Lô Borges, arquivo da EMI
EMI/Divulgação

O clima cinza e chuvoso de Belo Horizonte nesta segunda (03) relembra as grandes lendas que adornam a história da humanidade. Lendas estas como como as minas do Rei Salomão, fontes de riquezas incalculáveis, perdidas na ficção. Mas aqui, nesta nossa Minas de montanhas, poesia e canções, Lô Borges não era ficção – ele era a realeza.

O menino-prodígio encantou o mundo e se consolidou como ícone, senhor incontestável das Minas Gerais que realmente importam: as minas que ele escavou com a melodia e que revelaram mais do que ouro ou ferro, trazendo consigo o mais puro dos tesouros emocionais. O cartógrafo afetivo que nos ensinou a ler as paisagens de BH e de um Brasil interiorano com olhos de quem ama o seu lar e o que faz (sorte a nossa, que aprendemos a ter o mesmo carinho pela capital por conta de seus ensinamentos e carisma tão singelo).

Em meio a jazidas feitas de sóis e girassóis a perder de vista, janelas que se abriam para quintais de infância e chuvas que caíam em montanhas feitas de nuvens, Lô nos deu a fundação mais sólida do Clube da Esquina: a certeza de que a maior riqueza está na esquina da simplicidade com a genialidade. Nunca foi preciso cetro ou coroa, e sim, um violão e um par surrado de tênis que inspirou seus amigos mais próximos – e até mesmo Alex Turner.

A arte mais profunda pode se vestir de rock e ter a leveza de uma “Nuvem Cigana”. Sua partida logo no Dia de Finados é quase uma poesia de Ronaldo Bastos: Lô pegou seu último “Trem Azul”, e aquele comboio que embalou tantas declarações de amor e despedidas ao redor do país, agora o levou para a sua rota final.

Lô, “A Via-Láctea” te espera, e o lugar que te cabe é a constelação mais brilhante desse universo tão vasto. Você que cantou o tempo como abstração, agora é o tempo. Nós ficamos com o mapa que você desenhou em canções.

Fica a certeza de que, enquanto houver uma janela, um girassol ou o rumor de um trem em alguma esquina, seu tesouro permanecerá sendo escavado em nossos corações.

Descanse em paz. A canção é eterna.

“Isto não se apaga como a vela
Nem ao menos se despersa qual vento dos corações…”