Alerta de gatilho: o conteúdo do texto a seguir descreve comportamentos abusivos
Win Butler, vocalista, guitarrista e compositor da banda indie canadense Arcade Fire, foi acusado de abuso sexual por quatro pessoas.
De acordo com matéria da Pitchfork, três delas são mulheres e a outra é fluida de gênero, se identificando com pronomes neutros.
Ainda segundo a reportagem, os abusos teriam acontecido entre 2016 e 2020, quando Butler tinha entre 36 e 39 anos de idade e teria se envolvido com fãs do Arcade Fire que tinham de 18 a 23 anos.
Todas essas pessoas descreveram comportamentos abusivos, dinâmicas desbalanceadas de poder e um lado do músico bem diferente do que se vê em público, já que ele sempre apareceu na mídia como alguém que coloca as pessoas em primeiro lugar e tem programas importantes de apoio a grupos em dificuldades, como shows realizados para arrecadar fundos para vítimas de guerras e desastres no Haiti.
As supostas vítimas de abuso de Win Butler não se conheciam e as denúncias vieram à tona após a primeira delas, que se identificou como “Stella”, compartilhar um post no Instagram afirmando que o músico é “um predador sexual que tentava me coagir constantemente para realizar encontros sexuais e mandava nudes meus além de nudes dele que eu não havia pedido, mesmo após eu dizer repetidamente que não estava interessada.”
A partir daí, três outras pessoas se identificaram com o relato e também fizeram publicações parecidas em plataformas como o Reddit.
Em uma longa declaração oficial, Win Butler confirmou que teve relações sexuais com as quatro mulheres, mas disse que todas elas foram consensuais.
Quem também se manifestou foi sua esposa e colega de banda, Régine Chassagne, que defendeu o marido mesmo após as afirmações de que ele teria se relacionado sexualmente com outras mulheres durante anos em que eles já estavam casados.
Em sua declaração, Win Butler afirmou:
Eu amo Régine com todo o meu coração. Estamos juntos há vinte anos, ela é a minha parceira na música e na vida, minha alma gêmea e eu tenho sorte e sou grato por tê-la ao meu lado. Mas às vezes, foi difícil ser o pai, marido e colega de banda que eu quero ser. Hoje eu gostaria de esclarecer coisas sobre a minha vida, maus julgamentos e erros que cometi.
Eu tive relações consensuais fora do meu casamento.
Não há forma fácil de dizer isso, e a coisa mais difícil que eu já fiz foi ter que compartilhar isso com o meu filho. A maioria dessas relações foram curtas, e a minha esposa sabe delas – nosso casamento foi, no passado, menos convencional do que outros. Eu me conectei com pessoas pessoalmente, em shows, nas mídias sociais e compartilhei mensagens das quais eu não me orgulho. Mais importante ainda, cada uma dessas interações foi mútua e sempre com pessoas adultas que estavam consentindo. É profundamente revisionista, e francamente apenas errado, que alguém sugira que não foi o caso.
Eu nunca toquei uma mulher contra a sua vontade, e qualquer implicação de que eu tenha feito isso é falsa. Eu nego veementemente qualquer sugestão de que eu tenha me forçado para cima de uma mulher ou demandado favores sexuais. Isso simplesmente, e inequivocadamente, nunca aconteceu.
Mais adiante, Butler afirmou que luta com problemas de saúde mental já há algum tempo, e disse:
Apesar dessas relações terem sido consensuais, eu peço desculpas para qualquer pessoa que tenha machucado com o meu comportamento. A vida é repleta de dor e erros tremendos, e eu nunca quero fazer parte da causa da dor de outra pessoa.
Eu tenho lutado com questões de saúde mental e os fantasmas dos abusos na infância há muito tempo. Nos meus 30, eu comecei a beber para lidar com a mais pesada depressão da minha vida após a nossa família passar por um aborto. Nada disso serve para justificar o meu comportamento, mas eu gostaria de proporcionar algum contexto e compartilhar o que estava acontecendo na minha vida durante esse período. Eu não me reconhecia mais ou a pessoa que havia me tornado. A Régine esperou pacientemente me vendo sofrer e tentou me ajudar da melhor forma possível. Eu sei que deve ter sido muito difícil para ela ver a pessoa que ela amava tão perdida.
Eu tenho trabalhado duro comigo mesmo – não por medo ou vergonha, mas porque sou um ser humano que quer melhorar apesar das minhas falhas e do dano. Eu passei os últimos anos desde que a Covid chegou tentando salvar essa parte da minha alma. Eu dediquei tempo e energia significativos em terapia e cura, inclusive sessões dos Alcoólicos Anônimos. Estou mais ciente agora de como a minha persona pública pode distorcer relacionamentos mesmo que a situação pareça amistosa e positiva para mim. Sou muito grato a Régine, minha família, meus queridos amigos e meu terapeuta, que me ajudaram a voltar do abismo que às vezes eu tive certeza de que iria me consumir. A conexão que eu compartilho com os meus colegas de banda e a incrível conexão profunda que fiz com o público através da música literalmente salvaram a minha vida.
Olhando para o futuro, eu continuo a aprender dos meus erros e trabalho duro para me tornar uma pessoa melhor, alguém que possa orgulhar o meu filho. Eu digo para vocês, todos os meus amigos, família, qualquer um que eu tenha machucado e as pessoas que amam a minha música e estão chocados e desapontados com esse relato: peço desculpas.
Peço desculpas pela dor que causei – peço desculpas porque eu não estava mais ciente e ligado ao efeito que tenho nas pessoas – eu fiz merda, e apesar de não ser uma desculpa, continuarei olhando para a frente e curando o que pode ser curado, aprendendo das experiências do passado. Eu posso fazer melhor e irei fazer melhor.
A multi-instrumentista do Arcade Fire e esposa de Win Butler afirmou:
Win é minha alma gêmea, meu parceiro de composições, meu marido e o pai do meu belo garoto. Ele tem sido meu parceiro na vida e na música há 20 anos. E através de todo o amor em nossas vidas, eu também o vi sofrendo com dores imensas. Eu fiquei ao seu lado porque sei que ele é um bom homem que se importa com esse mundo, com a nossa banda, com seus fãs, amigos e a nossa família. Eu conheço Win muito antes de sermos ‘famosos’, quando éramos apenas estudantes universitários comuns. Eu sei o que está em seu coração, e eu sei que ele nunca tocou e nunca tocaria uma mulher sem o seu consentimento e tenho certeza de que ele nunca o fez. Ele perdeu o rumo e agora o encontrou. Eu amo ele e amo a vida que criamos juntos.
Você pode ver a matéria completa e original da Pitchfork, em Inglês, clicando aqui.
Por lá, há relatos mais detalhados a respeito das declarações que as supostas vítimas deram sobre as abordagens e ações de Win Butler.