
Todo fã de Ghost já sabe que os lançamentos de discos da banda são verdadeiros eventos dentro da comunidade do Rock e Metal. Com o recém-chegado Skeletá não foi diferente: a banda liderada por Tobias Forge fez um período curto de promoção ao trabalho, mas logo no primeiro single, “Satanized”, já fomos apresentados a uma sonoridade que quebrou expectativas.
Se aproximando mais do que nunca das influências do Hard Rock, o novo disco tem o mesmo aspecto épico que vários de seus antecessores, mantendo intacta a identidade única do Ghost. Faixas como “Peacefield” e “Cenotaph” levam o ouvinte quase a uma viagem no tempo, enquanto continuam sendo especiais dentro de um catálogo já bastante recheado.
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O surgimento de um novo Papa – não através de um conclave, mas sim na sucessão natural que acompanha a trajetória de Forge! – é outro fator que ajuda a criar o misticismo em torno dos trabalhos do sueco, que recentemente conversou com o TMDQA! para dar mais detalhes sobre os bastidores de Skeletá.
A conversa foi rápida, mas esclarecedora: Tobias deixou evidente que é movido por uma paixão muito grande pela música até hoje, se desafiando a cada lançamento e sempre arriscando a própria carreira para investir na sonoridade que sua intuição manda naquele momento.
Confira a íntegra do papo a seguir e mergulhe em Skeletá e suas influências!
TMDQA! Entrevista Tobias Forge (Ghost)
TMDQA!: Olá, Tobias! É um prazer estar falando contigo hoje. Queria começar dizendo que estive no último show do Ghost no Brasil e foi um espetáculo realmente sem igual, uma produção inacreditável. Ver o Ghost ao vivo é uma experiência e tanto, e a teatralidade do show é algo muito notável e que claramente faz parte da identidade do Ghost. E aí, desde que ouvimos “Satanized”, ficou claro que esse disco também tem um grande investimento nisso. Então, depois de tantos anos, como continuar inovando nesse quesito? O sucesso dos anos anteriores foi de certa forma uma arma pra trazer cada vez mais ideias?
Tobias Forge: Olha, eu acho que sim! O nosso primeiro disco foi escrito simplesmente por pura paixão, puro desejo, sem qualquer preocupação com como ele seria recebido, sabe? Claro, você sempre quer pensar na sua arte de uma forma que… no fundo, no fundo, você sempre deseja que alguém goste daquilo. Mas, essencialmente, Opus Eponymous foi escrito como uma completa homenagem a coisas que eu gostava.
E já no segundo disco, por conta do primeiro ter ganhado um certo hype no underground, nós tínhamos muitas pessoas dizendo que o Ghost nunca iria superar as expectativas. Sabe? “Ah, eles vão morrer, vão desaparecer”. Acho que eles estavam desejando isso. [risos] Mas eu senti que você realmente não poderia deixar todo mundo feliz. Se eu começar a escrever músicas para agradar as pessoas, eu vou ficar buscando isso pra sempre. Especialmente dentro dessa cena undeground, tem muita gente cheia de ressentimentos!
E assim, sabe, eu venho dessa cena, eu entendo isso, não é um problema. [risos] Mas eu definitivamente pensei que não deveria ceder a isso, não deveria mentir e meio que me render a isso. Eu sempre vou tentar escrever outro disco que seja igualmente cheio de paixão e esquisito, como eu sempre quis que fosse, e quando lançamos “Ghuleh/Zombie Queen”, já ficou uma coisa meio: “será que estou indo longe demais?”.
E não, não estava. Mas eu tive os mesmos pensamentos fazendo o Meliora. “Será que isso aqui é power ballad demais?” Eu não sei, eu só sei que eu gosto. Mas, sabe, de repente todas essas coisas começam a pregar peças na sua mente. Porque mesmo que você não queira agradar as pessoas, você não quer perder a sua carreira, porra!
O que eu aprendi fazendo discos é que eu tenho que me forçar a ousar fazer o que eu pensei intuitivamente, o que minha intuição me diz pra fazer, mesmo que intelectualmente às vezes eu diga pra mim mesmo coisas tipo, “olha, isso aqui vai destruir a porra da sua carreira”.
TMDQA!: E aí você vai e faz mesmo assim!
