Nos últimos anos, o rap nacional viveu um período de glória nos palcos brasileiros. Presença constante nos line-ups dos maiores festivais do país, o gênero chegou a ser tratado como carro-chefe de grandes eventos. Mas em 2024, o cenário mudou drasticamente: os festivais de rap praticamente desapareceram do calendário, e os poucos que restaram parecem ter perdido o sentido.
Há uma confluência de fatores por trás desse apagão. De um lado, a pós-euforia pandêmica com custos inflacionados, ingressos caros e público esgotado financeiramente. Do outro, há um problema mais específico da cena do rap: uma curadoria limitada, que insiste nos mesmos nomes, nos mesmos shows, no mesmo roteiro.
O resultado é uma fórmula esgotada. A experiência perdeu o frescor, a diversidade se dissolveu e os palcos se tornaram vitrines exclusivas para os poucos artistas que conseguiram furar a bolha do mainstream — geralmente concentrados no eixo Rio-São Paulo, homens, com os mesmos hits.
Enquanto isso, os artistas independentes, coletivos locais e figuras históricas da cultura hip hop foram sendo deixados de lado. Sem incentivo e sem palco, muitos abandonaram os corres ou migraram para outras áreas. A cena, que deveria ser movimento, se tornou uma pirâmide: pesada no topo e frágil na base.
Custos vs curadoria
É verdade que os custos para realizar um festival aumentaram drasticamente. Estrutura, segurança, transporte, som, alimentação — tudo ficou mais caro. Mas a solução encontrada por muitos produtores foi apostar cada vez mais alto em nomes de cachê inflacionado, na esperança de garantir impacto imediato e retorno garantido. Só que o público não acompanhou. E não por falta de interesse, mas por falta de acesso e identificação.
Ingressos caros, line-ups repetitivos, poucas opções além dos megashows: ir a festivais de rap hoje exige muito mais que vontade — exige poder aquisitivo. E ironicamente, quem mais construiu essa cultura está sendo deixado do lado de fora.
Muitos produtores reclamam que a conta não fecha. Mas será que já pensaram em outra lógica? Por que pagar R$200 mil para um artista, se é possível contratar mais artistas relevantes por 10% desse valor? A cena tem nomes talentosos, com público fiel, prontos para movimentar palcos e trazer diversidade para os eventos. Falta curadoria. Falta coragem de sair da bolha. Falta visão a longo prazo.
O rap não pode depender só do hype digital. Ser hit no streaming não garante casa cheia. O que sustenta o movimento é o calor da rua, a conexão com a base, a presença nos territórios.
É legítimo que artistas sejam valorizados. É justo que recebam bons cachês. Mas a sustentabilidade do rap depende de equilíbrio: entre topo e base, entre grandes nomes e novas apostas, entre lucro e propósito. Valorizar o underground não é caridade — é inteligência de mercado. É garantia de futuro.
Se o rap quer continuar nos palcos, precisa lembrar por que e por quem ele subiu neles.
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