Leo Quintella
Foto por Valentina Denuzzo

O cantor, compositor e instrumentista paulistano Leo Quintella lançou no mês de outubro seu disco de estreia Camaleão, que chegou pela gravadora Biscoito Fino.

O disco vem com faixas que trazem como referências ritmos do pop, rock, disco, samba, folk, entre outros. Por meio das inúmeras influências que esse trabalho apresenta, Leo consagra seu estilo de trabalho como “retromoderno”, já que ouve de tudo e traz sempre os clássicos para o tempo presente. Com criatividade, genuidade e muita intimidade, Camaleão consagra a estreia de Leo no mercado musical.

Conversamos com Leo pra falar da sua estreia e trajetória. Confira abaixo!

TMDQA! Entrevista Leo Quintella

TMDQA!: No dia do seu show de lançamento aqui em São Paulo (capital) você chegou a comentar que a ideia do disco surgiu lá em 2014. Quer dizer, esse projeto estava guardado há sete anos?

Leo Quintella: Eu falei que começou em 2014, mas na verdade… quando eu vou pegá-lo, eu não consigo ser objetivo. Eu sinto que o Camaleão é o ápice do meu momento de compositor. Desde muito novo, eu ficava inventando histórias, personagens… Então, antes de ser compositor e de virar músico, eu me considero um criativo. E isso foi sempre o meu motorzinho. Eu vi isso como sendo algo que eu sempre tive mais prazer em fazer, em criar as coisas.

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TMDQA!: Quais as suas maiores referências musicais nesse período?

Leo Quintella: Eu sempre tive uma boa referência musical. Por exemplo, dentro de casa: meu avô é imigrante, ele escutava muito jazz. Já entre 2006 e 2009 um bichinho me picou chamado The Beatles. Em 2010 teve o show do Paul McCartney aqui; quando eu fui naquele show, eu comecei a escutar todos os discos e pensei “é isso”.

Eu fui pegando muito essa onda com os Beatles, com o rock inglês, aí me veio como criador que meu objetivo de vida era criar uma música. E fui gostando aos poucos de música… Fui pegando aos poucos…

TMDQA!: O que mudou de 2014 pra cá? O que veio amadurecendo nesse período?

Leo Quintella: Em 2014, eu tomei um pé na bunda de uma menina que era viciada em música e eu era viciado nela (risos). Ela não dava muita bola pra mim, mas foi a melhor coisa que aconteceu na vida. Eu já queria compor uma música antes, mas depois desse término eu fiquei com mais vontade ainda. Quando eu levei esse pé na bunda eu fiz “Menina”; inclusive, essa música veio para o disco. Eu fiz faculdade de administração, meus pais sempre me deram o maior apoio para ser criativo, e quando eu entrei na faculdade que eu escrevi essa música e nisso eu senti que eu nasci.

A expectativa que eu tinha de “pô, quero compor essa música” foi superada, porque eu vi que eu tinha várias questões de autoestima, de tudo, que meio que vieram nessa hora. Entre os amigos e a faculdade, a música tinha viralizado. Eu nasci aí. Eu entrei na faculdade e eu tive uma transformação muito engraçada, porque eu sempre fui muito tranquilão, não falava tanto o que eu queria, mas quando eu entrei na faculdade e compus uma música, tudo mudou. Nesse tempo de faculdade, enquanto as pessoas estavam estagiando, eu fui fazendo as minhas coisas. O meu “estágio” era pensar em música, gravar, lançar, fazer show…

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TMDQA!: Nessa época da faculdade você já via a música como um trabalho? Ou ainda era uma espécie de hobbie?

Leo Quintella: É uma questão que vira uma aceitação. Eu sempre tive o apoio muito forte dos meus pais, eles sempre alimentaram muito isso em mim. Na faculdade eu tive o meu laboratório, eu estagiei com a música durante a faculdade inteira. Conheci uma pessoa de uma agência de lançamentos especializada em MPB e foi nisso que comecei a fazer um plano de negócios para tirar as ideias do papel. Foi nisso que chegamos à conclusão de que eu precisava fazer um disco. Eu tinha várias composições, e em outubro de 2020, eu tava entendendo como a coisa ia funcionar. Montamos com muita calma cada etapa do processo, e começamos a montar o Camaleão — tem músicas de 2014, de 2020…

Eu nem cravo muito a data em 2014 porque é um nascimento, é uma parada que nasceu muito de uma maneira “independente de onde iria chegar”, eu alcancei um estágio que eu consegui comunicar através de um disco, através de vídeos, através de show, eu virei artista. Eu demorava pra falar que eu era artista…

TMDQA!: E quando foi que você se entendeu como artista?

