Cheap Trick
Foto por David McClister

Com quase 50 anos de história, o Cheap Trick não pretende parar tão cedo. E, se alguém tinha alguma dúvida com relação a isso, os caras estão lançando hoje (09) o novo disco In Another World — vigésimo da prolífica carreira.

Considerada uma das mais influentes dos Anos 70, a banda tem no currículo a admiração de nomes como Eddie VedderKurt Cobain, Billie Joe Armstrong e tantos outros que fizeram seus próprios caminhos lendários no Rock and Roll. Mais do que isso, é claro, um caminhão de hits como “Surrender” e “I Want You to Want Me” embalam o sucesso dos norte-americanos.

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O que mais admira, no entanto, é ver que Robin Zander e companhia seguem firmes com sua sonoridade alegre e com um objetivo muito simples: colocar um sorriso no rosto do ouvinte, e os dois primeiros singles do álbum, “Boys & Girls & Rock N Roll” e “Light Up the Fire”, mostraram exatamente isso.

O restante do trabalho traz essa mesma perspectiva e, em entrevista exclusiva ao TMDQA!, Zander contou em detalhes como os lendários músicos — que fazem parte do Hall da Fama do Rock — mantêm a paixão pelo que fazem e ainda relembrou histórias sensacionais. Confira abaixo!

Entrevista com Robin Zander (Cheap Trick)

TMDQA!: Oi, Robin! Que prazer estar falando com você. Como estão as coisas por aí?

Robin Zander: Tudo bem, tudo bem! Eu tenho uma camiseta exatamente igual à sua. [dos Beatles]

TMDQA!: Opa, que boa forma de começar essa conversa! Não tem como errar com os Beatles, né? Eu não tenho uma igual à sua [feita pelos filhos, escrito ‘Melhor Pai’], mas quem sabe um dia. [risos]

Robin: [risos] Quem sabe!

TMDQA!: Bom, é até difícil saber por onde começar com uma história tão longa quanto é a do Cheap Trick. Mas queria falar primeiramente das músicas novas. O mais interessante de todo esse projeto pra mim é sentir o quão alegre elas soam. Na verdade, elas soam tão alegres quanto as músicas lá dos Anos 70. Como vocês conseguem manter essa alegria na música até hoje?

Robin: É muito simples, na verdade, eu acho. É porque nós amamos a música. A gente ama o que faz, sempre amamos, e, sabe, é o Cheap Trick. É assim que soamos, são os nossos corações e almas saindo nas músicas.

E também, sabe, em momentos como esse que vivemos agora… é hora de colocarmos um sorriso nos rostos de vocês.

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TMDQA!: Definitivamente! Por sinal, você já tomou sua vacina?

Robin: Sim! Já tomei as duas doses!

TMDQA!: Ufa, que maravilha! Minha vez está chegando, tomara. Bom, continuando, essa ideia de colocar um sorriso no rosto das pessoas é algo que vocês sempre tiveram, né? Muita gente diz que o Rock está morto e essas besteiras mas é só olhar pra vocês… sempre de bom humor e sempre fazendo um som que agrada, seja Rock ou não.

Robin: Olha, o The Who disse isso muito tempo atrás. “O Rock está morto, vida longa ao Rock”, eu não acho que o Rock tenha morrido em algum momento. Ele sempre esteve aí. Nos Anos 70, eles não sabiam do que nos chamar, se éramos uma banda de Rock pesado ou uma banda Pop Rock ou o que quer que fosse, sabe? Então, o que é o Rock? Eu não entendo por que as pessoas têm que categorizar esse estilo de música em [apenas] uma categoria.

O Rock clássico não existia até todas as bandas dos Anos 70 ficarem velhas! [risos] E aí, “Ah, sim, clássico, temos que falar isso agora”. Eu não entendo por que as pessoas pensam isso e, na minha opinião, o Rock nunca morreu. O Rock sempre esteve por aí, é só que ele não é mais tão popular quanto já foi. Mas se você quiser ver uma banda de Rock, você consegue. Se você quer comprar um disco de Rock, um novo, há bandas por aí que estão lançando músicas de Rock.