Tobias: Exatamente!
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TMDQA!: Bem legal você dizer tudo isso, porque eu lembro de uma entrevista em que você falou sobre como “Twenties”, do último disco, foi inspirada em um documentário que você viu sobre música brasileira, algo do tipo. E às vezes é nessas influências esquisitas que saem as composições mais legais, né?! Teve algo do tipo dessa vez também que você queira compartilhar?
Tobias: Olha, eu não queria dizer que nada foi esquisito porque, sabe, se eu digo que algo é esquisito, pode implicar que há algo errado com aquilo. Então, dito isso, acho que algo que pode despertar curiosidade é que, quando eu escrevi “Cenotaph”, eu e o meu parceiro daquela música, Max [Grahn], com quem eu escrevo muito… o arranjo original de “Cenotaph” era bem complicado.
Era uma música bem Queen, com várias paradas e reinícios, e era bem grandiosa, bem ambiciosa. E durante a gravação, quando nós já estávamos no estúdio gravando de fato, eu estava com essa dúvida enorme no meu coração. E eu disse, “porra, Max, a gente precisa… eu não consigo, eu não gosto dessa música, não gosto dessa direção”. Tipo, a letra e o significado dela, ouso dizer, eram profundos, mas eu não estava curtindo o arranjo, mesmo que eu tenha insistido nele. Eu precisava voltar atrás.
Então, eu pensei: “vamos tentar fazer um experimento”. A ideia foi fingir que estávamos fazendo uma cover da música! Então, era a mesma melodia, os mesmos acordes, mas uma coisa meio “bêbada”, meio Status Quo se encontrando com ZZ Top nessa versão, e foi aí que encontramos a melodia final.
E eu amo ZZ Top, eu amo Status Quo, eu amo Meat Loaf, mas é por isso que “Cenotaph” ficou do jeito que ficou. Porque eu falei: “vamos fazer isso de um jeito simples pra caralho”. Precisava ser simples, estava difícil demais de entender! E para uma letra que de fato significava algo importante, acho que estávamos dando um tiro no pé.
Então, dito tudo isso, talvez a versão original fosse um pouco mais Heavy Metal, por assim dizer. Era mais complicada, com mais guitarras, mais tudo, mas a música não teria ficado tão boa assim.
TMDQA!: E talvez não se encaixasse tão bem no álbum, né? Tendo em vista a forma como tudo soa, acho que tudo se encaixa mais nesse som que você descreveu.
Tobias: Sim! Eu não sei se é ousadia dizer isso, mas de certa forma, sem ser tão provocativa quanto “Twenties” foi, eu acho que “Cenotaph” é meio que a “Twenties” desse disco. Essa é a música que, sabe, talvez você goste, talvez não, e tudo bem. Sempre temos músicas assim.
TMDQA!: Sim, entendo! Tobias, infelizmente fui avisado que nosso tempo está acabando, então, como já é tradição por aqui no Tenho Mais Discos Que Amigos, queria te perguntar se você teve algum disco (ou discos) que foi seu melhor amigo na vida ou nesse processo de composição desse álbum!
Tobias: Olha, eu tenho muitos discos que eu gosto, e não só tenho muitos discos porque eu os coleciono como eu tenho muitos discos que significam muita coisa pra mim. Tem de tudo! Rock das antigas, tipo dos Anos 60, sabe? Eu sou muito fã dos clássicos das antigas, do Rock sessentista… Beatles, Rolling Stones, Deep Purple, Pink Floyd, tudo isso. Aí as coisas grandes dos Anos 70, todas as bandas enormes, mas eu também gosto de Punk Rock; eu coleciono singles de Punk Rock.
E aí eu gosto de Black Metal, de Death Metal, eu gosto de Jazz, de música clássica…
TMDQA!: Então você realmente tem mais discos que amigos igual a gente! [risos]
Tobias: Olha, eu sou muito abençoado por ter muitos amigos, inclusive alguns próximos e realmente muito, muito bons amigos, mas eu de fato tenho uns 6 mil discos. Então… [risos]
TMDQA!: É, a gente entende! [risos] Tobias, obrigado pelo seu tempo e até uma próxima!
Tobias: Obrigado, foi um prazer falar contigo também.
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