Categories: Resenhas

Cobertura do Festival In-Edit (Dias 7, 8 e 9)

Oitavo Dia

Do speed metal e uma história de superação ao universo do hip-hop americano, falaremos sobre três bons filmes incluídos na programação do In-Edit Brasil. Tratam-se de Jason Becker: Not Dead Yet (Jesse Vile) e a sessão combinada de Beat This! A Hip Hop Story e Bombin’, ambos dirigidos por Dick Fontaine, diretor homenageado do festival.

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Jason Becker: Not Dead Yet relata a impressionante história do guitarrista Americano Jason Becker. O guitarrista é mais conhecido pelo seu trabalho de speed metal, como no duo Cacophony, juntamente com Marty Friedman, guitarrista fundador do Megadeth. Becker destacou-se muito cedo como guitarrista e aos dezoito anos de idade já embarcava para sua primeira turnê internacional com o Cacophony. Aos vinte anos estava prestes a realizar seu sonho, tendo sido convocado para integrar a banda de David Lee Roth – ex-vocalista do Van Halen – uma de suas maiores influências. Infelizmente, Becker não pôde ir adiante.

No mesmo período foi diagnosticado com uma doença degenerativa (Esclerose Lateral Amiotrófica) que age na paralisação progressiva de todos os músculos do corpo. Em poucos anos o guitarrista estava em uma cadeira de rodas, sem a possibilidade de qualquer movimento. A doença, entretanto, não interrompeu sua criatividade. O documentário nos mostra como Becker continuou compondo música – através de recursos tecnológicos – e comunicando-se com inúmeros fãs e pessoas ao seu redor. Not Dead Yet resgata o belo trabalho do músico e nos coloca em contato com sua personalidade cativante, repleta de desejo pela vida.

Beat This! A Hip Hop Story, dirigido por Dick Fontaine em 1984, trata do nascimento da cultura do hip-hop americano, no Bronx. A singularidade dos filmes de Fontaine transparece no documentário. O estilo único do diretor está presente na justaposição de depoimentos e entrevistas, imagens de arquivo, narração e uma trilha-sonora musical sempre presente.

O filme tem como protagonistas personalidades que tiveram papel primordial no desenvolvimento do hip-hop, como Afrika Bambaata e o DJ Kool Herc, que revisita imagens de suas festas na década de 1970. Toda a argumentação é costurada pela narração, desenvolvida como uma locução radiofônica, embora repleta de lirismo e rimas, de Imhotep Gary Bird, conhecido pelo seu trabalho nas rádios do período como promotor da cultura negra e do hip-hop.

Ainda no mesmo universo mas em uma perspectiva artística diferente, Bombin’ (1986) tem como tema principal o grafitti e os grafiteiros americanos na década de 1980. O diretor realiza um intercâmbio entre a cultura grafiteira no Bronx e o crescente movimento na Inglaterra, especialmente em Londres.

Em comparação com Beat This, neste Dick Fointaine volta-se mais para uma argumentação calcada em acompanhamento e observação de jovens grafiteiros americanos, e também em depoimentos e entrevistas. O embate diário dos garotos – quiçá não tão distante do que vemos atualmente, quase trinta anos depois – é a dificuldade de defender o grafitti e a street art como uma arte genuína, desvencilhada do vandalismo ou da criminalidade. Como contraponto aos jovens artistas, certamente, a polícia e setores conservadores do universo urbano desempenham seu papel.

Beat This! e Bombin’ constituem-se como filmes indissociáveis e são ótimas surpresas de Dick Fontaine no festival. É curioso que os filmes não tenham tido maior projeção anterior, pois se constituem como ótimos registros da cultura do hip-hop em seu período de efervescência, construídos através de um belo rigor estético comandado por Fontaine.

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Published by
Tony Aiex