27/05 - 01/06

"Y" já está disponível nas plataformas

Selvagens à Procura de Lei transforma dor da separação em um dos melhores discos nacionais do ano

Álbum eterniza feridas e cicatrizes enquanto oferece uma nova visão sobre acontecimentos dos últimos meses

Selvagens à Procura de Lei e a capa de Y

São raras as ocasiões em que um processo de separação não é doloroso. Quando ele acontece publicamente, então, há várias camadas e sentimentos envolvidos que tornam tudo ainda mais difícil.

No caso da banda cearense Selvagens à Procura de Lei, os últimos meses foram de tensão para os fãs, já que eles viram, em público, uma ruptura que deixou o vocalista, guitarrista e compositor Gabriel Aragão de um lado e três integrantes de outro.

Quando a poeira baixou, Gabriel redesenhou o Selvagens com Matheus Brasil, Jonas Rio e Plínio Câmara, que hoje lançam o primeiro disco dessa fase, o excelente Y.

Selvagens à Procura de Lei lança novo disco

Talvez você estranhe o nome do álbum, tão curto e direto, formado por apenas uma letra, mas tudo aqui é simbolismo.

O “Y” representa uma bifurcação, ou a continuidade de uma história que, antes unidade, agora tem dois caminhos. Essa divisão é citada na letra de “Gatilhos”, uma das mais poderosas e emocionalmente carregadas canções do álbum.

Tão simbólico quanto o nome do disco e sua capa é também a faixa de abertura, “Daqui Pra Frente”, que não apenas deixa claro como tudo vai ser diferente, com também dá o tom de um disco que bebe nas fontes de diversos subgêneros do Rock And Roll para acompanhar as suas letras.

Todas as 12 faixas do álbum tocam diretamente no assunto da separação, e o disco parece ser uma verdadeira sessão de terapia para Gabriel, que exala traços do Queens Of The Stone Age em “Amigos Por Interesse” e volta a falar sobre um futuro melhor para as duas partes em “Melhor Assim”, com metais no refrão que lembram os tempos de ouro de bandas como Los Hermanos.

Confessionário Rock And Roll

Nova formação da Selvagens à Procura de Lei
Créditos: Igor de Jesus

Há duas constantes em Y, novo disco do SAPDL: a primeira é que o Rock não deixa de dar as caras em praticamente nenhum momento.

Há traços do Indie, do Punk, do Rock Alternativo e, claro, muita influência de bandas do Rock Brasileiro, e cada faixa é uma viagem deliciosa por riffs e timbres que muitas vezes são “cobrados” pelos fãs brasileiros do gênero, que sentem falta da sonoridade dos Anos 90, 2000 e 2010.

Um ótimo exemplo disso tudo é “Quando eu me Encontrar”, que divide um pouco disso tudo com outro nome icônico da história do rock brasileiro, a banda Vivendo do Ócio.

As exceções ficam em canções como “Difícil” e “Mucambada”, duas baladas que trazem justamente a segunda constante do álbum em evidência: a clareza com que as palavras ditam o ritmo desse disco.

Em ambas, Gabriel fala sobre passagens que marcaram o período mais difícil de sua carreira, sendo que na primeira ele disserta sobre confiança e na segunda escreve uma carta aberta aos fãs da Selvagens, que com certeza sentiram o peso da turbulência pela qual a banda passou.

Uma Despedida Poética para Seguir em Frente

E se a viagem é clara, ao final ela também pode ser carregada de poesia. Gabriel, inclusive, lançou um livro de poesias chamado “Armadura de Papel” há algum tempo.

“Gatilhos”, já citada aqui, não apenas faz a analogia da bifurcação ao “Y” como é estruturada em cima de rimas sobre alguém, seja um músico ou um conjunto deles, muito específico:

Junto a gente tirava um som
Até você mudar de tom

Nossos caminhos foram separados
Obrigado pelo presente eu precisava seguir em frente
E embora eu sinta falta da gente
Ninguém é assim tão inocente

Junto a gente fazia/tirava um som
Até você mudar de tom

Nossos caminhos foram separados
Como um “Y”

Logo em seguida, a última faixa “Nunca Tem Fim” vem com a mensagem dupla de que um ciclo se encerra para outro se iniciar, e sua letra é a menos direta do álbum:

Lembra que o fim não tem fim
Manda um batalhão por mim filhos de Exu Mirim
Lembra que o fim não tem fim
E quando aportar no cais do fulgor
Escreve pra mim, menino-mar, divina flor
Meu quinhão é tudo o que o vento encostou
Canta a canção pra mim cuida do teu jardim
Lembra que o fim não tem fim
Escava esse chão por mim desmarca os teus confins
Lembra que o fim não tem fim

Ao final dos 41 minutos e 21 segundos do álbum, a impressão é a de que você sentou-se ao lado de Gabriel e sua trupe para ouvir a sessão de terapia mais roqueira de todos os tempos.

Um encontro necessário e uma espécie de expurgo que o músico achou por bem trazer à tona publicamente, tanto para eternizar as feridas e cicatrizes, quanto para dar sua visão dos acontecimentos a quem acompanha a banda há tanto tempo.

No processo, acertou em cheio nas escolhas de arranjos, melodias, timbres e riffs, lançando um dos melhores discos nacionais de 2025 até agora e um dos discos de Rock mais interessantes do país nos últimos anos.

★★★★★  (5/5)

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