O rock está menos ácido, menos alcoolizado e mais cafeinado.
A mais nova prova disso é a The Jolene Coffee, marca recém-lançada por Anthony Kiedis, vocalista do Red Hot Chili Peppers.
Com estética retrô, nome sugestivamente country e uma vibe meio “Califórnia boêmia”, a marca tem uma proposta que ainda está se desenrolando, mas claramente aposta em lifestyle, storytelling e, espero, um bom perfil de torra. Modéstia à parte, de café eu entendo.
Kiedis se uniu ao amigo de longa data Shane Powers para criar a JOLENE, uma marca de café enlatado, pronta para beber. A ideia surgiu de um ritual semanal de mais de 20 anos entre os dois, em que compartilham cafés e conversas. O nome “JOLENE” é uma brincadeira com a expressão “cup of joe” (xícara de café) e também uma referência à icônica música de Dolly Parton, apesar da artista não ter ligação formal com a marca.
A marca oferece duas opções:
- Black: um cold brew encorpado.
- White: um latte suave com leite de aveia.
Os grãos são provenientes de uma cooperativa feminina no Peru, reforçando o compromisso com práticas éticas e sustentáveis. A marca também nasce fazendo um golaço estratégico: uma parceria com a Live Nation, garantindo presença em mais de 40 anfiteatros e festivais nos EUA. Já chega com palco, plateia e distribuição certeira. Além disso, está à venda online e em varejistas selecionados em Los Angeles e Nova York.
Na batalha que é escolher algo nas dezenas de geladeiras das conveniências estadunidenses, construção bem-feita de marcas é um enorme diferencial.
Presença forte do Café na Música
Mas Kiedis não é o primeiro artista a entrar nesse território… longe disso.
O baixista David Ellefson, ex-Megadeth, já pilota há anos sua Ellefson Coffee Co., com embalagens que parecem capas de disco e blends com nomes como Roast in Peace (brincando com músicas famosas de sua ex-banda). Ele entendeu cedo que o café pode ser mais que uma bebida: é um merch interessante e uma ótima narrativa para os fãs.
Aliás, lancei há alguns anos uma collab com ele aqui no Brasil, junto com a minha marca: o Coffee Hunter.
Fizemos o mesmo com uma edição especial com o Sepultura, incluindo pôsteres e palhetas exclusivas e limitadas.
Sold out em praticamente uma semana:
Outro case digno para compartilhar por aqui, mesmo não sendo da música, é o do NBA All-Star Jimmy Butler, que lançou a linda marca BIGFACE.
Com identidade visual ousada, grãos premiados e collabs de luxo, a BIGFACE se tornou um case de storytelling visual e sensorial, milimetricamente pensado para alimentar fãs, feeds e conversas de marca.
Sou fã.
No universo musical, a lista é longa…
O Green Day lançou a Punk Bunny Coffee, especializada em cafés orgânicos. Recentemente, colaboraram com a Keurig para criar um kit de cafeteira de edição limitada, celebrando o 20º aniversário do álbum American Idiot.
O Korn, em 2018, lançou o Korn Koffee.
Joey Kramer, batera do Aerosmith, fundou a Rockin’ & Roastin’ Coffee, oferecendo blends que combinam com o espírito do rock.
Zakk Wylde (Black Label Society), criou o Valhalla Java em parceria com a Death Wish Coffee, conhecido por seu alto teor de cafeína – e é forte, hein?
O Kirk Hammett (Metallica), em parceria com a Dark Matter Coffee criou o blend Ghoul Screamer, inspirado em sua paixão por filmes de terror.
E, depois, fez uma collab muito bacana com a Muddy Waters Coffee Co.
Esses exemplos mostram uma tendência clara: marcas de cafés de músicos, bandas e celebridades não são só sobre as notas sensoriais e os grãos selecionados, são sobre criação e gerenciamento de comunidades, pertencimento e rituais.
Quem compra esses produtos não está apenas em busca de cafeína e uma bebida qualquer. Está buscando um pedaço da identidade de seus ídolos. É merchandising emocional (com aroma).
O café virou um novo tipo de vinil. Algo que se coleciona, que a gente busca, caça, fotografa, posta, consome com orgulho e compartilha. Um meio de expandir o ecossistema da marca pessoal dos artistas. É conteúdo líquido, muitas vezes quente (com o perdão do trocadilho), que se encaixa em vários momentos do dia e de nossas vidas.
E no fundo, faz todo sentido.
Café é ritual. Música também.
Café conecta. Música também.
Café é paixão. E nem precisamos falar do resto…
Para quem trabalha com branding, fica o lembrete: experiências sensoriais, físicas e colecionáveis sempre foram engajamento puro. E se o seu artista favorito está na sua playlist e, agora, também na sua xícara… talvez o que ele esteja oferecendo não seja apenas café, mas um novo jeito de estar presente na vida dos fãs – no som, no cheiro, no gosto e no afeto.
Porque, no fim das contas, a memória também tem paladar (as notas sensoriais do café vem daí, tá?). E a música, às vezes, começa com um golinho.
Coluna dedicada a explorar como o marketing pode transformar bandas em marcas icônicas e vice-e-versa. Com mais insights sobre música, estratégias criativas e cases de sucesso, a coluna pretende desvendar o universo em que música e negócios se encontram.
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