Leo Quintella: Quando eu gravei esse disco. Eu sabia que eu sabia compor. Eu não tinha a menor confiança na minha voz, eu cantava em uns tons que não me favoreciam. Todas essas gravações que antecederam não tinham esse “veneno” da minha voz (um tom grave) que acabou virando o “veneno” do disco. Quando eu escutei as músicas, quando eu escutei o disco, eu decidi assumir: virei artista. Eu já era desde antes, mas é um processo de empoderamento. Foi muito gostoso criar esse mundo do Camaleão, teve a parte do disco e a parte do vídeo também que foi muito boa.

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TMDQA!: E como foi que você chegou na decisão de fazer uma releitura pra “Meu Sangue Ferve Por Você” do Magal?

Leo Quintella: Na época que eu tava gravando o disco, eu tava estudando house music e em paralelo eu tava estudando o movimento disco, vendo um pouco de Cassiano, Lincoln Olivetti e o Sidney Magal. Então eu tava com a música do Sidney Magal na cabeça tinha um tempo. E eu queria colocar uma música de fora no disco.

Eu já tava com a música “Meu Sangue Ferve Por Você” na cabeça, e antes de fazer uma versão minha eu fui ver se tinham outras versões. Enfim, encontrar o caminho de uma versão é difícil, né? Porque você não quer gerar uma comparação, mas sim uma alternativa à música original.

TMDQA!: Você se autointitula uma pessoa “retromoderna”. O que seria isso?

Leo Quintella: Se alguém me pedisse pra definir minha arte em uma palavra, eu diria “retromoderno”. A coisa de você pegar referências de antes e trazer para hoje em dia é algo que sempre existiu. Essa coisa do “vintage” sempre foi muito “retromoderna”, mas eu acho que, assim, a pandemia tirou a perspectiva de futuro da galera. Somando isso com a quantidade de coisas disponíveis nas plataformas, além de que você não precisa ouvir só o que está sendo lançado, faz com que a galera se apegue às décadas passadas.

Eu acho que o retromodernismo é você beber das fontes do passado (e hoje em dia 2013 já é passado) e traduzir para o hoje em dia. O sentimento, na hora de compor, ele é um só. E eu acho que tem um desafio aí de não copiar o que tinha no passado. Por exemplo, se eu pegar um violão e simplesmente tentar imitar o João Gilberto não vai funcionar, mas o que eu posso tirar de João Gilberto para compor hoje?

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TMDQA!: Às vezes performamos tanta coisa nas redes sociais e a nossa intimidade acaba se perdendo, mas no seu show de estreia você fez muita questão de compartilhar a sua intimidade com o público, assumindo as suas “primeiras vezes” ali no palco. Como tá sendo essa coisa da intimidade versus público pra você?

Leo Quintella: Então, na verdade eu não fiz muito esforço. Na verdade é o seguinte, eu teoricamente tinha que ter tudo bonitinho pra falar no show, tudo redondinho, mas eu não consigo. Eu sei o que eu vou falar, eu sei o que eu vou cantar, e foi um pouco natural aquele dia. Eu não vejo muito problema em chegar lá e falar “é a primeira vez que tô fazendo tal coisa”, eu sinto que a turma que me acompanha é muito engajada, muito próxima. E eu sinto que a galera gostou disso. Gostou dessa parada que não é forçada, é 100% assim. É pra trocar ideia.

TMDQA!: Por fim, como está sendo esse momento presente? De colocar um disco de estreia no mundo com as retomadas de shows, enfim…

Leo Quintella: Tá sendo o momento que eu brinco de “agora é a hora”, agora é a hora de deixar comigo (risos). É muito legal isso porque assim, você vê que pra você entregar uma música, tem todo um trabalho, uma comunicação, tem um milhão de mãos envolvidas, muita gente que passa diretamente e indiretamente. Mas quando você tá no palco, que é O momento, é isso, é você ali.

O trabalho tem que fluir, não adianta nada, tanto em questões artísticas como pra tudo, fazer o disco e não ir pra rua… só se você fosse os Beatles e não pudesse ir pra rua. A composição nasce comigo sozinho, eu tenho poucas co-autorias, então a música vem comigo e ela passa depois na mão de várias pessoas até terminar comigo de novo, cantando no palco. Só que, claro, com toda essa transformação e com tudo isso que foi agregado levado em consideração. Enfim, eu sinto que esse é o momento.

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