
Marcelo Lobato não consegue ficar sem tocar música.
O tecladista e baterista do grupo O Rappa vive um momento nostálgico em meio à comemoração dos 25 anos de Lado B Lado A, disco responsável por catapultar o sucesso da banda. Responsável por grande parte da sonoridade do álbum, ele conversou com o TMDQA! sobre a longevidade do quinteto e comentou sobre uma possível reunião dos membros no futuro.
O músico também deu novos passos em seus projetos. Como artista solo, ele lançou recentemente seu mais recente single “O Corte”. Com sua banda Afrika Gumbe, ele lançou recentemente o remix de “WiFi Free” na última sexta-feira (2). Mesmo com um saudosismo pelo passado, Lobato não deixa de olhar para o futuro.
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Lado B Lado A, um disco atual
O terceiro disco d’O Rappa foi lançado em 15 de setembro de 1999. Com a combinação de reggae, rap, rock e elementos da música eletrônica, o álbum concentra alguns dos maiores sucessos do grupo, como “Minha Alma (A Paz Que Eu Não Quero)”, “Me Deixa” e “O Que Sobrou do Céu”. Na época, a banda contava com a formação de Marcelo Falcão (voz principal), Xandão Menezes (guitarra), Lauro Farias (baixo), Marcelo Yuka (bateria) e Marcelo Lobato (teclados).
Lobato relembra de forma nostálgica o período de ascensão em que a banda estava na época:
“Foi um momento de muita liberdade criativa. Lembro que passávamos madrugadas testando timbres, mixando sons de rua com sintetizadores e criando atmosferas que traduzissem a realidade brasileira. Esse disco é fruto de ousadia, escuta e muito trabalho coletivo”.
O músico considera que os temas abordados no disco continuam atuais e têm reverberado com os problemas enfrentados pelas novas gerações. “A gente já falava nessa coisa tecnológica, já falava da violência. Eu acho que tudo só foi ficando mais extremo. Foi tudo ficando cada vez mais exagerado e, principalmente aqui no Brasil, mais cruel”, conta.
Ele relata a dificuldade enfrentada por artistas com as mudanças na indústria fonográfica nas últimas décadas. Para ele, bandas como O Rappa talvez não teriam espaço nos dias de hoje.
“Agora o músico tem que sacar de TikTok, Instagram, YouTube, tem que promover… Porque só alguns artistas conseguem o luxo que era a gravadora, que investia. Agora não tem mais.”
O Rappa surgiu junto a grupos como Planet Hemp e Nação Zumbi, que exerceram grande influência na música brasileira. Com letras politizadas e uma mistura de diferentes gêneros musicais, a banda manteve sua relevância ao denunciar a violência nas comunidades e a desigualdade social. Na época, os integrantes fizeram parcerias com a ONG AfroReggae, que surgiu após a chacina na favela de Vigário Geral, no Rio de Janeiro, em 1993.
“As pessoas têm um respeito enorme pela banda. É uma referência até hoje. Eu acho que é um som ainda muito atual, não é um som datado. Porque a gente se empenhava muito nas produções. A gente participava muito na construção dos álbuns. Então a gente teve a oportunidade de pertencer a essa cena que foi muito importante no Brasil.”
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Longevidade e possível retorno do Rappa
Com mais de 30 anos de história, O Rappa ainda demonstra relevância na era do streaming. A banda acumula atualmente mais de 4 milhões de ouvintes mensais só no Spotify. Músicas como “Anjos (Pra Quem Tem Fé)”, “Pescador de Ilusões” e “Minha Alma” chegaram a ultrapassar 100 milhões de reproduções. “Até hoje toca, cara. Na rádio toca… Outro dia alguém me mandou a Ana Maria Braga cozinhando e estava tocando uma música do segundo disco [Rappa Mundi], ‘A Feira’ [risos]”, conta.
“A gente sempre teve a curiosidade de não ficar se repetindo, de misturar outros tipos de música, mudar o papo… O Marcos [Lobato] escreve de uma forma diferente do que o Yuka escrevia. O Yuka era um cara mais contundente. O Marcos tem uma coisa mais poética. É mais nas entrelinhas que você vai percebendo as histórias. Então é isso que deu essa sobrevida à banda.”
Os integrantes se apresentaram juntos pela última vez durante um show no Rio de Janeiro, em 14 de abril de 2018. Quando questionado se participaria de um possível retorno do Rappa aos palcos, Marcelo Lobato é categórico: “nas condições certas, sim”. Ele destaca a lealdade e o carinho dos fãs como um dos principais motivos para se reunir novamente com os membros. “O melhor público do mundo é o brasileiro. É o mais curioso”, afirma.
“A parada para mim é que eu gosto de tocar. É a coisa que eu faço mesmo, nunca fiz outra coisa que não fosse música. E tem a questão dos fãs também, porque eles realmente são muito aguerridos, é uma galera muito fiel. Eu acho que a galera merecia. E até uma molecada mais nova que gosta d’O Rappa, mas que nunca foi a um show.”
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Marcelo Lobato e Afrika Gumbe
O músico se dedicou à carreira solo em 2024, com o lançamento do EP Carregador de Piano. O projeto de sete faixas autorais foi idealizado durante a pandemia de COVID-19, um momento introspectivo para o artista. Os efeitos do período também serviram de inspiração para o single “O Corte”, lançado em fevereiro de 2025. A faixa traz devaneios sobre o silêncio e reflexões sobre o individualismo presente na sociedade.
Além das produções próprias, Marcelo Lobato faz parte do Afrika Gumbe. A banda composta também por seu irmão, Marcos Lobato, e Pedro Leão retornou em 2024 com o single “WiFi Free”, com participação de Lenine. A faixa recebeu uma reimaginação de afro house pelas mãos do produtor Benan no remix lançado na última sexta-feira (2). Lobato conta que também participou da produção e que “foi muito bom trabalhar com alguém aberto a novas ideias”.
O artista é conhecido por sua busca pelo experimentalismo nas produções musicais. Ele conta que só adquiriu a liberdade de poder testar novas sonoridades e conseguir instrumentos específicos após muitos anos de carreira. “[Na época de Lado B Lado A] a gente não tinha acesso aos equipamentos que tenho hoje, isso abriu novas possibilidades para produzir.”
Para além da fusão de gêneros dominada pelo Rappa, o músico é um ávido consumidor da música produzida no continente africano. “Sempre ouvi muito, e música para além daquela coisa que as pessoas associam com os tambores, que também é muito legal, mas é só uma parte da música africana. Eu pretendo explorar mais disso em outros lançamentos”, disse.
“Eu gosto mais da coisa do álbum. Não acho ruim essa coisa do single, mas é legal em certo momento você pegar e estabelecer um disco. Porque o álbum tem essa coisa da história. Os discos do Afrika Gumbe, os discos do Rappa… Até a escolha do título, tudo tinha um motivo de ser.”
O terceiro disco do Afrika Gumbe deve chegar até o ano que vem, com nove músicas na tracklist. Fique ligado!
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