LOOM World Tour - Outubro

Pega a máquina do tempo!

TMDQA! Entrevista: a ressurreição do Indie e o retorno do Moptop

Após 15 anos, grupo brasileiro que marcou os Anos 2000 retorna com novo disco e turnê comemorativa

Leitura: 12 Minutos
Moptop em registro promocional
Divulgação

O Moptop foi uma das bandas mais influentes da cena indie rock brasileira dos anos 2000 – e agora, 15 anos após seu último lançamento, o grupo está de volta com um disco inédito, uma turnê especial e a mesma urgência emocional que sempre os definiu.

Lançado no dia 6 de junho, Long Day marca o terceiro álbum de estúdio da banda e o primeiro inteiramente em inglês, abrindo caminho para uma nova fase que dialoga com as raízes do Moptop, mas olha firme para o presente.

Gravado à distância, entre três continentes, o disco carrega o espírito do “faça você mesmo” e fala sobre o cansaço da vida moderna, a passagem do tempo, a solidão digital e as contradições da meia-idade – sem perder a força melódica e crua que conquistou fãs em todo o Brasil. E para celebrar esse retorno, o Moptop também sobe aos palcos em julho com uma turnê que passa por cinco cidades e promete reviver os clássicos ao lado das novas canções.

Em uma conversa exclusiva com o TMDQA!, o vocalista e compositor Gabriel Marques nos leva aos bastidores desse reencontro inesperado: desde o momento em que voltou a compor quase por acaso até os desafios de reunir a banda depois de mais de uma década. Vamos mergulhar nos detalhes do novo disco, entender o que motivou essa volta e o que ainda move o Moptop após tantos anos.

Vem com a gente embarcar nessa nova jornada de uma das bandas mais queridas do nicho!

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TMDQA! Entrevista Moptop

TMDQA!: Gabriel, primeiramente, muito obrigado por receber a gente! É uma grande honra, sinceramente. Quinze anos já se passaram – um tempo mais que considerável para um hiato – e eu queria saber como tem sido esse reencontro da Moptop. Como está essa retomada de energia, principalmente agora que vocês estão numa fase de vida tão diferente?

Gabriel (Moptop): Tem sido algo muito especial, eu realmente não achava que faria isso de novo. Achei que música era uma coisa do passado para mim, e ter a oportunidade de voltar a fazer isso tem sido muito marcante.
Só de retomar o contato com a banda, de poder fazer música novamente com esses irmãos de vida, já teria sido algo incrível – mas, além disso, a resposta dos fãs tem sido muito positiva. Eu não tinha noção do quanto a Moptop ainda era importante para tanta gente, há um legado ali. É muito legal.
Acho que tem uma palavra em inglês — overwhelming — que define bem o sentimento às vezes. É tudo muito intenso. Eu não estava mais acostumado com essa quantidade de atenção, de mensagens. Minha vida estava bem diferente nesse aspecto. Então, às vezes, é meio avassalador, mas, fora isso, tem sido muito especial!

TMDQA!: Imagina! Acho engraçado você dizer isso, até porque as músicas começaram a surgir justamente depois de mais de dez anos sem você pegar numa guitarra, isso é quase cômico. Houve algum clique específico? Um momento em que vocês pensaram: “Agora é a hora, vamos voltar e gravar um disco completo”?

Gabriel (Moptop): Sim, tiveram etapas! A primeira foi quando eu me dei de presente um violão de aniversário. Queria um hobby, algo para relaxar depois do trabalho, e quando pego um violão, costumo sair criando coisas. Foi o que aconteceu: as músicas começaram a surgir.
No início era tudo meio abstrato, mas nos primeiros meses já surgiu uma leva de canções. Entre elas estavam “Last Time”, “Falling” e outras três ou quatro ideias. E elas me emocionaram do mesmo jeito que as músicas do início da Moptop me emocionavam. Quando decidi parar com a banda, as músicas tinham deixado de me emocionar – então essa foi a primeira etapa. Depois, falei com o Curi (guitarrista): “Cara, o que você acha disso?” Ele se empolgou, e começamos a gravar demos como brincadeira. A empolgação foi crescendo. E, num certo momento, pensamos: “Acho que temos um disco aqui.
A gente sabia que ia demorar – levamos um ano -, mas o importante era gravar. Sentimos que essas músicas mereciam ser registradas e lançadas no mundo.
Depois, veio o convite para um show em São Paulo. Pensamos: “Vamos fazer!”, o show esgotou, e aí tudo cresceu a partir disso. [risos]

TMDQA!: Muito massa. E eu também queria entender como foi lidar com a distância geográfica – Los Angeles, Brisbane, Rio… Como vocês enfrentaram esse desafio durante a gravação de Long Day?

