
O Brasil vive uma história intensa com o Black Sabbath. E quando a banda anunciou o show que acontecerá agora no dia 5 de julho como aquele que vai encerrar para sempre a história dos inventores do Heavy Metal, o brasileiro respondeu como sempre: com paixão, ousadia, persistência, fé e cartão de crédito!
A primeira vez do Sabbath por aqui foi em 1992, no Pacaembu, com Dio nos vocais e chuva no palco. Em 2013, o país finalmente se ajoelhou diante de Ozzy Osbourne em uma turnê icônica, e em 2016, os shows da celebração “The End” selaram o adeus nos palcos brasileiros – um verdadeiro ritual coletivo de fãs, famílias e lágrimas.
Agora, para o último show da história, em Birmingham, fãs brasileiros cruzam o oceano embalados por uma receita que incluiu atos de fé para encarar filas de espera gigantescas para conseguir ingressos pela Internet, que variaram entre R$1.414 e R$5.972, custos de passagem, hospedagem e otras cositas mas.
Alguns planejaram. Outros embarcaram na correria. Mas todos com a certeza de que é preciso estar lá para finalizar um ciclo que para a maioria começou na adolescência com camisetas pretas e fitas cassetes com os riffs sombrios de Tony Iommi que ajudam a incensar a história pessoal de cada um.
Quem não pôde viajar comprou a transmissão para assistir com os amigos em casa feito final de Copa do Mundo. Tem gente de São Paulo, Minas Gerais e Fortaleza. Conversei com alguns desses personagens para esta coluna Palavra de Peso do TMDQA. Confira!
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Clinger: fila de 155 mil pessoas e ingresso de última hora
Clinger Carlos Teixeira, 48 anos, de Belo Horizonte, é empresário no setor de parques aquáticos – e também mergulha no heavy metal. Criador do canal Heavy Metal Online, está há 13 anos apoiando a cena underground e cobrindo shows. Já até trocou ideia com Vinnie Appice, ex-baterista do Sabbath. Mas agora chegou a hora de viver o momento como fã.
Sozinho, ele embarcou para a Inglaterra num esquema quase bate-volta com um ingresso que conseguiu a apenas 10 dias graças à desistência de um amigo. Ele chegou a estar na posição 155 mil da fila online por uma entrada. Mesmo assim, não perdeu a fé – insistiu por meses até que um amigo salvou o rolê.
“Como vivo heavy metal, respiro heavy metal, não dava pra ficar de fora dessa celebração. Se fosse só mais um show, talvez eu nem fosse. Mas com tanta banda reunida e toda essa mística, vai ser algo como o tributo ao Freddie Mercury. Fora que o Ozzy vai captar cenas pro futuro filme. Deve rolar algo muito especial”.
Clinger já rodou o mundo atrás de shows – incluindo o Wacken, na Alemanha – mas diz que esse tem um valor sentimental diferente. Sua conexão com o Sabbath começou há 35 anos, quando vivia numa cidade pequena e sem acesso a discos. “A gente se virava com fitas cassete gravadas por amigos”, lembra.
“Uma música que seria legal tocar seria ‘Changes’, que o Sabbath quase não tocou ao vivo – foi mais o Ozzy, algumas poucas vezes, em carreira solo”, completa.
Ele já viu o Sabbath ao vivo no Brasil, mas nada se compara a esse capítulo final. É o fim de um ciclo que começou com fita cassete e camiseta preta – e agora termina com passaporte carimbado e o coração cheio.
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Ricardo Abuhab: fé, loucura e improviso
Quando conversamos, Ricardo Abuhab estava no meio de um show do Mercyful Fate na Europa. Mas a cabeça? Já estava em Birmingham. Aos 48 anos, o consultor financeiro paulistano (com um pé em Fortaleza) está prestes a realizar um sonho: ver o último show do Black Sabbath na terra natal da banda.
“No início de junho resolvi que ia pra Birmingham mesmo sem ingresso e comprei o aéreo e a hospedagem. Faltando dois dias pra embarcar, consegui o ingresso. Então foi tudo ao contrário”.
Sem entrada garantida, ele montou um Rock Tour pela Europa: 42 dias, 8 países, dois shows do AC/DC, e na bagagem nomes como Guns N’ Roses, Oasis, Slipknot, Linkin Park…
“Na verdade, nem falei pra quase ninguém que vou nesse show. Nem ingresso eu tinha até poucos dias. Acho que agora não será mais surpresa”, se diverte.
Ricardo já viu o Sabbath com Dio, com Ozzy, no Brasil e nos EUA – e soma cinco shows solo do Madman.
“É minha base: Led, Purple e Sabbath. Meu primeiro show foi em 92. O mais marcante foi o Ozzfest Meets Knotfest, em 2016.”
Viajante profissional de turnês, ele já viu shows em 18 países. Mas essa despedida mexe diferente.
