Biffy Clyro - Opposites

Biffy Clyro - Opposites

O Biffy Clyro é certamente uma das bandas britânicas mais subestimadas da atualidade. O trio é de um talento inquestionável, mesclando muito bem as influências de math rock dos primeiros trabalhos com o rock grandioso e mais acessível dos mais recentes. O penúltimo lançamento do grupo, Only Revolutions (2009), é em muitos sentidos o mais equilibrado álbum do Biffy Clyro, especialmente por conseguir soar contemporâneo sem parecer repleto de obviedades e fórmulas recicladas em bandas de pop rock. Após um CD/DVD ao vivo gravado no estádio de Wembley (!), a banda se isolou durante 2012 para preparar o sexto álbum da carreira, Opposites.

Opposites é um álbum duplo, e como de praxe em álbuns assim, conceitual. O primeiro disco é chamado de The Sand At The Core Of Our Bones, é reúne faixas que remetem a perdas e ao passado de forma reflexiva (“Different People”), às vezes nostálgica (“Biblical”). Já The Land At The End Of Our Toes, o segundo disco, olha pra frente ao agregar as canções que abordam o futuro, tanto de perspectivas mais confiantes e otimistas (“Modern Magic Formula”) como de pontos de vista mais inseguros (“Skylight”).

Não é fácil perceber isso de cara, musicalmente falando. Há exemplos óbvios, como a bonita balada “Opposite” no primeiro disco, ou “Spanish Radio” no segundo disco, com um inusitado arranjo de uma banda de mariachis. Os elementos conceituais estão primordialmente concentrados nas ótimas letras do vocalista e guitarrista Simon Neil, ainda enigmáticas, mas mais diretas que em Only Revolutions.

O problema é que Opposites cai na armadilha mais óbvia de um disco duplo: é difícil digerí-lo porque são mais de 80 minutos de faixas que, por mais que tenham temas congruentes, musicalmente soam muito parecidas e/ou destoam umas das outras no tracklist oferecido. O primeiro disco é pesado, empolgante e denso, mas o rock magnânimo da banda exige um bocado do ouvinte. Por mais que o resultado seja satisfatório, é difícil ouvir o segundo disco em sequência, porque há a impressão de estar ouvindo um único álbum grande demais, com ideias que, mesmo interessantes, não acrescentam novidades à discografia da banda.

Um bom exemplo disso é a sequência “Victory Over The Sun”, “Pocket” e “Trumper Or Tap”, respectivamente a 4ª, 5ª e 6ª faixa do segundo disco. “Pocket” é um pop punk insosso e previsível, na linha da bandas como Rooney, e acaba tirando o brilho das faixas que a cercam, ambas entre as mais interessantes de Opposites. “Little Hospitals”, “A Girl and His Cat” e “Accident Without Emergency”, por outro lado, são boas músicas, mas completamente dispensáveis dentro do álbum.

Isso tudo não significa que Opposites seja um álbum ruim. Na verdade o trabalho tem algumas das melhores faixas que o grupo já escreveu, como os singles “Black Chandelier”, “Stingin’ Belle” e outras com potencial para se tornarem destaque em um futuro próximo, como “Woo Woo”, “Sounds Like Ballons” (de onde a banda tirou o nome dos dois discos do álbum) ou “The Joke’s On Us”. O problema é o tracklist, que centrado nos temas propostos, acabou prejudicando o fluxo do álbum.

A adição de faixas como “The Rain” e “Thundermonster”, outtakes de Opposites lançados no single Black Chandelier (acredite, mesmo com um álbum duplo ainda houve espaço para descartar músicas) deixariam Opposites um pouco mais versátil e interessante por mais tempo. Uma edição enxuta do álbum será lançada em alguns países com apenas um disco que mistura os dois do lançamento oficial, e deve agradar os fãs menos exigentes.

Em algumas entrevistas a banda deu a entender que Opposites encerra o segundo capítulo da trajetória do trio, dividida entre os três primeiros álbuns – mais experimentais – e os três últimos, mais atraentes para o grande público. Depois de Opposites, fica difícil prever qual será o próximo passo do Biffy Clyro, mas com um álbum intenso e verborrágico como este, não há pressa para descobrirmos; é melhor ter tempo para absorver tudo o que o grupo fez questão de dizer de uma só vez.

Nota: 7,5

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