Chinaina
Foto por Pamella Gachido

A última quinta-feira, 03 de Fevereiro, ganhou ares carnavalescos com o novo EP do músico, cantor e compositor pernambucano Chinaina — que até pouco tempo atrás assinava como China. Intitulado Carnaval da Vingança, o sexto trabalho solo do artista combina duas de suas referências seminais: o frevo e o hardcore.

O disco chega às plataformas digitais através do selo Pedra Onze. O repertório mescla músicas inéditas e regravações de duas de suas composições mais conhecidas. Para saber mais sobre o projeto, o TMDQA! bateu um papo com Chinaina!

Chinaina e o Carnaval da Vingança

O som que irrompe dos alto-falantes catapulta o ouvinte direto para o meio da folia do carnaval pernambucano. A atmosfera festiva é contagiante. Mérito da produção, conduzida com propriedade pelo próprio artista, frequentador assíduo das festas de rua de sua cidade natal, Olinda, e que sempre observou aquele peculiar conjunto de regras e atitudes carnavalescas sob uma ótica moldada desde cedo pelo punk rock.

Fruto desse encontro entre a contagiante energia da folia com o peso do rock, a primeira amostra do registro veio em Novembro de 2021 com uma versão renovada para “Hardcore Brasileiro”, um dos sucessos da primeira banda de Chinaina, a Sheik Tosado.

A música, lançada originalmente em 1999, ganhou releitura com uma orquestra de frevo regida pelo maestro Nilsinho Amarante, mas manteve a mesma atitude da versão original, acelerando o passo dos habituais 150 BPM para 180 BPM.

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Outra grande composição que foi contemplada em Carnaval da Vingança foi “Deixe-se Acreditar“, sucesso do Mombojó na voz de Felipe S — com quem divide os vocais na nova versão. Chinaina nos conta que a música acabou entrando no EP puxada pela lembrança:

Quando o Mombojó lançou essa nossa parceria em 2003, ela se tornou um grande sucesso da banda, e nos shows era muito legal ver o público cantando a música inteira e explodindo de alegria no refrão. Lembrei desse momento e, revisitando a letra, vi que ela tinha tudo a ver com o ‘Caranaval da Vingança’, com esse desejo que todos nós temos de extravasar, de viver nesse reino da alegria que a música propõe. Estamos precisando muito disso no momento, inclusive.

O músico então percebeu que dava pra “criar um arranjo de frevo para ela; afinal de contas, o frevo é um ritmo quente, que te joga pra frente e que te faz querer dançar como se não houvesse amanhã“.

Quem acompanhava o quadro “Ócio Criativo”, no canal de Chinaina no YouTube, sabe que criar novas versões para clássicos da música brasileira sempre foi um dos seus prazeres. Revisitar suas próprias composições com intenção de frevo, não foi diferente:

A frase de Chico Science ‘diversão levada a sério’, quando ele falava sobre o trabalho, é meu mantra da vida. Se eu não me divertir fazendo isso, quem vai se divertir junto? A parte difícil foi a construção dos arranjos. Foram muitas trocas de mensagens com o maestro Nilsinho Amarante para chegarmos nesse resultado.

O artista conta que, para convencer o maestro a acelerar o frevo, foi preciso apelar para a atmosfera das ladeiras de Olinda, onde as orquestram tocam mais aceleradas. Segundo o músico, “carnaval é suvaco e loló, esses cheiros tem que tá nas músicas“:

Falei para ele convocar os melhores músicos, caras acostumados a tocar na rua, e assim ele o fez. Nilsinho entendeu exatamente o calor que eu queria passar no disco e fez arranjos incríveis. Comprou minha ideia e aceleramos o frevo. Acredito que até o momento não existem frevos gravados nessa velocidade. Eu brincava com ele e dizia que a gente estava fazendo história. E ele respondia dizendo que os maestros mais conservadores vão querer matá-lo [risos].

Composições Inéditas

Não só de versões o Carnaval da Vingança viverá. O registro traz duas músicas inéditas, sendo a primeira delas a faixa de abertura “Carnaval Infinito“, um samba-reggae escrito em parceria com a multi-instrumentista Michelle Abu. A outra, responsável por encerrar o disco, é o frevo-hardcore “Virando Papangú“, que traz a participação especial de Cannibal, vocalista da lendária banda Devotos.

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Segundo Chinaina, as parcerias vieram naturalmente. No momento em que o artista ia fazendo as músicas, já estava pensando em quem convidaria pro disco. Já sobre as gravações, que devido à pandemia aconteceram a distância, o músico nos conta que “foi a experiência mais maluca” que teve em toda a vida:

Veja como a música é uma coisa incrível e ultrapassa qualquer barreira: eu consegui produzir o EP em SP gravando com músicos na Bahia e em Pernambuco. A tecnologia ajudou muito. Instalei uma placa virtual em que conseguia ouvir o áudio que estava sendo gravado em Recife com ótima qualidade. Para ver os músicos e dirigi-los em tempo real usei o app Zoom. Deu muito certo e foi empolgante descobrir esse processo.

Carnaval da Vingança nasceu com a rua em mente. Em nossa conversa, Chinaina revela que, no início, achava que poderia levar o EP para os carnavais populares mas, com o decorrer da pandemia, “a cada dia foi ficando claro que isso seria impossível e o EP acabou tomando contornos mais enérgicos” para trazer essa sensação de rua para as casas:

Desde a capa assinada por Neilton Carvalho (Devotos) até as músicas e seus arranjos, a intenção [é] trazer o calor do carnaval de rua de alguma forma. O ‘Carnaval da Vingança’ traz a saudade da folia mas, sobretudo, diz que quando a gente puder se encontrar de novo, faremos um carnaval infinito.

Ouça abaixo o EP Carnaval da Vingança na íntegra.

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Caça Joia

As novidades na carreira de Chinaina não param por aí! Como te contamos aqui, o artista estreou no ano passado o programa Caça Joia, onde promove uma busca frenética por talentos musicais da cena independente brasileira.

A primeira temporada do programa contou com 13 episódios, dirigidos por Pamella Gachido e produzidos pela Pedra Onze, e está disponível no Globoplay e no Canal Futura, além do podcast nas plataformas. Agora, China confirma a segunda temporada da série e nos conta que “a recepção do programa tem sido demais“:

É um espaço para a música independente e novos nomes. A curadoria é feita com muito carinho e acredito que tanto os artistas quanto o público estavam sedentos por um programa que traz tantas novidades do cenário musical, independente de números ou hype. Desviamos de algoritmos e número de seguidores dos artistas, o foco é a música e o discurso deles. Recebemos mais de 3.500 indicações de banda para a nova temporada e ouvimos todas!

A curadoria é feita por Chinaina e Pamella Gachido. Segundo o artista, a missão do Caça Joia é mostrar como a nossa música é diversa, indo a todos os cantos do nosso país continental. No entanto, como ainda estamos vivendo uma pandemia, o formato irá permanecer o mesmo da primeira temporada, conversando com os artistas remotamente para a segurança de todos.

A segunda temporada de Caça Joia ainda não tem data de estreia, mas os episódios já se encontram em fase de produção. Abaixo, você confere o trailer da primeira temporada do programa.

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