“Já fui a duas turnês de despedida do Ozzy e uma do Sabbath, mas nunca acreditei. Agora é pra valer. Me emociono só de pensar que é a última vez.”
E o setlist? “Tanto faz. Só quero vê-los no palco, na cidade deles, e aplaudir. É só gratidão.”
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Paulo: sorte de principiante
Paulo Vitor Lira, 40 anos, de Santo André, no ABC Paulista, é professor de Economia e Relações Internacionais – e um dos brasileiros que cruzaram o oceano para ver o último show do Black Sabbath em Birmingham. Sozinho, embarcou numa jornada que mistura paixão por metal, persistência online e turismo sabbathiano raiz.
“Fiquei na pré-venda na internet e não rolou. No dia que abriu a venda geral também tentei desde de manhã. O único ingresso que apareceu era de duas mil libras — impossível!”, lembra.
Ele quase desistiu, mas decidiu tentar mais uma vez.
“Fui almoçar, voltei e fiquei atualizando. Apareceu um de pista, coloquei no carrinho, nem achei que fosse dar certo… e acabou dando!”
A sorte virou a favor naquele mesmo dia.
“Então consegui comprar no dia que abriu as vendas, no início do ano. E já reservei tudo em Birmingham logo depois.”
Além do show, Paulo está aproveitando a viagem para visitar locais históricos ligados à trajetória do Sabbath, como o moinho Mapledurham Watermill, locação da capa do disco Black Sabbath, e o Regent Sounds Studio, onde a banda gravou seus dois primeiros álbuns.
Coincidentemente, ele também estava no mesmo show do Mercyful Fate em que estava Ricardo Abuhab – o brasileiro anterior da nossa história.
Lira também é guitarrista da banda de metal punk Demophobia, que carrega o espírito de uma das maiores criações da classe trabalhadora: o Heavy Metal. Em 1968, quando o Sabbath surgiu, a crítica odiou, pois não falavam de flores nos cabelos. Mas, 57 anos depois, esses operários de Birmigham comovem multidões pelo planeta e provam que estavam certos.
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Lucas: trabalho em dobro pra pagar o cartão!
Lucas de Almeida, 31 anos, é assistente de logística e comprou ingressos no susto.
“Eu tava na fila online pro show do Iron Maiden em Estocolmo e decidi dar uma olhada nos ingressos do Sabbath. Apareceu um lugar péssimo, comprei sem pensar. No dia seguinte, minha esposa achou dois lugares bem melhores e… também comprou sem pensar!”.
Resultado? Dois pares de ingressos e uma fatura do cartão que vai tocar mais alto que o Iommi.
“Já consegui repassar um dos ingressos, mas agora teremos que trabalhar dobrado pra pagar!”.
Ao final, a conta do casal em ingressos foi fechada em algo em torno de R$2.900 por bilhete – e sem um arrependimento. Afinal, não é todo dia que se vê Metallica, Slayer, Anthrax, Pantera, Lamb of God e Black Sabbath no mesmo evento.
Lucas é natural de Bragança Paulista (SP), assistente de logística, e há cinco anos mora em Nottingham, a pouco mais de uma hora de Birmingham.
Em 2013, ele viu o Sabbath ao vivo pela primeira vez, na turnê do disco 13.
“Em 2016 não consegui ir e me arrependi demais. Agora é minha última chance de vê-los. Ainda nem acredito que consegui os ingressos!”
Com a esposa, costuma frequentar o clássico Rock City, em Nottingham, e também fazem viagens para shows em outros países da Europa.
A expectativa pro show? Máxima.
“Mesmo se não fosse a despedida, eu ia de qualquer jeito. Um line-up desses não se perde.” E se rolar Black Sabbath – “Black Sabbath” no setlist, o coração vem junto, ele diz.
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Ricardo: Copa do Mundo do Metal na sala de casa
De São Paulo, Ricardo Hessel, 48 anos, técnico cinematográfico, não pôde estar em Birmingham para a despedida do Black Sabbath por motivos financeiros. Ao lado dos amigos, ele encontrou outro jeito de viver esse momento histórico: comprou a transmissão por streaming pelo site da banda e vai transformar sua casa em arquibancada de Copa do Mundo.
“É a primeira vez que compro shows assim. Queria muito estar na Inglaterra, mas como não fiquei rico nesses últimos meses, foi a opção que encontrei de reunir os amigos e assistir a um festival potencialmente relevante – seja pelas bandas que estarão se apresentando quanto da principal, que estará se despedindo. E também pelo fato de ser beneficente.”
Com R$98 investidos na transmissão, o grupo prepara uma festa com comes e bebes – porque quando se trata do Sabbath, todo mundo quer estar junto. Nem que seja pela tela.
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A coluna definitiva para os apaixonados pelo heavy metal que traz uma curadoria afiada de bandas e temas que merecem sua atenção. Um mergulho no som que molda gerações. Se você vive e respira metal, essa é a sua leitura obrigatória!
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