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Porão do Rock 2019 sai da inércia e celebra qualidade; resenha e fotos

Fotos por Luca Valerio, texto por Ana Júlia Tolentino e Felipe Ernani

No último final de semana de Outubro, Brasília recebeu muita música boa. O cenário para tudo isso foi a arena lounge do Estádio Nacional Mané Garrincha, que tornou-se palco para mais uma edição do festival Porão do Rock nos dias 25 e 26.

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Enquanto a cidade seguiu silenciosa e vazia por conta do período chuvoso, o lado de dentro do festival teve muito barulho, e dos bons. Em um novo formato, dito pelos organizadores como a versão 2.1, devido aos 21 anos de existência, o evento celebrou novas atrações (inclusive uma internacional) e outras que já são figurinhas carimbadas do festival.

O festival foi direto em sua execução, tirando o foco da experiência e levando para os shows. Alternando entre dois palcos próximos, agregou lados que não eram destinados exatamente à vertente do rock em um dia, e abraçou os que de fato trouxeram o rock em sua forma mais visceral no outro.

Mesmo trazendo novas formas de chamar o público e em um espaço menor, a sensação de estar no festival foi um tanto desértica, como nas outras edições. Muito disso deveu-se ao adiamento da data, prevista para o início de agosto. Além de ter perdido um número considerável de bilheteria, o evento também perdeu grandes atrações que não conseguiram conciliar a agenda. 

Um desses casos foi a cantora Pitty. Prevista para ser uma das atrações principais na data original, ela seria também uma das poucas mulheres a se apresentar no evento – no fim das contas, apenas as bandas Supercombo, Canto Cego e Joe Silhueta traziam minas na formação, além da artista solo Mariana Camelo.

Carol Navarro, da Supercombo. Foto por Luca Valerio

Uma coisa a ser valorizada é a pontualidade, tal qual na edição de 2018. Contudo, as bandas que tocaram menos tempo se viram prejudicadas pela pressa, e a acústica do espaço também não ajudou muito. O público não se abalou por isso, sendo bastante convidativo e enérgico, tão poderoso quanto as próprias atrações.

Abaixo, falamos um pouco de cada dia do festival. Confira!

Primeiro dia

O Porão do Rock teve seu início em uma sexta-feira e, como era de se esperar, o público não conseguiu chegar a tempo dos primeiros shows, marcados para 18h. Com isso, as bandas locais Imortal Joe Never Look Back foram bem prejudicadas, mas em nada afetou as performances pesadas e viscerais da dupla.

Quem realmente se destacou logo de cara foi o Ratos de Porão. Mesmo sem o vocalista João Gordo – os caras chegaram até a desabafar, dizendo que “tá foda sem o Gordo” – a banda deu uma verdadeira aula de punk rock em show comemorativo do disco Brasil (1989).

Na mesma linha comemorativa, Edu Falaschi subiu ao palco do Porão para apresentar na íntegra o Temple of Shadows. Lançado pelo Angra em 2004, o disco conversou bem com uma plateia nostálgica e empolgada. A ótima performance de sua banda também ajudou.

Mais tarde, enquanto bandas como Galinha Preta Raimundos foram figurinhas repetidas que cumpriram exatamente o que vieram fazer, o Escape the Fate acabou sendo a grande atração da noite.

Kevin “Thrasher” Gruft, do Escape the Fate. Foto por Luca Valerio

Entrando de última hora após a mudança de data do festival, os americanos levaram um mar de ex e atuais emos que se esgoelaram durante o show, também comemorativo. A apresentação foi a antepenúltima da turnê de 10 anos do disco This War Is Ours, que foi executado (quase) na íntegra, juntamente com alguns outros sucessos mais recentes como “Broken Heart” e “One for the Money”. Foi sem dúvidas uma experiência catártica.

Mais para o final da noite, a Dona Cislene fez o melhor que pôde com uma série de problemas técnicos afetando o show dos caras. O quarteto brasiliense compensou na energia, mesmo tendo que cortar o repertório do show.

O Dead Fish e o Project 46 fecharam a noite. A primeira banda apresentou seu hardcore em um show sem defeitos, cheio de manifestações políticas e, claro, muita pedrada – como a ótima “Sangue Nas Mãos”, que viu um gigantesco coro dos presentes. A segunda também não fugiu da receita, e apostou no peso para manter acordado um público notavelmente exausto.

Galeria de fotos do primeiro dia:

Foto por Luca Valerio
Foto por Luca Valerio
Foto por Luca Valerio
Foto por Luca Valerio
Foto por Luca Valerio
Foto por Luca Valerio
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Foto por Luca Valerio
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Foto por Luca Valerio
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Foto por Luca Valerio

Segundo dia

O segundo dia também começou com pouco público, e infelizmente bandas locais saíram em desvantagem novamente. Uma delas foi a cantora Mariana Camelo, vencedora de uma das seletivas do festival, em que, junto com a banda de apoio, mostrou segurança no palco e não perdeu o ânimo. No começo da noite, os cariocas da Canto Cego misturaram a empolgação do palco com a potência de suas composições.

Em seguida viram os pernambucanos da Academia da Berlinda, trazendo a cumbia e o retrato de Olinda para a capital. Entre canções entoadas a plenos pulmões pelo público, como “Dorival”, “Só de Tu” e “Fui Humilhado”, a banda viu uma plateia que não parava de dançar. Logo após, Rincon Sapiência fez um belo show em que estreou a nova faixa “Meu Ritmo” ao vivo e levantou a energia dos presentes. O rapper ainda conversou com gente depois da apresentação.

Os momentos nostálgicos se fizeram presentes, em palcos alternados, nas apresentações de Marcelo Falcão e de Jimmy London, junto da banda Rats. Com um público majoritariamente jovem, o coro por muitas vezes soava maior que a própria voz do ex-Rappa e do ex-Matanza. Entre faixas já tocadas pelo festival, ambos agregaram a plateia da melhor forma possível.

Criolo no Porão do Rock. Foto por Luca Valerio

Em seguida, Criolo deu as caras com ar de headliner. Tocando o repertório de sua turnê atual, a Boca de Lobo O Retorno, em sua maioria dos discos Convoque Seu Buda (2015) e Nó Na Orelha (2011), o paulista fez bonito na passagem.

O destaque foi para a banda Machete Bomb. Os paranaenses, também conhecidos como “Gangue do Cavaco Profano”, tocaram pela primeira vez no festival com sensação de banda veterana. O repertório alternou entre os dois únicos discos de estúdio, O Samba do Sul (2015) e A Saga do Cavaco Profano (2017). Entre coros políticos e críticas sociais, vale frisar a participação do público, que se jogou no mosh e trouxe uma energia gloriosa para o que estava perto do fim.

Galeria de fotos do segundo dia:

Foto por Luca Valerio
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Foto por Luca Valerio
Foto por Luca Valerio
Foto por Luca Valerio
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Porão do Rock

Apostando em boas atrações e em uma estrutura menor e mais eficiente, o Porão dá um respiro de volta à vida e sai da inércia que o acompanhava nos últimos anos. Inclusive, a ótima identidade visual, com um estilo HQ atemporal e datado ao mesmo tempo, é basicamente um conceito do próprio festival.

Que venha a edição 2020!

Foto por Luca Valerio
Published by
Felipe Ernani