Mayhem tem show cancelado no Brasil sob acusação de nazismo
Divugação

Depois que o show do Mayhem em Porto Alegre foi cancelado após protestos de coletivos antifascistas, uma brasileira que vive na Noruega decidiu explicar como a banda de Black Metal é vista em seu país de origem.

Em uma thread no Twitter, Larissa Avelar contou toda a história do grupo formado em 1984, incluindo o contexto político e social norueguês naquela época, e como isso moldou as atitudes polêmicas dos integrantes.

A bizarra história do Mayhem, que até virou filme, envolve o suicídio do vocalista Per Yngve Ohlin, mais conhecido como Dead, em 1991 e, dois anos depois, o brutal assassinato do guitarrista Øystein “Euronymous” Aarseth por Varg Vikernes, ex-integrante da banda e fundador do Burzum.

Em seu post, Larissa deu detalhes sobre a relação entre os membros e como as duas mortes foram tratadas na imprensa local. Ela também listou fatos que, na visão dela, comprovam a ligação do Mayhem com o nazismo:

A acusação [de que o Mayhem é uma banda nazista] não é infundada. Varg Vikernes, nazista declarado, tocou na banda entre 92 e 93. Ele dizia que era ‘iluminado’ e já entendia que havia raças superiores desde cedo. Varg queimou igrejas de madeira consideradas relíquias na Noruega. O Mayhem utilizava símbolos nazi no seu merchan e no palco. Quando Varg foi pego pelos incêndios criminosos, já depois de ter terminado as gravações com a banda, é perguntado diretamente sobre ter usado símbolos nazistas, e responde [que o fez] ‘para mostrar apoio ao nazismo’.

Apesar disso, ela destaca que há controvérsias sobre quando se iniciou a ligação de Varg com o movimento; o próprio diz que sempre esteve ligado a ele, enquanto um ex-colega de banda afirma que Vikernes só mudou de pensamento quando entrou na cadeia.

Vale lembrar que Varg Vikernes foi condenado a 21 anos de prisão e, após deixar a cadeia em 2009, se transformou em um forte representante do supremacismo branco. Em 2013, ele e sua esposa foram detidos por planejarem um massacre, mas soltos no mesmo ano.

Brasileiros debatem sobre o Mayhem na internet

A publicação em questão colocou mais lenha na fogueira de um debate que vem tomando conta da internet brasileira. Isso porque, depois do cancelamento do show, o jornalista Leandro Demori se posicionou sobre o caso dizendo que, em suas diversas viagens para a Noruega, descobriu através de “gente fundamental do movimento antifascista de Oslo” que “o Mayhem não é considerado uma banda nazi no país”.

Demori, na ocasião, ainda reforçou que tem total respeito por gente “que entrou nessa onda essa semana”, mas destacou que “a Noruega é muito mais restritiva do que o Brasil com manifestações nazistas”, mostrando inclusive um exemplo de ação policial contra um grupo neonazista em uma de suas visitas ao país nórdico.

Ele, inclusive, apontou também que Larissa é uma conhecida sua e ressaltou a importância das pessoas se aprofundarem no assunto com a thread feita por ela para debater o tema, ainda que tenha reforçado sua posição ao dizer que, na visão do movimento antifa noruguês, a banda não é considerada ligada ao movimento nazi.

De toda forma, nenhuma das duas visões, como destaca Demori, tem qualquer intenção de “passar pano pra nazista”. Fica claro também que, nas publicações de Larissa, a principal mensagem é a de que há um grande espaço para o debate:

A discussão se o Mayhem é nazi foi feita aqui na Noruega há 30 anos, e seguiu por muitos anos. Pesquisando muito, vi que o consenso é que utilizar os símbolos é extremamente problemático, mas faz parte das personas artísticas dos membros e não quer dizer que sejam ‘nazistas declarados’. Øystein se dizia stalinista e fez parte do braço jovem do partido comunista Vermelho (Rødt), o Juventude Vermelha (Rød Ungdom). Tinha cartaz com Mao Zedong e Stalin na sua loja. Vocês acham que fora isso, esse cara tinha alguma coisa de comunista?

[…]

Agora, estou dizendo que não há coletivos antifas que acham que a Mayhem é NS [sigla usada para definir bandas de Black Metal associadas ao neonazismo]? Não, não tenho controle de tudo o que se faz ou fala aqui. Mas pela minha pesquisa nos últimos 4 dias, vi que o debate aqui na Noruega com o Mayhem já foi sobre ser ou não nazi, agora parece ser outro: qual a responsabilidade que bandas têm ao usar símbolos nazi como parte de suas personas? E a ética de ainda por cima ganharem dinheiro com esses símbolos, como é o caso do merchan? E de continuar fazendo isso mesmo depois de anos sendo avisados dos problemas?

Ela ainda ofereceu a sua própria conclusão após a pesquisa:

Como vejo, a banda não é nazi, embora tenha inúmeros problemas relacionados ao campo da extrema direita, não só o nazi. Respeito muito movimentos sociais de qualquer país, são sempre os primeiros a soar o alarme de qualquer situação opressora. Se há um consenso (não significa unanimidade) que o Mayhem não é NS, acho que no mínimo temos que prestar atenção no que eles dizem. Seria bom que os coletivos antifas brasileiros que [possuem] contato direto com os noruegueses postassem comunicados dos antifas daqui sobre o assunto.

Você pode ver todo o processo de pesquisa de Larissa pelos tweets bastante esclarecedores ao final da matéria ou clicando aqui.

Mayhem também é acusado de racismo e glorificação do suicídio

Além da discussão com relação ao nazismo, vale lembrar que o baterista do Mayhem, Jan Axel Blomberg, mais conhecido como Hellhammer, é acusado de ter declarado que não gosta de negros e que o Black Metal seria só para brancos.

O Mayhem também soma acusações de glorificar do suicídio, e durante um show do grupo no Brasil em novembro de 2022, no Maranhão, houve o relato de uma tentativa de tirar a própria vida no meio da plateia.

A discussão realmente precisa ir além!

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