Gabriel (Moptop): Foi um processo novo. O maior desafio foi não ter ensaio. Desde a outra fase da Moptop, a gente fazia muita coisa no computador, mas sempre levava para o ensaio, onde as músicas realmente ganhavam corpo.
No ensaio, definíamos tempo, partes, vocais… Isso foi difícil de substituir. Mas acabamos adotando um processo iterativo: alguém gravava algo, mandava, o outro ouvia e gravava por cima, mandava de volta – levava tempo, mas funcionou! [risos]
Estabelecemos alguns princípios: o primeiro take costuma ser o melhor, simplificar sempre, não conceituar demais. Foi muito intuitivo, bem diferente de antes, quando tínhamos mais referências claras do que queríamos fazer.

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TMDQA!: Foi tudo feito de forma 100% independente, essa autonomia acabou influenciando o processo criativo, sem dúvida. E como isso ressignificou o trabalho para vocês? Ainda mais sendo o primeiro disco totalmente em inglês, com esse retorno às raízes da banda.

Gabriel (Moptop): Foi uma mistura de necessidade e escolha, não sabíamos se daria para fazer de outro jeito, então resolvemos simplesmente fazer.
Me empolguei muito com a ideia de produzir, de usar as ferramentas que estavam ao nosso alcance. As primeiras demos da Moptop também foram produzidas por nós, então isso já fazia parte do nosso DNA. [risos] Claro que teve frustração, eu não sou engenheiro de som, então às vezes não conseguia exatamente o som que queria. Mas, no final, chamamos gente mais experiente para mixar e dar aquele acabamento final.
Parte da diversão foi essa: fazer tudo do nosso jeito, com controle total do processo. Era sobre fazer música por prazer, sem se preocupar com as consequências.

TMDQA!: Acabei ouvindo o disco com atenção – sensacional, diga-se de passagem. As letras abordam a meia-idade, a ansiedade moderna, a solidão digital. Tudo muito íntimo e sincero. Isso dialoga perfeitamente com a arte da capa, o rato preso, a rat race… Como vocês chegaram nessa abordagem mais existencial?

Gabriel (Moptop): Poxa, obrigado! Difícil sintetizar, mas acho que o disco lida com ansiedade, urgência, nostalgia… São temas centrais.
É algo pessoal, fruto do que vivi nos últimos anos – e que muita gente também está vivendo. Tem ansiedade profissional, ambiental, política, tecnológica… Tudo isso está presente.
Como pai, isso é ainda mais forte. Há a preocupação com o mundo que minhas filhas vão herdar e uma sensação de falta de controle. Quando eu era mais jovem, sentia que o mundo estava indo numa direção melhor. Ainda sou otimista, mas esse otimismo está sendo testado.
Muitas letras desse disco surgiram de forma espontânea. Antigamente, eu criava a melodia e depois escrevia a letra. Desta vez, muitas vieram quase completas, cantadas. Foi algo mais instintivo, menos racional.

TMDQA!: Musicalmente, o disco também traz influências novas – Tom Petty, Rolling Stones, um toque de americana – além das camadas melódicas e cruas. Como foi equilibrar isso com a identidade já estabelecida da Moptop?

Gabriel (Moptop): Foi algo bem natural. Não foi planejado. Tínhamos limitações de tempo, dinheiro, equipamento. Tudo – exceto bateria e metais – foi gravado em casa, com microfones simples. Isso trouxe essa sonoridade mais indie, mais crua.
Ao mesmo tempo, tentamos evitar certas “fórmulas” que a Moptop sempre usou, embora seja inevitável que elas apareçam – afinal, somos a mesma banda! Mas a sensação era de estar brincando de novo. Como crianças com instrumentos nas mãos, testando sons, efeitos, sintetizadores, trompetes, pianos.
Essa curiosidade trouxe novas camadas e texturas.

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TMDQA!: Inclusive, precisamos destacar: a produção e a masterização ficaram incríveis. Como foi a colaboração com o Daniel e o Fred à distância?

