Fresno na Fundição Progresso, RJ

Fotos por Fabrício Mainenti

2016 definitivamente foi um ano intenso para a Fresno. A banda gaúcha liderada pelo vocalista, guitarrista e produtor Lucas Silveira (que inclusive lançou seu segundo livro, “Amores Impossíveis e Outras Perturbações Quânticas”, alguns meses atrás) concluiu a turnê do DVD “Fresno – 15 Anos ao Vivo”; em seguida deu o start na excursão “Ciano 10 Anos”, comemorando uma década desde o lançamento do terceiro disco do grupo; e, no último sábado (19), rolou na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro, o pontapé inicial da turnê “A Sinfonia de Tudo que Há”, para mostrar ao público carioca as canções do mais recente trabalho da Fresno, disponibilizado em 13 de outubro.

O álbum também pode ser encarado como divisor de águas na carreira da banda, por se tratar de um disco mais experimental, com sonoridade um tanto diferente dos álbuns anteriores da Fresno, que dessa vez apostou em músicas orquestradas no formato de uma ópera rock. Diante de tal panorama, os fãs do grupo criaram bastante expectativa para ver como as novas composições soariam ao vivo. E o resultado não poderia ter sido melhor para o público presente na Fundição Progresso.

Depois de acompanhar a abertura do grupo Baleia, que conquistou a plateia de sua terra natal com canções densas e harmonicamente complexas, em uma mistura de rock com ritmos regionais, os fãs da Fresno viram Lucas, às 00h50, se preparar para subir ao palco junto com Gustavo “Vavo” Mantovani (guitarra e backing vocals), Tom Vicentini (baixo), Mario Camelo (teclado) e Thiago Guerra (bateria). Daí para frente foi uma verdadeira explosão de sentimentos no público.

A música escolhida para abrir a apresentação foi “Sexto Andar”, primeira faixa de A Sinfonia de Tudo que Há, causando grande comoção nos fãs. Na sequência veio a pesada “A Maldição”, outra canção do novo disco e que fez o chão da casa tremer. Foi então que Lucas interagiu com a plateia: “Boa noite! Que galera incrível que nós somos. É show de lançamento do disco novo mas também tem outras dos álbuns antigos”. Em seguida, a Fresno tocou a potente “Diga, Parte 2”, sendo acompanhada pelos fãs com muita vontade em cada verso.

Ao término da execução, o cantor voltou a conversar com o público. “Tudo bem? Estavam com saudades? Faz um tempinho, né?”, questionou. Na sequência do show apareceram “Astenia” e “Hoje Sou Trovão”, presentes em A Sinfonia de Tudo que Há, e “Acordar”, single lançado em 2015. Após “Infinito”, Lucas afirmou que estava bastante feliz naquela noite. “Muito bom ver a casa cheia. Muito obrigado por esse lance bonito que está rolando aqui”, disse.

A apresentação da Fresno continuou com “Deixa Queimar” e novamente o cantor se dirigiu ao público: “Vocês são nota 11”, cravou, fazendo a plateia gritar e aplaudir suas palavras. Mais para frente, “Cada Poça Dessa Rua Tem um Pouco de Minhas Lágrimas”, “Milonga” e “Stonehenge” mantiveram o público em estado de catarse.

Depois desta última, Lucas anunciou que Vavo tinha uma mensagem para a galera. “O nosso disco está à venda na banquinha. Para quem não viu é este aqui. Quem quiser depois do show passa lá e leva o seu”, contou o músico. A apresentação seguiu com “Axis Mundi” e “Poeira Estelar”, faixa que recentemente ganhou videoclipe. Ao testemunhar o comportamento agitado da plateia, Lucas, que momentaneamente assumiu os teclados, só tinha duas palavras: “Muito foda”.

Um pouco mais tarde, na hora de “Revanche”, o vocalista brincou: “Vamos derrubar esse lugar agora”. A Fundição Progresso não veio abaixo, mas os fãs se mexeram e cantaram como se pudessem ser capaz de tal. Antes de “Canção Desastrada”, Lucas falou sobre o poder que a música tem de mudar o mundo, assim como ela transformou a dele, emocionando a plateia.

A faixa foi executada pelo vocalista acusticamente, sem o restante da banda, assim como “O Ar”, na sequência. Na volta da banda, o baterista Guerra pegou o microfone e gritou: “Eu quero ouvir vocês, porra”. Os fãs, obviamente, responderam fazendo muito barulho. Ao ouvir o coro que lhe garantia o status de “melhor banda do Brasil”, depois de “Eu Sou a Maré Viva” (com Guerra na guitarra), Lucas revidou: “Vocês falam isso, mas a verdade é que vocês é que são o melhor público”.

