27/05 - 01/06

VERSÁTIL

Lukinhas: o artista que dissolve os limites entre gêneros para afirmar sua identidade

Do pagode ao R&B, cantor carioca transforma sua versatilidade musical em ferramenta de afirmação cultural

Lukinhas
Divulgação

“Eu não preciso escolher um lado só.” A frase dita por Lukinhas sintetiza muito mais que uma escolha artística: é um gesto político. Em tempos em que a música é atravessada por algoritmos e segmentações, o cantor carioca mostra que pluralidade não é confusão — é convicção.

Com um pé no pagode e outro no R&B, o artista constrói uma sonoridade que reflete tanto sua herança ancestral quanto as batidas do seu tempo. E nessa travessia entre gêneros historicamente negros, o que se mantém firme é a sua identidade: periférica, romântica, potente.

Nascido e criado na comunidade de Asa Branca, na zona oeste do Rio de Janeiro, Lukinhas se tornou um dos nomes mais promissores da nova geração do pagode urbano — mas seria injusto limitá-lo a um gênero. Desde seu primeiro EP 100 Neurose, lançado em 2020, ele já apontava para uma proposta estética que flertava com o R&B, o pop e o rap.

Parcerias com Emicida, Rashid, Ludmilla, Pabllo Vittar e Gloria Groove ajudaram a ampliar ainda mais esse campo de atuação artística. E mesmo diante de tantas colaborações e sonoridades, Lukinhas nunca soou perdido. Pelo contrário: soou inteiro.

“Essa diversidade musical sempre esteve presente no meu dia a dia. Cada rádio de um vizinho tocava uma coisa, e dentro da minha própria casa também era tudo muito diverso”, relembra. “Quando eu comecei a cantar em barzinho, essa pluralidade de repertório foi exigida e isso me preparou pro meu lado profissional.”

É nesse caldeirão de referências que a sua musicalidade se forma — e é também nesse espaço onde ele encontra sua liberdade.

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Um Lukinhas sem limitações

Se no início da carreira Lukinhas parecia explorar as fronteiras de diferentes gêneros, em Pagode Urbano #01, seu álbum lançado em 2024, o artista mostra maturidade ao integrar essas influências de forma coesa.

O projeto, que conta com participações de Vitão, Gica, Pablo Bispo e LH Emici, é também um retorno às origens. Gravado na Asa Branca, o trabalho é uma celebração da cultura periférica, da qual ele nunca se desconectou. “Eu sempre disse que a minha comunidade é a minha maior bandeira”, afirma.

Mais do que apenas misturar ritmos, Lukinhas cria pontes entre mundos que nasceram do mesmo ventre: o da música preta brasileira. “Meu avô era do pagode, muito fã do Jorge Aragão, e foi ele quem me apresentou Tim Maia, Cassiano. Essa pluralidade floresceu em mim”, conta. É nesse sentido que sua arte carrega ancestralidade e contemporaneidade, reverência e reinvenção.

A criatividade como lema

Mas essa escolha pela multiplicidade tem seu preço. “O lado positivo é que artistas plurais estão sempre atualizados”, diz ele. “Mas o ônus é que, ao não se segmentar num gênero só, é preciso trabalhar mais para chegar em públicos diferentes.”

Ainda assim, Lukinhas não abre mão da liberdade de criar do seu jeito, cantando “um pouco de tudo”, como diz. “Cada vez mais quero expandir esse universo sonoro. Em breve, vou mostrar mais o meu lado do R&B.”

Entre batidas digitais e cavaquinhos, o artista constrói um som onde o afeto e a luta dividem os vocais. Canta amores, dores, memórias e desejos — tudo com a mesma verdade. “Eu só escrevo sobre o que sinto e vejo. Se não for real pra mim, não faz sentido.” É essa autenticidade que tem conquistado públicos diversos e impulsionado Lukinhas a alcançar mais de 205 milhões de streams nas plataformas digitais.

No Rock in Rio 2024, ele levou o pagode urbano ao palco Espaço Favela com a mesma força com que homenageou Ludmilla no Prêmio Potências. Em seu mais recente single, “Menor Sonhador”, parceria com Xande de Pilares, o artista costura gerações do pagode, reafirmando o lugar do sonho dentro da realidade da sua comunidade.

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