
Revela não surgiu do acaso. O novo álbum de Graziela Medori nasceu depois que a intérprete arrebatou prêmios em festivais de música pelo país defendendo canções de Valéria Velho, entre elas “Saga” e “Canta”, que conquistaram júris e plateias.
O impacto dessas performances revelou não só a potência das composições, mas também a entrega de uma intérprete que encontrou em Valéria uma parceira artística de grande afinidade.
No disco, esse encontro se expande: são oito faixas que transitam entre lirismo e leveza, Pop e tradição, numa MPB que respira novidade sem perder suas raízes. Mais do que um álbum, Revela é fruto de uma aposta mútua, de uma compositora que retorna à música após anos no Direito e uma artista que se permite experimentar e se reinventar.
O resultado é um trabalho que fala de encontros, desejos e permanências, com a delicadeza de quem acredita que a canção ainda pode mover o mundo. Batemos um papo com Graziela para entender um pouco mais desse novo momento, e você pode conferir abaixo!
TMDQA! Entrevista: Graziela Medori
TMDQA!: O que te motivou a gravar um disco inteiramente dedicado às composições da Valeria Velho?
Graziela Medori: Olha, a Valéria é uma grande compositora que merece ser descoberta. Ela ocupa um lugar especial dentro da sua própria poética, e isso me faz mergulhar profundamente como intérprete. É tão boa quanto os grandes compositores que já visitei e admiro. Basta que as pessoas deem a ela uma oportunidade de escuta — esse exercício da sensibilidade, da dedicação, do debruçar-se sobre uma obra.
Como intérprete, sempre escolhi meu repertório de forma minuciosa. Só canto o que realmente faz sentido para mim, o que dialoga com meus próprios pensamentos. E a Valéria tem uma ligação muito forte com a palavra, algo que me conduz a um lugar especial. Eu só consigo ser veículo de uma obra quando ela faz sentido para mim. É quase como se eu me tornasse coautora. Por isso, decidi me dedicar a este disco. Porque eu acredito. Acredito nessas músicas, acredito nela como compositora, acredito na força e na potência desse trabalho. Quando acredito, já estou realizando.
Para mim, pensar e conceber já é começar a colocar em prática. E eu precisava fazer isso. Desde o momento em que coloquei na minha cabeça, nada poderia mudar esse destino. Então, decidi colocar minha alma e meu coração nesse trabalho. Porque sinto que dentro dele existem coisas que precisam ser desvendadas e desbravadas.
TMDQA!: Antes do álbum, você conquistou diversos festivais com músicas como “Saga” e “Canta”. Como essas vitórias influenciaram na decisão de gravar esse trabalho?
Graziela: Eu nunca tinha participado de festivais. Minha mãe vem dessa escola, tem uma trajetória muito bonita de conquistas. A Valéria trouxe essa ideia. Quando a música me arrepia, me leva a um lugar de expressão total. Festival é uma única chance, é muito desafiador. Essas conquistas só somaram para que a gente chegasse a este trabalho bonito que estamos lançando.
TMDQA!: Quais foram os maiores desafios de interpretar apenas composições de outra artista, sem incluir músicas próprias ou já conhecidas?
Graziela: Sempre pinta uma insegurança, né, quando a gente lança um novo trabalho. Isso aconteceu também quando gravei o disco do Marcos Valle, mas um lado B não tão conhecido. Existe o questionamento de como o público vai receber, mas há uma necessidade muito maior de dar acesso a esse repertório e também um flerte comigo mesma do que eu desejo como artista. Ainda mais vivendo a maternidade, me desdobrando em várias funções, eu precisava desse lugar diferente, desafiador.
Continua após o player
TMDQA!: O disco tem um equilíbrio entre baladas, canções solares e um flerte com o Pop. Como foi o processo de arranjos e escolha da sonoridade?
Graziela: Os arranjos ficaram por conta do João Oliveira, que tem essa visão atual e ao mesmo tempo consegue juntar referências da década de 70, como Clube da Esquina e Secos & Molhados, além de influências mais recentes. Gravamos no Space Blues, com captação de vídeo de todas as faixas. A equipe foi incrível. Acho que conseguimos um resultado contemporâneo, com pitadas de várias referências, sempre servindo ao que a canção pedia.
TMDQA!: Existe alguma faixa que você considera mais marcante ou desafiadora?
Graziela: Eu gosto muito de “Quero”, que é a última faixa. Acho que é uma faixa que pede uma interpretação bem marcante. Mas gosto de todas, claro.
TMDQA!: Como você definiria a essência de Revela em uma frase?
Graziela: Revela é otimismo. É a busca pelos desejos, as crenças, a positividade. Mesmo que as coisas não estejam fluindo como desejamos, temos um caminho a percorrer para que isso aconteça.
TMDQA!: O disco é também um gesto de encontro entre gerações e trajetórias diferentes. Como vocês enxergam essa troca?
Graziela: Eu enxergo da forma mais positiva possível. É conhecer coisas novas, trazer canções que estavam na gaveta para que façam sentido a muitas pessoas. Num mundo musical tão democrático, mas difícil de alcançar ouvintes, unir forças dessa forma é vital.
TMDQA!: A presença feminina é central nesse projeto. Quais foram os momentos mais emocionantes durante a gravação?
Graziela: O momento mais lindo, para mim, foi estar gestando durante o primeiro período de gravação e depois dar à luz e continuar gravando com o Benicio ali, ainda bebê. Teve também a equipe feminina em partes do projeto. Foi muito especial.
TMDQA!: Que mensagem vocês esperam que o público leve ao ouvir o disco?
Graziela: Que tudo vai dar certo. O que você deseja, você vai alcançar. Talvez não no momento exato, mas com pensamento positivo e energia, você chega lá.