Yohan Kisser
Crédito: Marcos Hermes

Neste final de semana, será realizada a nona edição do festival Best of Blues & Rock.

Gratuito, o evento carrega a missão de promover a música instrumental e acontecerá tanto no Parque Farroupilha (Redenção), em Porto Alegre, nesta sexta-feira (15), como no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, no domingo (17).

O festival terá a participação do brasileiro Yohan Kisser e de Joe Perry, guitarrista e um dos fundadores do Aerosmith que vem ao Brasil com o projeto The Joe Perry Project, no qual é acompanhado por Gary Cherone (Extreme, Van Halen), Buck Johnson (Aerosmith, Doobie Brothers, Hollywood Vampires), Chris Wyse (Hollywood Vampires, The Cult, Ozzy Osbourne) e Jason Sutter (Chris Cornell, New York Dolls e Cher).

Já Yohan é filho de Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, e faz parte da banda Sioux 66, formada em 2011, e da Kisser Clan, em que toca clássicos do Rock e do Metal junto com o pai.

No festival, Yohan se junta a Thiago Brisolla (violino), Salomão Sidharta (clarone), William Paiva (bateria) e Guto Passos (baixo). Ele relembrou que, na última edição do evento, teve “a honra” de tocar ao lado do pai, em apresentação na qual fizeram versões instrumentais de clássicos do Deep Purple.

Agora com um novo EP e pronto para ministrar também uma masterclass, Yohan se junta a uma gama de nomes que já passaram pelo evento que inclui artistas do calibre de Joss Stone, Buddy Guy, Chris Cornell, Joe Satriani, Tom Morello, Zakk Wylde e muitos outros artistas nacionais e internacionais. A edição 2022 ainda terá a participação de Lan Lanh, que retorna aos palcos com seu novo projeto solo.

Aproveitamos a oportunidade para bater um papo com Yohan e entender um pouco mais sobre tudo que envolve a sua participação no festival, incluindo carreira, inspirações e mais. Confira a seguir!

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TMDQA! Entrevista Yohan Kisser

TMDQA: Você é um músico que trilha um caminho muito interessante entre a teoria e as apresentações ao vivo. Tudo isso com um background do Rock And Roll, onde centenas de bandas fizeram história sem se aprofundar em graduações, por exemplo. Como foi seu caminho na música até agora e por que acha que acabou o trilhando de maneira mais “acadêmica”?

Yohan Kisser: O meu caminho até agora teve muito aprendizado no rock and roll. Lógico que é engraçado dizer isso, mas tanto nos [discos de vinil], escutando as músicas e tirando, mas também nos vídeos hoje em dia, que a gente tem acesso ao próprio Tony Iommi ensinando os riffs, minha adolescência sempre foi no rock and roll, né, tirando música. E só depois, mais velho, com 19 anos, que eu entrei no conservatório, por uma vontade de entender mais. Depois que eu já tinha escutado muito Slayer, comecei a escutar coisas como Frank Zappa e Yes, e essas coisas me deram vontade de entender um pouco mais a teoria, a harmonia e não só tirar os riffs no instrumento, mas também entender o sistema musical como um todo.

E assim foi meu caminho, mas eu acho que os dois são igualmente importantes. Acho que estudo no papel é muito importante, mas não é só lá né. Também com o ouvido, tirando música sentado, escutando música, acho que isso também é estudar. O importante é estar estudando, em contato com a música, em contato com o instrumento, e esse foi o caminho que eu tento ainda trilhar e tento manter sempre. Tendo contato com o movimento e com a música e com o ouvido.

TMDQA: Ao mesmo tempo, você também faz parte de bandas como Sioux 66 e Kisser Clan, onde toca clássicos do Rock ao lado do pai. Essa é uma forma de balancear as coisas?

Yohan: Isso foi uma grande escola também, né? Isso foi fundamental, comparando com a última pergunta de como foi meu caminho até aqui, foi também o Kisser Clan e o Sioux 66, saindo um pouco da asa do pai, tendo esse contato com a banda, já com datas, com gravação, com outros schedules, com festival grande. Então, tudo isso também foi grande aprendizado e também essa questão de balancear agora com meu trabalho solo, estou tendo mais oportunidade de fazer outros estilos de música que eu gosto, outros instrumentos, outros timbres que eu também toco, [uma vez que] no Sioux eu só toco guitarra e no Kisser Clan também. Só, né? É maravilhoso também, eu adoro estar nessa posição.

E é muito bom também, são dois tipos de encarar o show de formas diferentes, né? Se apresentar com o Sioux como banda, a gente realmente [se torna] um corpo de cinco pessoas ali e eu me sinto um quinto desse corpo, né? No Yohan Kisser, já com banda, mesmo assim, eu tô de frente a vários trabalhos de ter que lidar com todo mundo, com a questão visual do palco, com a questão do setlist, são decisões que cabem só a mim. O que também é bom por um lado e diferencia bastante do trabalho do Sioux. Então, acho que talvez esse equilíbrio realmente exista e novos aprendizados.

