
Idealizada por LuizGa (Graveola, Rosa Neon e TiãoDuá) e Paulo Novaes (compositor, cantor e instrumentista), a TXAI BAND vai além da música. Trata-se de um movimento de “aliança, coligar, aprender, resistir, lutar, reconhecer, resistir,” como define Paulo. O projeto, que conecta artistas urbanos não-indígenas e indígenas, celebra a diversidade e a resistência dos povos originários. Além disso, utiliza a arte como uma ponte entre mundos.
Primeiramente, a banda lançou, no final de 2024, um álbum e um minidocumentário com o povo Huni Kuin da aldeia Chico Curumin, no Acre. A produção destaca a riqueza cultural e espiritual dessa parceria. Reconhecida internacionalmente, a TXAI BAND figurou na lista de “Melhores do Mundo” da revista inglesa Songlines, referência em música alternativa. Além disso, no Brasil, o disco de estreia alcançou uma expressiva repercussão de mais de 100 mil reproduções em 6 meses de lançamento, de maneira orgânica. Esse resultado contribui significativamente para aumentar a presença e a valorização da arte indígena no cenário contemporâneo, sem dúvida.
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“Uma das coisas que eu mais aprendi com os Huni Kuin é que aprender algo novo é a coisa mais bonita da vida, sempre,” reflete LuizGa. Por isso, com essa inspiração, a banda chegou ao Acampamento Terra Livre (ATL) 2025, em Brasília, onde participou do maior evento de mobilização indígena da América do Sul, conectando arte, política e ancestralidade.
TXAI BAND e o chamado do protagonismo indígena
A frase “a resposta somos nós“, slogan da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) para o ATL 2025, ecoa com força na missão do projeto. Nesse sentido, LuizGa vê nela um convite ao protagonismo indígena: “Visivelmente, é um chamado para estabelecer definitivamente o protagonismo das lideranças e organizações indígenas no processo de deliberação, construção de políticas públicas, encaminhamento das pautas e resoluções de problemas”.
Essa resposta pode vir de várias frentes: atuações políticas, manifestações, expressões culturais, diálogo, cinema, artes plásticas. No nosso caso, é colaborar com o registro e a manutenção dessa cultura viva, que é pouquíssimo documentada.” – Paulo Novaes
Além de um encontro político, o ATL também é uma manifestação estética e cultural única. “É uma grande congregação, uma mobilização política que também tem uma cara de festa, de encontro, mas a festa que não perde a dimensão da luta,” reflete LuizGa. Ele enfatiza como a experiência foi marcante pela beleza e profundidade das manifestações culturais: “É uma experiência multissensorial, avassaladora. A luta dos povos indígenas está profundamente atravessada pela arte, pela criação e pela música.”
A voz de Guaja: resistência e ancestralidade
Durante o ATL 2025, a TXAI BAND emocionou o público com uma performance que uniu música, arte e ativismo no palco principal. Além disso, Paulo destacou outro momento musical especial no ATL: “O fim da marcha da comunidade LGBTQIA+ indígena, que desaguou no show da nossa amiga Guaja, foi um dos momentos mais fortes. A performance dela foi impressionante.”
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Guaja, mulher trans do povo Guajajara, é cantora, ativista e uma das vozes mais poderosas da comunidade indígena LGBTQIAPN+. Residente de Brasília, ela utiliza a arte como ferramenta para resgatar a ancestralidade e projetar o futuro: “A arte é resistência, é ponte, é futuro porque eu falo sobre ancestralidade,” afirma. Além de sua apresentação, Guaja participou de tendas no ATL 2025 que abordaram diversidade, saúde indígena e expressão de gênero, reforçando sua luta pela visibilidade LGBTQIAPN+.
Proporcionar conexões pode gerar um movimento que dê mais possibilidade de eu mesma registrar a minha própria história.” – Guaja
Com sua perspectiva única, Guaja também reflete sobre o futuro das novas gerações: “Eu gostaria de plantar todos os sonhos que puder e todas as mudanças necessárias para o meu crescimento. Se isso for com bastante arte, poderá ser algo poderoso para os indígenas LGBTQIAPN+.”
