Grito da Terra 2018 mostrou que a liberdade de expressão é mais que necessária em tempos incertos

O TMDQA! esteve no festival que aconteceu de 01 a 04/11 no interior de Santa Catarina e mostra o que rolou de mais bacana por lá.

Grito da Terra 2018
Foto: Andressa Colbalchini

Quando soube que a quarta edição do Grito da Terra seria logo após as eleições de 2018, em um primeiro momento tive receio. Não daria pra saber o quão confusos e agitados estariam os ânimos dos brasileiros nesse ano onde a polarização e a divergência foram tão alarmantes em nosso país.

Mas logo nos primeiros instantes do festival, vi que mais do que nunca é importante que movimentos assim aconteçam e continuem acontecendo. Justamente pelo momento em que o Grito estava rolando, foi que percebi o quanto é importante estarmos em luta, em calma, em resistência e em constante liberdade de expressão.

Foram momentos muito engrandecedores para o público que estava lá, vivenciando e trocando experiências, deixando de lado um pouco todo o cotidiano e podendo se preocupar apenas em aproveitar aquela oportunidade tão diversificada que todos estavam tendo.

Mesmo acontecendo no interior de Santa Catarina, públicos de todo canto do sul do Brasil estavam lá, e isso trouxe para os presentes uma desvinculação da geografia, pois aquele era um local que não importava a quem pertencia, todos poderiam se usar dele da mesma maneira.

E sendo em um lugar tão rústico, não poderia ser mais bacana ver o quanto isso foi diverso e contemporâneo. Uma contradição mais do que necessária.

Primeiro Dia

Com o público ainda chegando e se acomodando no acampamento, Vamo Vovó Big Band já deu a abertura oficial ao Grito da Terra em clima de carnaval antecipado. Com direito a um boneco de Olinda dançando em meio ao público, a Vovó misturava funk e ska com ritmos dignamente brasileiros.

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A banda interagiu muito com o público durante seu repertório, que incluía versões e trechos inusitados de canções populares, como o tema do Poderoso Chefão e “Tomando Banho”, do Castelo Rá-Tim-Bum.

Na sequência, tivemos a tradicional Vlad V, um power trio que trazia o melhor do heavy blues com seu frontman demonstrando muita virtuosidade tanto na guitarra como na flauta.

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Fechando a noite, Não Alimente Os Animais ainda contou com muita gente em frente ao palco para curtir um rock psicodélico de primeira, com sintetizadores em voga e sem perder o groove.

Segundo Dia

Na sexta, o barulho começou cedo. No meio da tarde já havia o rock instrumental do Luan Vogt Trio jogando muita guitarra a lá Stevie Ray Vaughan para o público que começava a se concentrar novamente no salão. Depois deles, o rock agressivo do Manga de Colete deu continuidade à tarde do segundo dia.

Mas foi quando a noite chegou que os grandes momentos do festival começaram a acontecer.

A galera já não mais se acomodava em seus acampamentos quando a Fish Ventura começou a tocar seu reggae litorâneo acompanhado de belos solos de sax e trombone.

Mas foi quando o Bombo Larai subiu ao palco que deu para ver a dimensão que o Grito da Terra tem.

A banda mostrou um som MPB com grande foco ao que há de mais popular, fazendo rock, funk, ska, ritmos caribenhos e latinos se misturarem na nossa música de forma muito natural.

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Foi a maior reunião em frente ao palco até então, e botou até a criançada para dançar!

Além disso, Bombo Larai foi a primeira atração a se posicionar fortemente quanto a situação do nosso país, com breves discursos e belíssimas canções como “Hermanamos” e “Comitê” que, mesmo festivas, não deixaram de mostrar resistência.

Depois desse grande show, Cuscobayo subiu ao palco e manteve o nível de animação e resistência mesmo trabalhando com um formato acústico. Com investimento forte nas percussões, as levadas e melodias cativantes tinham a mesma influência latina da banda anterior, assim como a inteligência e precisão nas rimas cantadas.

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E quando a Cattarse subiu ao palco, deu razão ao nome que leva. Com um stoner rock extremamente energético, sempre mantendo alto nível em música pesada com uma mensagem musical de um grito transformador, colocou os sentimentos para fora enquanto o público batia cabeça junto com a banda.

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No final desse segundo dia, os guerreiros ainda estavam em frente ao palco para ver o espetáculo lisérgico da Mar de Marte. Uma banda que foge de qualquer estereótipo musical e, mesmo com apenas três membros, consegue trabalhar muito experimentalismo em uma performance instrumental extremamente presente.

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Terceiro Dia

Mesmo com uma chuva pesada que durou a maior parte do dia, o público não desanimou. Inclusive, ela serviu para regar as energias de todo mundo que estava presente no festival.

E foi nessa ideia que o Abacaxy Kitudu V deu abertura ao terceiro dia do Festival. Trazendo um jazz experimental e cítrico, a banda emocionou com suas performances muito elaboradas agregadas de intervenções poéticas.

Já à noite, o Captain Cornelius subiu ao palco fazendo um folk rock com ótima mistura de elementos, onde a música pesada era tocada em meio a banjo, violino, bandolim e gaita. Um belo show que voltou a reunir o público em frente ao palco para dançar.

A animação continuou com o blues primitivo do Mustang Blues Brothers, uma banda digna das big bands americanas dos anos 50, ainda com um quê de Chuck Berry.

Depois deles, foi a vez do carro chefe da 4ª edição do Grito da Terra: o Confraria da Costa!

Com um visível clamor popular, o Confraria reuniu muita gente grande público no salão para o seu show dançante e temático. Uma apresentação boa deveras pra caralho.

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E para finalizar a noite, Kiai traz para o palco um jazz finíssimo para aquecer os apaixonados por música ainda presentes.

Quarto Dia

Já em clima de despedida e com as barracas sendo desarmadas, logo no começo da tarde o Confeitaria Brasil subiu ao palco para o último show do festival, mantendo a animação que tudo tem a ver com esses 4 dias em meio ao mato.

Bônus

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Além das bandas que se apresentaram dentro do salão da associação, intervenções de teatro e poesia aconteceram também por ali, diversificando as atrações do festival.

Ainda aconteceram diversas oficinas de todo tipo e por todo canto do camping, levando conhecimento geral ao livre acesso daqueles que estavam lá para viver esse belo momento.

Mas a atenção especial vai para o Palco Livre.

No intervalo das bandas, em uma estrutura pequena (mas muito eficaz) no lado de fora, haviam disponibilizados microfones e instrumentos para quem quisesse se aventurar e buscar o som que lhe fosse conveniente.

Talvez esse espaço, onde pessoas de todos os cantos podiam se reunir e misturar seus conhecimentos e interesses, seja a parte mais emocionante e definitiva do Grito da Terra. Um manifesto onde o preconceito não tem vez e todo mundo pode ser quem quiser, pelo menos por aquele momento. Essa é a mensagem mais forte que o festival pode passar, a liberdade e a aceitação que o palco livre proporciona deveriam ser entendidos com lemas para levarmos para cada ação de nossas vidas.

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Mais registros do evento feitos por Andressa Colbalchini estarão disponibilizados nas redes sociais do festival:

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