Desde sua estreia, o Turnstile tem desafiado definições fáceis. Formada em Baltimore, a banda surgiu da cena hardcore com uma proposta barulhenta, intensa e, paradoxalmente, leve. Com Time & Space (2018) e GLOW ON (2021), eles construíram uma ponte entre os porões do punk e a visibilidade mainstream, misturando metal, R&B, funk e psicodelia sem perder a integridade.
Agora, o grupo chega com NEVER ENOUGH, um trabalho mais expansivo, ensolarado e maduro – parece feito sob medida para churrascos, pistas de skate e verões sem fim. Gravado no lendário estúdio de Laurel Canyon onde os Red Hot Chili Peppers criaram Blood Sugar Sex Magik, NEVER ENOUGH não esconde suas raízes nos anos 1990 – mas as renova com frescor. A produção amplia a estética etérea de GLOW ON, mesmo com a ausência do produtor Mike Elizondo e do guitarrista fundador Brady Ebert.
O TMDQA! ouviu o projeto e te conta mais a seguir. Chega mais!
Continua após o vídeo
Uma sonoridade que brilha sob o sol
Logo aos primeiros segundos da faixa-título – single disponibilizado em abril – , já fica claro que o Turnstile está operando em outra frequência. Com guitarras flutuantes e refrões grudentos, a banda convida o ouvinte a um verão sem fim – onde o hardcore encontra shoegaze, reggae e até R&B, tudo sob o mesmo céu azul.
O calor é uma constante: NEVER ENOUGH soa como um álbum feito para o pôr do sol, para o movimento, para os amigos. A influência de bandas como Incubus, Jane’s Addiction, Red Hot Chili Peppers e até The Police aparece em várias camadas – mas sempre filtrada pela estética emocional e percussiva que o Turnstile criou para si. Em “SEEIN’ STARS”, por exemplo, é impossível não notar a semelhança com o clássico Zenyatta Mondatta, ainda que tudo aqui tenha uma urgência própria.
Brendan Yates canta sobre amor, paz interior, entrega e liberdade. Esculpindo mais de uma identidade própria e se reafirmando como um dos nomes mais carismáticos do cenário, o ouvinte é transportado para um mundo onde a vitalidade é o grande foco – acompanhada de bons grooves e um alt-rock que cativa a cada minuto.
Continua após o vídeo
Do underground ao mainstream sem perder o coração
Mais do que um disco de rock alternativo, o álbum é um manifesto: sobre crescer sem endurecer, sobre mudar sem se perder. Turnstile parece ter deixado de lado o debate sobre “o que é hardcore” e assumido de vez sua identidade como uma banda de rock universal – não no sentido genérico, mas no de fazer música que atravessa nichos e ressoa em qualquer um disposto a sentir.
Faixas como “SOLE” e “SLOWDIVE” equilibram o peso das guitarras com a leveza de refrães quase pop. Já “SUNSHOWER” e “DREAMING” poderiam facilmente tocar em qualquer rádio alternativa ao lado de nomes como Bloc Party ou Paramore. Ainda assim, a intensidade não desaparece – ela só foi convertida em algo mais expansivo, quase espiritual.
Entretanto, é verdade que NEVER ENOUGH não tem o impacto instantâneo de GLOW ON – há menos surpresas abruptas, menos quebras de expectativa. Em compensação, há mais unidade, mais respiro, mais clareza.
Mesmo em seus momentos menos marcantes, o álbum não soa vazio. São canções que complementam o todo, que ajudam a construir uma narrativa de amadurecimento artístico e pessoal – e o que falta em agressividade, sobra em carisma. É difícil não sorrir ouvindo Turnstile hoje. Poucas bandas soam tão vivas, tão conectadas com sua própria energia.
Continua após o vídeo
Turnstile: onde a liberdade é o refrão
NEVER ENOUGH não é apenas o álbum mais ensolarado da discografia do Turnstile – é também o mais emocional. Uma coleção de músicas que falam sobre se sentir bem, se sentir livre, se sentir suficiente. Um disco feito para dançar, gritar, flutuar.
Mais do que um novo capítulo, é uma prova de que a banda encontrou seu centro. E que, mesmo longe da ortodoxia do hardcore, continua sendo uma potência criativa rara no rock atual.
Se GLOW ON foi a ascensão, NEVER ENOUGH é o voo de cruzeiro – leve, bonito, radiante. E para muitos ouvintes, com certeza será o álbum perfeito para 2025 (com toda a razão).
★★★★★ (5/5)
OUÇA AGORA MESMO A PLAYLIST TMDQA! RADAR
Quer ouvir artistas e bandas que estão começando a despontar com trabalhos ótimos mas ainda têm pouca visibilidade? Siga a Playlist TMDQA! Radar para conhecer seus novos músicos favoritos em um só lugar e aproveite para seguir o TMDQA! no Spotify!