Repressão e invisibilidade na mídia tradicional
Em contrapartida com as celebrações, a repressão violenta contra os povos indígenas também foi tema no ATL. Neste ano, a violência atingiu até a deputada Célia Xakriabá. “É um absurdo completo ver que em um país como o Brasil, durante um evento que tem tamanha importância, a repressão policial atinge uma parlamentar eleita. É o cúmulo da truculência e da ignorância operacionalizada pelo próprio governo,” lamenta LuizGa.
Além disso, a ausência de cobertura midiática é uma questão preocupante. Paulo enfatiza que, se o ATL recebesse mais atenção da imprensa, o Brasil seria um país mais consciente e conectado à preservação cultural: “Com certeza teríamos outro Brasil, com muito mais florestas, com a preservação dessa gigantesca cultura, de diversas línguas, comidas, tradições, músicas, arte, pintura, medicina”.
Sob o mesmo ponto de vista, LuizGa reforça:
O Brasil é um país plurinacional, com diversas línguas, culturas, músicas e estéticas muito antes da colonização chegar. Portanto, é preciso valorizar essa gigantesca cultura. […] O ATL é algo que todo brasileiro deveria vivenciar ao menos uma vez.”
Reinvenção após o ATL 2025
A TXAI BAND deu início a um novo projeto: canções gravadas com Guaja. Essas músicas, compostas e registradas nos dias anteriores ao evento, representam um novo capítulo na trajetória do projeto.
LuizGa comenta: “As composições com Guaja trazem atravessamentos muito singulares. Estamos muito felizes com o resultado e ansiosos para os desdobramentos futuros.” Enquanto isso, Paulo acrescenta que o ATL mostrou que a TXAI BAND precisa se expandir: “Conhecemos muitos artistas no ATL e estamos com um milhão de ideias. TXAI BAND será sempre uma plataforma de aliança com artistas indígenas que queiram fazer gravações e trocas culturais conosco.”
Um convite ao aprendizado e à ação
A presença da TXAI BAND no ATL não foi apenas uma participação, mas também um chamado à ação e ao aprendizado. Assim, Paulo deixa uma mensagem direta aos artistas: “Procurem entender um pouco mais sobre a história desse território que chamamos de Brasil. […] Busquem saber quem são esses povos, o que eles fazem e como podemos colaborar nessa luta de reconhecer. Só olhar de longe não ajuda. Eles precisam da nossa aliança para preservar a cultura de vários povos.”
Para LuizGa, a arte é um vetor essencial: “A arte é uma ferramenta que pode proporcionar mudanças. Ela toca pessoas emocionalmente, conectando-as a realidades que talvez nunca tivessem acesso. É uma maneira de abrir portas para novas narrativas.”
Com novas composições e um registro previsto ainda para 2025, a TXAI BAND continua sua jornada de resistência e aprendizado. Em conclusão, Paulo conta: “Nossa intenção sempre foi criar pontes e reconhecer a grandeza das culturas originárias. Estamos apenas começando.”
“O céu é o limite”, complementa LuizGa com entusiasmo. Inegavelmente, ao dar voz a artistas indígenas, a TXAI BAND se posiciona como um catalisador para mudanças significativas na percepção e valorização das culturas originárias. Portanto, é mais do que música: é resistência, aprendizado e aliança afetiva real.
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Ouça e veja a TXAI BAND
Lançado em 4 de dezembro de 2024 pelo LOCO Records, o disco de estreia da TXAI BAND é fruto de uma imersão artística de LuizGa e Paulo Novaes na aldeia Chico Curumim, no Acre, junto ao povo Huni Kuin. O álbum reflete a riqueza cultural e espiritual dessa vivência, marcada por trocas profundas e a celebração da diversidade indígena.
Para complementar o lançamento, a banda disponibilizou um minidocumentário que explora os bastidores desse encontro transformador. Mais que uma produção audiovisual, o material é um convite ao público para mergulhar nas narrativas, resistências e celebrações dos Huni Kuin.