Gabriel (Moptop): O Dani é amigo de longa data, tivemos a sorte de ele estar disponível e animado para participar. Ele foi muito atencioso, captando todos os detalhes que queríamos. Levou o trabalho a um novo nível!
O Fred foi indicação do Dani. Ele tinha trabalhado com o Jorge Drexler e outras bandas que admiramos, e o trabalho dele encaixou muito bem com a proposta. Foi maravilhoso.

TMDQA!: Agora, se aproximando da turnê, que começa em julho com shows em BH, Recife, Rio, São Paulo, Curitiba… Como está o coração para esse reencontro com o palco e com os fãs?

Gabriel (Moptop): É uma mistura de empolgação e ansiedade! [risos] A Moptop sempre foi uma banda de palco, a gente fazia shows com estrutura mínima e fazia acontecer.
Agora, a dúvida é: será que conseguimos recuperar aquela energia? Ou será uma nova energia? Não sabemos, mas estamos abertos ao que vier.
Muita gente que fez parte da nossa trajetória voltou agora – o engenheiro de som, empresários, até o roadie! Pessoas que estavam na cena dos anos 2000… Isso vai ser muito legal, estamos com boas expectativas.

TMDQA!: E que mensagem vocês gostariam de deixar para os fãs que esperaram esse retorno – e também para quem está conhecendo a banda agora, através de Long Day?

Gabriel (Moptop): Cara… Obrigado por aceitarem a gente de volta, por escutarem esse trabalho que, apesar de ser em inglês, foi feito com muito coração.
Obrigado também a quem ainda ouve Moptop, mesmo depois de tanto tempo sumidos. E, especialmente, a quem vai aos shows – sair de casa para compartilhar esse momento com a gente é algo enorme.
Vamos tentar não desaparecer por mais 15 anos. [risos] Não quero prometer nada, mas a sensação é de gratidão – espero que possamos retribuir além dos shows.

TMDQA!: Muito lindo isso. Cara, pra finalizar, essa é uma pergunta bem tradicional aqui no nosso repertório em entrevistas: Gabriel, considerando o nome do nosso veículo, queríamos saber se você também considera ter mais discos do que amigos! E se você pudesse escolher um álbum que te define, não só como artista, qual disco seria?

Gabriel (Moptop): Nossa, que pergunta difícil! Eu definitivamente tenho mais discos na cabeça e no coração do que amigos, com certeza. Minha coleção de vinil ficou no Brasil, com meu irmão, que ficou com todos os nossos discos. Não consegui trazer para os Estados Unidos, mas estou montando uma nova biblioteca – dessa vez junto com as minhas filhas. A gente está construindo a coleção delas, e está ficando bem legal até agora. [risos]
São muitos discos importantes pra mim, mas um que me marcou muito recentemente, e que acho que tem até uma ligação com esse novo momento do Moptop, foi o Wildflowers, do Tom Petty. Eu redescobri esse álbum alguns anos antes de começar a compor de novo, e ele acabou me influenciando bastante – mesmo que de forma inconsciente. Só depois que algumas pessoas me disseram que o nosso som lembrava Tom Petty que comecei a fazer essa conexão.
O disco foi produzido pelo Rick Rubin, que é uma grande referência pra mim. Durante a produção do Long Day, inclusive, eu li o livro dele sobre criatividade, e aquilo me impactou muito. Então acho que Wildflowers foi uma peça importante nesse reencontro com a música – e é ele que eu citaria agora.

TMDQA!: Sensacional! Finalizamos por aqui, queria agradecer demais pela disponibilidade e pelo carinho conosco. Parabéns mais uma vez pelo álbum e pelo retorno, contem conosco!

Gabriel (Moptop): Que maneiro, eu quem agradeço mais uma vez pela atenção. Nos vemos em breve!

Turnê do Moptop

O recado tá dado: depois de se apresentarem pela última vez em 2010, abrindo pro Franz Ferdinand na Fundição Progresso (RJ), o Moptop tá prestes a entrar em rota de novo!

A banda tocará em Belo Horizonte (5/7 – Distrital), Recife (6/7 – Estelita), Rio de Janeiro (10/7 – Circo Voador), São Paulo (12/7 – esgotado e 13/7 – Augusta Hi-Fi) e Curitiba (18/7 – Stage Garden).

Todas as informações você confere aqui.

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