais quanto com a gente mesmo. Tipo assim, batera hoje você programa, sabe? Mas é uma falta além, muito além da música assim que ele faz.

TMDQA!: Eu imagino, e os fãs devem sentir muito isso também. Com relação a nova turnê, vocês já anunciaram as primeiras datas deste ano e eu quero saber como está a expectativa e os preparativos para levar esse disco para os palcos. Qual música vocês estão mais ansiosos para tocar ao vivo?

Jorge: Música eu já consigo adiantar que é “Sobre mim”, agora o resto a galera pode mandar aí.

Pedro: “Sobre Mim” também está sendo a minha preferida dos ensaios. “Habite-se” acho que vai ser do caralho tocar e as preparações estão bem legais porque a gente está repensando num cenário novo, a gente está pensando numa construção diferente né. Tem anos que a gente roda com esse mesmo setup e a gente está configurando várias coisas. O Zani está um pouco mais a frente aí da produção do show, ele pode falar melhor.

Zani: A gente está ensaiando bastante, e a gente está num processo muito de ensaio agora. E eu acho que é importante ressaltar que a gente continua trazendo algo além do que a gente traz no digital no ao vivo, que é uma coisa que a gente sempre tem essa preocupação, de ser um show bem pra frente pra galera pular e cantar muito com a gente. E muito do que o Chicão falou também, a gente vai trazer um pouco desses novos instrumentos que a gente conseguiu tocar ali durante a gravação e trazer um show novo.

TMDQA!: Para encerrar nosso papo, fazendo uma referência ao Tenho Mais Discos Que Amigos!, eu queria saber quais discos, ou até mesmo artistas, que foram seus amigos mais próximos durante a construção do “Depois do Fim”.

Pedro: Cara, muitos! Lewis Del Mar, Erasmo, Carlos, fala aí, gente.

Zani: Cara, João Gilberto, eu concordo com Lewis Del Mar também foi uma coisa muito próxima, assim, durante o álbum. Twenty One Pilots.

Pedro: Tem um vídeo dos meninos escutando “Evidências”, super alto.

Zani: Sei lá, eu acho que é essa mistura mesmo. Uma parada bem violão de nylon, essa questão do João Gilberto com os sintetizadores e saber transitar entre o clássico e o atual. Então, acho que passa por muita gente esse estúdio enquanto produção do álbum.

TMDQA!: Obrigada pelo papo pessoal, sucesso com o lançamento!

Lagum: Obrigada Lara, estamos juntos!

Você pode ouvir o disco completo abaixo e conferir todos os visualizers clicando aqui.

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