Olhe para o The Strokes, eles estão lançando coisas, e eles são uma ótima banda de Rock, sabe? Há muitas bandas de Rock que ainda fazem discos e estão por aí, você só precisa ir atrás de encontrá-las. Porque o que é popular agora é ser um artista solo; eles fazem muitas coisas interessantes, também. Há espaço pra todo mundo. Incluindo os velhos caquéticos como nós. [risos]

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TMDQA!: Com certeza! [risos] É engraçado que você diga que as pessoas não souberam onde encaixar o Cheap Trick no início mas, hoje em dia, vocês estão no Hall da Fama do Rock and Roll e acho que ninguém questiona isso. Como vocês reagiram a isso?

Robin: [risos] Olha, pra gente foi meio que tipo… Depois de 25 anos, você se torna elegível. Então nós pensamos, tipo, “Bom, talvez a gente entre no Hall da Fama, seria até legal”. E aí 10 anos se passaram e nós ficamos tipo, “A gente não vai entrar no Hall da Fama”. [risos] E aí 15 anos se passaram e nós pensamos, “Vão se ferrar! Vocês não sabem o que estão fazendo! Olha quem vocês estão colocando no Hall da Fama, pelo amor de Deus! Essas pessoas nem tocam Rock”. [risos] E isso vai com aquilo que eu falei, o Rock… o que é o Rock? Eu não sei.

Mas enfim, aí você recebe o telefonema e está tudo perdoado e você entra no Hall da Fama. Sei lá. [risos] É legal, eu fico surpreso, mas ao mesmo tempo, se nós nunca tivéssemos entrado, seria tipo, “Fazer o quê”.

Influências e influenciados do Cheap Trick

TMDQA!: Ah, mas não tinha como vocês ficarem de fora! Não só pela sua música em si, mas também pela influência que vocês tiveram e têm, o que me leva à minha próxima pergunta. Há tantos exemplos, e imagino que até os Strokes também, mas eu tinha anotado aqui bandas como Nirvana, os Smashing Pumpkins, o Pearl Jam… Como vocês se sentem com tantas pessoas, do passado e do presente, reconhecem o trabalho que vocês fizeram e continuam fazendo como algo influente?

Robin: Eu atribuo isso à nossa música, é claro, mas eu não acho que essa seja a história completa. Eu acho que a influência é meio que a atitude e a energia que a gente tem; o Pearl Jam e o Cheap Trick não soam nem um pouco parecidos, mas ao mesmo tempo, eu acho que eles podem curtir a nossa banda simplesmente por conta do sorriso que colocamos em seus rostos, eu acho.

E eu acho que isso é verdade para todas as bandas que você mencionou, e é algo que nos deixa felizes, mesmo. Eu aprecio de verdade, acho ótimo. O Nirvana… [risos] Antes deles contratarem o baterista lá no passado, eu recebi essa nota ou carta que no final está assinada com um desenho do Kurt Cobain, no qual ele se desenhou e assinou como Robin Zander. [risos] Foi bem engraçado.

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TMDQA!: Eu quero voltar um pouco ao passado agora. Sempre que eu vejo você falando na mídia, é sempre sobre o Cheap Trick, claro. Mas e quando você era apenas um jovem Robin Zander, com 10, 12 anos de idade, o que te inspirou a entrar de vez na música? Eu tentei procurar e não achei nada que falasse sobre isso, então acho que seria legal as pessoas saberem!