TMDQA: Quais são os guitarristas que mais te inspiraram até aqui?

Yohan: Acho que os guitarristas que mais me inspiraram até aqui foram Tony Iommi, Ritchie Blackmore, o [Eddie] Van Halen e Jimi Hendrix.

TMDQA: Quando falamos a respeito do sobrenome Kisser, é lógico que rapidamente o conectamos a um dos nomes mais influentes da história do rock mundial. Crescer em um ambiente assim deve ser inspirador e, muitas vezes, uma grande pressão. Como foi pra você estar rodeado de canções, guitarras, riffs, companheiros de banda e outros tantos elementos trazidos pelo seu pai?

Yohan: Sempre foi muito positivo, muito bom, muito privilegiado também de vários ensinamentos — não só no instrumento, de técnica também e dicas musicais, mas de conversa sobre a liberdade, sobre a música, sobre a vida de uma maneira geral. Acho que todos nós quando nos tornamos amigos dos nossos pais também aprendemos muito sobre a pessoa que eles são, a profissão que eles têm. E acho que todo ensinamento eu carrego comigo, e meus irmãos também, que não são músicos. E acho que tudo isso é muito bonito.

Foi muito positivo crescer com música, não dá pra dizer que eu tirei do nada, sempre fui rodeado de música, guitarra, rock and roll e também o violão de náilon, meu pai sempre estudou muito o violão e o repertório clássico em casa, então foi uma coisa que eu sempre cresci e naturalmente acabei indo pra esse caminho e me apaixonando também.

TMDQA: A gente queria saber como você acha que a música tem o poder terapêutico?

Yohan: Com certeza a música influencia a gente mesmo a gente não prestando atenção. Isso está provado em trilha sonora, acho, e em rituais também, né? De Ayahuasca por exemplo. Acho que a música — mesmo que você não esteja prestando atenção… uma música na academia, uma música no restaurante, essas coisas influenciam muito a gente, nas nossas tensões, né? Toda a cultura musical, tonal e até atonal, tudo que isso passa pra gente. Sobre medicina, sobre curas, tudo isso é um grande mistério, né? Na própria medicina enquanto ciência, muita coisa a gente não conhece, mas que definitivamente a música influencia muito as nossas emoções, isso influencia.

E que também quando a gente tem um ímpeto e uma vontade muito forte, aquilo é real, né? Por exemplo, gravidez placebo, né? A pessoa acreditar realmente, tá ligado? As pessoas são muito fortes e a música tem um poder muito forte de pensamento, de imaginação e de espírito, né, de clima. Então, acho que essas coisas eu também não tenho toda autonomia pra falar, mas por que não?

TMDQA: O que podemos esperar do seu show no Best of Blues & Rock? Que tipo de resposta você gostaria de ouvir do público quando deixasse o palco e todos entendessem as suas mensagem através das guitarras?

Yohan: Eu acho que, além das guitarras, também estou trazendo pra esse repertório muitas teclas, muito piano e muito violão de náilon, que é o meu instrumento de formação. Além disso o baixista que está comigo, Guto Passos, toca baixo e também está tocando Mini Moog; o baterista, que é o Willian Paiva, também toca percussões gerais e está enfrentando um repertório que eu selecionei aí de muita coisa clássica — Stravinsky, Frank Zappa, Hermeto Pascoal, acho que é isso que o público pode esperar também. E além desse trio que tem me acompanhado já, eu chamei o Salomão Sidharta, que está nas madeiras — ele está tocando clarinete e saxofone — e o Thiago Brizola, que está tocando violino, viola e banjo.

Então, eu fiz os arranjos de toda essa seleção, fiz o setlist, alguns arranjos e a gente tem ensaiado. O resultado tá muito legal. O que o público pode esperar é isso, é um evento gratuito, totalmente instrumental e com todos esses timbres e arranjos e músicas que variam entre o rock and roll e a MPB e talvez o jazz. Com muitos timbres também, variando entre banjo, piano, baixo e Mini Moog, que é um sintetizador super moderno. Então, acho que vai ser um show bem impressionante até pra gente mesmo. Acho que eu não sei ainda muito o que esperar do resultado que vai ser, mas estou bem ansioso positivamente.

TMDQA: Você tem mais discos que amigos?

Yohan: Cara, falam que a gente tem mais dedos que amigos, né? Talvez. Eu tenho bastante disco e muitos colegas, mas acho que eu tenho o privilégio de ter uma família maravilhosa, amigos próximos de longa data, ter uma banda que a gente tem um clima maravilhoso que realmente ensaia, trabalha muito e quando chega no palco tá se divertindo.

Então, acho que isso é amizade, também poder contar, [ter] trocas, almoços e, enfim, um contar com o outro. Acho que essas são as amizades, e acho que talvez seja importante isso, né? É sempre bom ter muitos discos e ter bons amigos.

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