James Hetfield (Metallica)
Foto: Jimmy Hubbard

O mundo da mitologia está recheado de magníficos personagens mágicos com poderes que transcendem a imaginação humana. Cada folclore possui seus próprios ícones, de forma a incorporar tradições, crenças e hábitos de uma cultura particular. Já ouviu falar, por exemplo, do João Pestana?

Originário do folclore europeu, o personagem (originalmente conhecido como Sandman ou, em tradução livre, Homem de Areia) é uma figura relacionada ao sono de crianças. Segundo a crença, ele surge de forma a contribuir para que elas tenham uma boa noite de sono. O material usado para esse fim é uma espécie de areia mágica (daí o nome).

O personagem é citado no maior hit da história do Metallica. “Enter Sandman“, o principal single do incrível Black Album da banda, traz a temática de sonhos epesadelos à tona e não tardou a se tornar uma canção emblemática para a história do rock.

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Abaixo, separamos algumas curiosidades sobre esta música atemporal, cujo lançamento completa 30 anos em 2021. Confira logo após o vídeo:

 

Que isso, Joãozinho?

Se você considera “Enter Sandman” uma música sombria, é porque você não conhece a letra original. Em sua primeira tentativa, o vocalista James Hetfield escreveu uma letra um tanto mais pesada, incluindo referências à síndrome de morte súbita infantil (óbito inesperado de crianças com menos de um ano de vida, sem motivo aparente). O verso “Off to never never land” (uma referência direta a “Peter Pan”), originalmente, era “Disrupt the perfect family”. Bizarro!

Para Hetfield, o instrumental da música soava comercial demais e a letra agressiva foi uma forma de balancear a equação. Coube ao baterista Lars Ulrich e ao produtor Bob Rock a função de pedir uma letra “mais acessível”.

Nessa versão embrionária, o João Pestana ainda mata a tal criança. Mas vale lembrar também que, em algumas representações do mito do Sandman, ele também é o responsável pela morte de crianças, sendo também classificado como uma figura desagradável.

 

Um riff majestoso que, de alguma forma, se relaciona a Chris Cornell

Talvez até antes da letra, o mais icônico elemento da música é o riff principal de guitarra. Com uma pegada sombria e ao mesmo tempo pulsante, a linha, escrita pelo guitarrista Kirk Hammett, foi um dos primeiros elementos da música a surgir, guiando a criação de todo o instrumental e, por último, da letra.

Em uma entrevista de rádio em 2017, Kirk explicou que a composição teve inspiração na banda Soundgarden. Mais especificamente, o guitarrista contou que, na época, estava encantado pela sonoridade encontrada em Louder Than Love, o segundo disco do grupo original de Chris Cornell. Segundo ele, esse foi o “estalo” em forma de referência:

Eram duas ou três da manhã. Eu tinha acabado de escutar o ‘Louder Than Love’. Foi na época em que o Soundgarden ainda era, de alguma forma, underground e estava em uma gravadora independente. Eu amo muito aquele álbum. Eu ouvi, me senti inspirado, peguei a minha guitarra e o riff nasceu.

https://www.youtube.com/watch?v=_YDbHuGKoiU

 

E esse solinho, hein?

Ainda sobre a magnífica contribuição de Hammett para a música, temos o solo que soa, ao mesmo tempo, agressivo e melódico. Uma grande característica desse momento é o uso de um pedal de wah-wah, um efeito muito utilizado no mundo do rock. Na visão da Guitar World, “Enter Sandman” tem o quarto melhor solo com wah-wah da história. A canção perde apenas para “Sweet Child O’Mine” (Guns N’ Roses), “White Room” (Cream) e “Voodoo Child” (The Jimi Hendrix Experience).

Segundo Hammett:

Acho que o solo é maravilhoso por conta própria. Combina perfeitamente com a música e adiciona a ela uma dimensão diferenciada.

 

Amém

Liricamente criativo como sempre, Hetfield propôs a inserção de uma popular oração infantil no ponte da música. O resultado foram os versos de uma popular versão de “Now I Lay Me Down to Sleep“:

Now I lay me down to sleep,
I pray the Lord my soul to keep
If I should die before I ‘wake,
I pray the Lord my Soul to take

A inserção gerou certa polêmica por conta do contexto geral da música. Alguns entendem que o eu-lírico (no caso, uma criança) está implorando para que Deus tire sua vida. Isso levou Pat Boone, um dos vários artistas que já fizeram cover de “Enter Sandman”, a trocar os dois versos finais da estrofe por “Guard me, angels, through the night / wake me in God’s holy light”, com base em outra oração popular.

 

Toca o sample de “canção de ninar”

Logo depois da oração, Hetfield canta o verso “Hush, little baby, don’t say a word”. A frase foi tirada diretamente de “Hush, Little Baby” uma tradicional canção de ninar norte-americana cuja letra indica que o eu-lírico dará benefícios para a criança caso ela se mantenha quieta.

E isso só comprova a teoria de que James Hetfield e os meninos do Metallica são grandes amantes da ideologia dos folclores. Outra prova disso é a cover incrível que a banda gravou, em 1998, para “Whiskey in the Jar“, uma tradicional canção irlandesa.

 

O grand finale

A canção tem um sucesso inquestionável e a própria banda tem dimensão disso. Na maioria dos shows da banda, “Enter Sandman” é usada como a canção final, o grand finale.

No entanto, por ter sido lançada apenas no quinto álbum do Metallica, a música não é sequer uma das cinco que mais apareceram em shows. De acordo com a contagem do setlist.fm, singles de álbuns anteriores tiveram mais versões ao vivo. São eles: “Master Of Puppets“, “Creeping Death” “Seek & Destroy“, “From Whom The Bell Tolls” e “One“.

Haja repertório bom, hein!

 

Miley Cyrus, Mac DeMarco e mais

Já citamos acima a versão jazz/soul de Pat Boone, mas, considerando-se a poderosa base de fãs do Metallica, é óbvio que outros artistas regravaram a canção ao longo dos anos.

Paul Young, Jay Smith e vários outros grupos também já gravaram suas próprias versões. Isso sem falar, é claro, na aguardada edição comemorativa de 30 anos do lançamento do Black Album. Conforme já falamos aqui, “Enter Sandman” receberá homenagens de uma gama abrangente de artistas: Alessia Cara & The Warning, Mac DeMarco (que sempre toca sua cover em shows), Ghost, Juanes (versão essa já disponível), Weezer e Rina Sawayama.

É o Metallica unindo definitivamente todas as tribos!

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