Robin: Bom, claro, eu sou o vocalista sem um passado — é assim que eu fui apresentado nas biografias, né? [risos] Mas eu tenho um passado sim. Meu pai era um músico, ele trabalhava nas fábricas mas tocava nos finais de semana em lounges pela cidade e em pistas de patinação e tudo mais. Mas, desde jovem, sempre havia instrumentos pela casa toda. E a banda que ele tinha — não era bem uma banda, eram só uns caras — ensaiava no nosso porão e coisas do tipo.

Mas o primeiro instrumento que eu comprei foi um kit de bateria. E eu provavelmente tinha uns 8 anos quando fiz isso, 7 ou 8. E não foi até eu ter uns 11 ou 12 que eu me lembro distintamente de voltar de férias, a gente tinha ido acampar em um lugar chamado Devil’s Lake, e no caminho pra casa eu liguei a rádio e encontrei uma estação chamada Beaker Street, em Little Rock, no Arkansas.

E de repente, começou a tocar “I Wanna Hold Your Hand”. E eu pensei, “Uau! Isso é legal demais”. [risos] E então quando eu cheguei em casa eu convenci minha mãe a me comprar uma guitarra, e foi assim que tudo começou. Eu aprendi sozinho a tocar guitarra e piano, só por estar inspirado pela rádio Beaker Street, e eles tocavam tudo, todas as coisas da Invasão Britânica, de 63 pra frente, e foi isso que me pegou: The Rolling StonesThe BeatlesThe AnimalsThe Yardbirds e aí depois o The Who, Led Zeppelin, essas coisas.

Então foi assim que tudo começou pra mim. E aí eu formei uma banda imediatamente, a gente se chamava The Destinations. E tocávamos todas essas músicas, “I’m a Man” e “We Gotta Get Out of This Place”, todos os hits. E aí eu formei outra banda, conforme nós entramos no ensino fundamental; havia outros que eram como eu, que gostavam dessas músicas, e nós formamos outra banda chamada The Purple Haze. E nós decidimos mudar nosso nome por causa do Hendrix, sabe. [risos] Então nós pensamos que Butterscotch Sundae era psicodélico o suficiente. [risos]

Todas essas são memórias muito divertidas que eu tenho. E aí eventualmente eu conheci o Bun E. [Carlos], o baterista [do Cheap Trick], e tivemos algumas bandas juntos e fizemos muitas covers do Hendrix, do Cream, do Who, e fizemos algumas até do The Move. E essas influências, elas progrediram e eventualmente eu tive uma banda com o vocalista original do Cheap Trick, o Randy Hogan, e a irmã dele era a baixista. A gente teve uma banda por um tempo, e aí o Randy mudou seu nome para Xeno e se tornou o vocalista do Cheap Trick por oito meses. E aí ele foi para algum outro grupo e eu entrei! Foi basicamente isso que aconteceu.

Agora, os outros caras têm suas próprias histórias sobre ir à Filadélfia e coisas do tipo, mas foi assim que foi pra mim.

TMDQA!: Sensacional! Que viagem no tempo essa história, Robin. Bom, nós temos tempo para mais uma pergunta apenas, então é o seguinte. Não sei se te falaram, mas o nosso site aqui se chama Tenho Mais Discos Que Amigos…

Robin: [risos]

TMDQA!: [risos] Todo mundo adora! E a gente sempre curte perguntar: que disco você diria que é seu melhor amigo ou foi seu melhor amigo nesse período tão difícil no qual, como você falou, precisamos de motivos pra sorrir?

Robin: Eu estava praticamente depressivo até fazermos esse último disco, então eu diria que é ele! [risos] In Another World coloca um sorriso no meu rosto e espero que coloque no seu também, mas se não colocar, compre o próximo. [risos]

TMDQA!: [risos] Ou os antigos, né? Tanto faz.

Robin: [risos] Exatamente.

TMDQA!: Muito bom, Robin. Obrigado demais pelo papo! Foi ótimo e espero que continue tudo certo por aí. Até a próxima!

Robin: Eu que agradeço! E olha, eu sou como vocês: eu também tenho mais discos que amigos.

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