Antes de anunciar a última canção do show, o vocalista fez o contato derradeiro com o público. “Nós somos a banda Fresno de Porto Alegre, de Recife, do Rio de Janeiro, de São Paulo, do Planeta Terra…”, disse. Para fechar a apresentação, às 2h45, a Fresno escolheu “Manifesto”, composta em parceria com Lenine. Pela última vez, com total entrega, os devotados fãs da Fresno cantaram junto com Lucas e cia. Até a próxima. Que não tarde a chegar, suplicaria qualquer um que se encaminhava para a saída da Fundição Progresso.

Setlist:

1. “Sexto Andar”
2. “A Maldição”
3. “Diga, Parte 2”
4. “Astenia”
5. “Hoje Sou Trovão”
6. “Acordar”
7. “Infinito”
8. “Deixa Queimar”
9. “Cada Poça Dessa Rua Tem um Pouco de Minhas Lágrimas”
10. “Milonga”
11. “Stonehenge”
12. “Axis Mundi”
13. “Poeira Estelar”
14. “Eu Sei”
15. “Revanche”
16. “Canção Desastrada”
17. “O Ar”
18. “Eu Sou a Maré Viva”
19. “Manifesto”

Antes do show no Rio de Janeiro, o Tenho Mais Discos Que Amigos conversou com a Fresno e a entrevista você confere abaixo:

TMDQA: Recentemente, o Supercombo abriu sua nova turnê no Rio de Janeiro e vocês também optaram por iniciar a excursão “A Sinfonia de Tudo que Há” em solo carioca, existe uma valorização das bandas em relação à capital fluminense?
Fresno: É bom começar a turnê pelos lugares em que o seu público é mais forte. Nos últimos anos, a gente tem ganhado muita força aqui e isso veio junto com uma sequência de shows na cidade. Inclusive, antes nós havíamos ficado bastante tempo sem tocar no Rio de Janeiro. Mas agora mudou. A turnê tem que começar lá para cima e com certeza para a gente existe toda essa mística ao redor do Rio, que é uma cidade que a gente vem se tornando bastante popular e se tornou muito especial para nós.

TMDQA: Muito se fala de um amadurecimento musical da banda com o lançamento do novo álbum, o que vocês gostariam de falar sobre “A Sinfonia de Tudo que Há” e como surgiu a ideia de usar a orquestra em diversas faixas do disco?
Fresno: A orquestra aparece em somente cinco músicas do CD, mas a presença dela é tão forte que permeia todo o álbum. As pessoas ficam com a impressão de que todas as faixas são orquestradas, mas não foi assim. As cordas aparecem em discos nossos já há algum tempo, porém, a gente passou a conhecer mais a fundo o trabalho das pessoas que mexem com isso, como o próprio Lucas Lima, que arranjou todas as cordas que se criaram para esse álbum.

Resumindo, pelo título do CD e por ele ter sido composto com a intenção de soar como uma ópera, musical ou peça com começo, meio e fim, a banda abriu espaço para as cordas aparecerem mais, em comparação com os trabalhos anteriores.

TMDQA: Em tempos de telões em HD e rica composição visual nos palcos, vocês têm alguma preocupação com a questão do cenário para esta turnê?
Fresno: Existe sim, mas no caso de hoje, pelo formato diferenciado do palco, em que as pessoas ficam ao redor e ele está centralizado naquele ambiente, qualquer elemento de fundo não tem como ser colocado, porque todo mundo vai estar em volta do palco. Esse show na Fundição Progresso é o pontapé da excursão e por isso a gente ficou mais preocupado em como apresentar ao vivo as faixas de um álbum conceitual e como integrá-las às canções dos outros discos.

No entanto, claro que existe uma preocupação estética. O grande lance de fazer uma tour assim é que cada casa de show possui dimensões de palco e espaço diferentes, nem sempre vai dar para encaixar esses elementos visuais. A gente pensa em incorporar algumas coisas que sejam práticas no decorrer da turnê, mas nada definido.

TMDQA: “A Sinfonia de Tudo que Há” é o sétimo trabalho de estúdio da Fresno, como vocês fazem para definir o setlist tentando ao máximo abranger todos os discos da carreira?
Fresno: Nesta formação que a gente tem hoje, nós fizemos cinco turnês com repertórios bastante distintos que englobaram todos os álbuns da banda. A gente já tocou 70 músicas da Fresno durante estas excursões realizadas nos últimos anos. Por ter variado tanto assim, no DVD ao vivo a gente saldou essa dívida. Estava ali toda a carreira do grupo.

Hoje a gente sente menos obrigação de ter músicas de todos os discos nas apresentações que fazemos. O nosso interesse maior é fazer uma história ali no palco, que seja coesa mas sem esse peso. E no geral os fãs querem mesmo é ouvir coisa nova, o que a gente mais escuta é a galera perguntar “vocês vão tocar o disco novo na íntegra?”. Isso é legal de perceber.

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