Sessa
Crédito: Helena Wolfenson

Texto por Gabriel von Borell e entrevista por Felipe Ernani

Depois de revelar os singles “Gostar do Mundo”, “Canção da Cura” e “Pele da Esfera”, o cantor e compositor Sessa liberou nos serviços de streaming o álbum Estrela Acesa.

Produzido pelo próprio artista junto com o baterista e percussionista Biel Basile (O Terno/Maurício Pereira), o disco também teve lançamento mundial através do selo americano Mexican Summer.

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As 12 faixas do trabalho que sucede a estreia em 2019 com Grandeza foram inspiradas pelas obras de nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Jorge Ben, Chiquinho de Moraes, Erasmo Carlos, Arthur Verocai, Clube da Esquina, Paulinho da Viola e Baden Powell.

Apesar da curta carreira, Sessa já se apresentou em importantes festivais de música internacionais, como o Desert Daze e Brasil Summerfest, nos EUA, Le Guess Who?, na Holanda, e o Tremor Festival, em Portugal. Não à toa, já atraiu a atenção de grandes nomes internacionais, como o Belle and Sebastian, que fez elogios ao artista.

Nós conversamos com ele para falar sobre o novo álbum e muito mais e o resultado da entrevista você confere a seguir, assim como o disco!

TMDQA! Entrevista Sessa

TMDQA!: Oi, Sessa! Obrigado por tirar esse tempo pra falar conosco. Queria começar falando sobre as inspirações pra esse novo disco, que claramente tem raízes brasileiras mas explora sonoridades que vão muito além. Como você sente que construiu essa identidade tão única?

Sessa: Fala, Felipe, satisfação em trocar essa ideia. Pô, massa, legal que você escuta isso. Bicho, eu acho que na sonoridade mais direta sim, tem esse lado da influência de discos brasileiros, do período de produção dos anos 1970, pós Tropicália, dos arranjadores, desse mundo que se desdobra sem fim a partir da música do Milton [Nascimento], Som Imaginário, Clube da Esquina. Eu acho que tem uma coisa nos músicos que é uma cicatriz subjetiva de um corte feito num período sensível meio ali na adolescência, no tempo das primeiras paixões, inclusive, musicais e pra mim eu passei esse tempo com Os Mutantes, o Black Sabbath, Irma Thomas, Syd Barrett, Pink Floyd.

Então, acho que de algum jeito meio sutil que eu acho que nem transparece, esse disco tem essa camada, difícil pra mim pensar em baixo e bateria e não ir por ali, a mesma coisa com as músicas mais viajadonas, mais “prog”, tipo “Dor Fodida”, “Helena”… pode ser Zé Ramalho e Lula Cortês, mas pode ser Meddle do Pink Floyd. Aí, eu trabalhei muito tempo numa loja de discos em Nova York, que bombava no final de semana, no fim da tarde, mas onde eu também era a única alma viva por lá durante as tardes e aí varava a discografia do Pharoah Sanders, Alice e John Coltrane.

Esse período me abriu muito a cabeça e de alguma forma eu ainda faço música respondendo a esse momento; não só a esse momento, mas foi um período que eu pratiquei essa grande osmose, saca? Isso se mistura com minha vida de músico, de estudante da tradição brasileira no violão, na canção, passa por bossa, por choro, samba, o jeito de arranjar as músicas pensando na vozes na tradição do Quarteto em Cy… A produção dos discos meio vazia, meio minimalista que acho que aprendi fazendo minhas próprias gravações, ou trabalhando como músico de outras bandas na gringa.

TMDQA!: Ainda sobre esse ponto, dá pra perceber uma evolução de Grandeza pra Estrela Acesa, em especial, pelo menos pra mim, na grandeza dos arranjos. Além, claro, da maturidade da passagem do tempo e de todo o contexto que envolve, o que você sente que mudou internamente pra possibilitar essa nova sonoridade?

Sessa: Acho que muitas coisas no processo são meio instintivas, na primeira pergunta te coloquei um monte de nomes e eventos da vida que acho que desembocam nesse disco, mas não é que tudo isso foi planejado. É mais fácil olhar para o disco depois de pronto e ir ligando os pontos, durante a feitura a coisa é mais desesperada, instintiva, guiada por um desejo um pouco abstrato.

Você vai caçando o que funciona, ecoa alguma beleza, poesia na vida, não é que eu estou ali pensando se faço um disco por ali que soe mais X, Y ou Z e com letras assim ou vou por aqui em um som mais A, B, C e letras assado. É mais um cachorro vira-lata enfiando o focinho na lata de lixo e dizendo “pô, isso é comida, com isso continuo vivo, bora!”.

Mas esse processo de bicho tem coisas diferentes da “grandeza” mesmo. Eu acho que o Grandeza tinha uma coisa mais doce, mais festiva, acho que o Estrela Acesa ainda é sobre namorar no mundo mas depois de pagar com a carne alguma coisas que tão no pacote das relações, as dores, os limites, os fins e recomeços.

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TMDQA!: Falar nessa nova sonoridade é falar em “Pele da Esfera”, que é uma música realmente fantástica. É tão legal esse tom “improvisado” que ela tem e isso me leva a crer que o álbum tem, propositalmente, todo esse tom tão orgânico. Você concorda com isso? De onde acha que vem isso? É uma maneira de referenciar suas influências, de certa forma?

Sessa: Massa, tenho muito carinho por essa gravação também. Ela era pra ser um take de rascunho que gravamos no fim da diária no estúdio para lembrarmos os arranjos e gravarmos valendo no dia seguinte. Mas justo essa premissa de fazer um take “não valendo” suspendeu toda a obrigação de que ele fosse um sucesso, criando assim um sucesso [risos]. Filosofia pura. Eu acho que gravar e se abrir pra mágica, gente tocando junto é fugir das regras e das contas, três músicos é 1+1+1 = ∞.

Então, estar no estúdio é criar condições pra registrar coisas assim. As bases e minhas vozes foram todas gravadas ao vivo direto pra minha máquina de fita que tinha 6 dos 8 canais funcionando e acho que sim, para além do debate bobo se fita é melhor, se digital é melhor, as limitações do gravador te fazem resolver as coisas mais no dedo e eu acho que isso traz o melhor dos músicos.

TMDQA!: Em uma entrevista conosco, o Dave do Belle and Sebastian falou que o Grandeza era um dos discos favoritos dele. Como é ser reconhecido assim, internacionalmente e por alguém com uma carreira tão legal?

Sessa: Pô, pois é. Fiquei de cara quando li. Ah, é muito massa. Música é uma construção coletiva dos povos no tempo, né? Então, é uma conversa de gerações e de milênios. É muito massa ser reconhecido por alguém que está nesse corre.

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