Relato e fotos por Bruno Nigro
Quando recebi a missão de resenhar a única apresentação da turnê comemorativa dos 30 anos de Titãs aqui em Guanabara City, duas coisas se passaram em minha cabeça: aquele seria o meu primeiro show dos caras, o que já criava certa expectativa e emendava no segundo pensamento. No caso, uma pergunta: como será que, depois de tantas baixas ao longo dessas três décadas, os caras vão se comportar no palco? Como superar a expectativa daqueles que estavam ali para ver a banda revisitando os clássicos, dando-lhes um novo sopro de vida e energia?
No palco, estavam Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto, acompanhados pelo baterista Mario Fabre, destilando um clássico após o outro. E se o vigor não é exatamente o mesmo de trinta anos atrás, não faltou vontade e sangue nos olhos por parte da banda, e o público que lotou a Fundição Progresso completava a simbiose cantando as músicas em uníssono.
Ao abrir os trabalhos com “Diversão“, os Titãs remanescentes já deixaram bem nítido que a vibe teria o show. E quando os primeiros acordes de “AA-UU” soaram, deixando a galera enlouquecida, percebi que dali por diante era só tocar pro gol. Aparentemente, muito mais empolgados que no especial Titãs 30 Anos, exibido no Multishow – e essa impressão me acompanhou da primeira até a última música – eles já tinham a plateia na mão, cantando os versos de “Nem Sempre Se Pode Ser Deus“.
Por um momento, revivi a sensação de catarse idêntica ao último show dos Los Hermanos que estive, também na Fundição. Na ocasião, enquanto os barbudos tocavam o som falhou e a multidão levou “Azedume” a plenos pulmões. Voltando ao presente, quando o som do palco simplesmente sumiu para os caras, a plateia cantou “Aluga-se” a plenos pulmões até o fim. No palco, um divertido Miklos perguntava, sorrindo: “quem foi que não pagou a conta?”, enquanto a galera respondia que “nós não vâmo pagar nada”. Tudo bem, já haviam pagado o ingresso e pelo menos algumas cervejas. No entanto, isso é um mero detalhe que só chatos como eu costumam observar.
Falando em detalhes técnicos, entre o problema com o som e a retomada do show, os cinco minutinhos solicitados para que tudo voltasse ao normal se transformaram em vinte longos minutos. Entre os ensaios de vaias (exclusivamente para a produção e com razão, claro) e o burburinho dos grupos que cantavam ou se revezavam na compra de birita e idas ao banheiro, ouvi o seguinte comentário de uma empolgada menina para o seu namorado: “É só a melhor banda de rock nacional para mim…”. Mas quando ela cantou “Epitáfio” – dedicada ao guitarrista Marcelo Fromer, morto em 2001 –, chorando do início ao fim, eu entendi o porquê. E quando ela quase me deixa surdo gritando “VÃO SE FUDER!”, em “Bichos Escrotos“, eu tive que lhe dar razão.
Se o clima de festa já estava excelente, com a chegada Arnaldo Antunes e Charles Gavin ficaria quase completo, uma vez que Nando Reis não descolou um espaço em sua agenda de shows para se juntar aos velhos amigos. Porém, a ausência do Ruivo Infernal não foi capaz de frustrar quem estava ali e viu a melhor fase do grupo ser remontada diante dos próprios olhos. Quer dizer… para mim era tudo novidade e ver Arnaldo perguntando “vocês tem fome de quê?”, antes de começar a segunda parte do show com “Comida“, foi a senha para que naquele momento eu contraísse um pequeno remorso por nunca ter dado um pouco mais de atenção a carreira dos caras. Pois é, acontece. Mas eu também estava lá, com o braço erguido, abrindo e fechando a mão para dizer que “o pulso ainda pulsa”.
Com direito a três bis, os Titãs fizeram um show impecável, sob medida seja para os fãs de todas as várias fases, passando por aqueles que deixaram de acompanhar o trabalho da banda conforme os integrantes e seus principais compositores deixaram o barco para tocar suas próprias carreiras. Para quem estava ali para matar as saudades da adolescência oitentista, para esse que vos escreve e… para a menina Beatriz Abreu, uma fã do TMDQA! muito animada, que me descobriu por lá e pediu para mandar um aloha para a galera do site! Vai vendo… sintam-se abraçados e amados, galerë!
Uma noite agradável para compensar o dia feioso, e um show que entra para a minha lista de favoritos com todos os méritos. Que venham muito mais anos pulsantes de diversão, álcool, porrada, coices de mamute… enfim, mais, muito mais de Titãs.
Repertório:
01. “Diversão”
02. “AA-UU”
03. “Nem Sempre Se Pode Ser Deus”
04. “Aluga-se”
05. “Epitáfio”
06. “Televisão”
07. “Tô Cansado”
08. “Pra Dizer Adeus”
09. “Go Back”
10. “A Melhor Banda De Todos os Tempos da Última Semana”
11. “Igreja”
12. “Amor Por Dinheiro”
13. “Vossa Excelência”
14. “Bichos Escrotos”
Parte II (Arnaldo Antunes + Charles Gavin)
15. “Comida”
16. “Porrada”
17. “Família”
18. “Polícia”
19. “Estado Violência”
20. “Cabeça Dinossauro”
21. “O Pulso”
22. “Lugar Nenhum”
23. “Marvin”
14. “Flores”
Bis I
25. “Homem Primata”
26. “Sonífera Ilha”
27. “Bichos Escrotos”
Bis II
28. “O Quê” (uma “versão de improviso”, segundo Sérgio Britto)
Bis III
29. “AA-UU”
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