
“Não é fácil ser eu.” A frase que dá título ao novo EP de Cjota carrega o peso de uma existência marcada por superações — mas também a leveza de quem começa a se reconhecer no espelho depois da tempestade. O projeto marca o início de uma nova fase na trajetória do artista mineiro e simboliza, ao mesmo tempo, o fim da era Traumas e Vícios (2024).
Com seis faixas autorais, algumas compostas ainda entre 2020 e 2021, o EP é um exercício de honestidade e maturidade, onde Cjota resgata músicas do passado para iluminar o presente com a sinceridade de quem viveu — e sobreviveu — a si mesmo.
Ao lado do EP, chega também um documentário em quatro episódios, lançado com exclusividade no canal do rapper no YouTube. A produção acompanha o cotidiano de Cjota, revelando não só sua rotina de trabalho, mas também suas batalhas internas: problemas de saúde, crises psicológicas e o impacto do sucesso em sua vida pessoal.
É a primeira vez que ele se expõe tanto. E não por vaidade, mas por necessidade. “Esse documentário chega justamente para revelar um lado meu que muita gente ainda não conhece”, resume.
A nova fase estética do artista, que antes se destacou com cabelos rosa (O Menino do Cabelo Rosa, 2023) e depois verdes (Traumas e Vícios), agora é marcada por fios brancos. Uma metáfora visual clara para o amadurecimento emocional e artístico que atravessa todo o projeto. “Tanto nas letras quanto na minha postura, eu estou mais maduro”, define Cjota.
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O ponto de partida
Nascido em Belo Horizonte, Cjota teve sua primeira relação profunda com a música nos cultos da igreja evangélica.
O canto veio antes do rap, moldando uma identidade vocal que mais tarde encontraria nos beats uma forma de catarse. A conexão com o rap começou aos 15 anos, ouvindo músicas que falavam diretamente com sua realidade de juventude periférica. “Apesar da minha cara não parecer, eu venho de uma região complicada. Vi e vivi muita coisa difícil”, conta.
A virada de chave veio em 2017, quando um amigo o levou para o estúdio. Logo na quarta faixa gravada, nasceu “Call 911“, até hoje a música mais ouvida da sua carreira. Mas o que parecia ser o início de uma escalada promissora foi rapidamente atravessado por problemas com empresários, falta de estrutura e, sobretudo, por questões de saúde mental.
Entre 2018 e 2022, Cjota viveu um limbo criativo, onde a depressão e um problema crônico na mandíbula o impediram de performar, gravar e até falar normalmente. “Era uma das piores dores que existem”, relembra. “Mas agora está muito fácil ser eu. E não é pelo sucesso, é porque eu estou bem física e mentalmente.”
Revisitar o passado
Parte do EP Não É Fácil Ser Eu foi composta no auge dessas dificuldades — músicas que ficaram engavetadas por anos e agora ressurgem como registros emocionais de um passado que ainda pulsa. Em duas faixas, os vocais originais nem foram regravados.
“Isso é muito louco de pensar, porque hoje em dia as coisas são tão obsoletas… e essas letras ainda dizem muito sobre mim agora. Acho que tem a ver com a sinceridade que eu coloco na composição”.
Essa sinceridade, aliás, é um dos pilares do artista. Em tempos em que o algoritmo dita tendências e a estética do trap se distancia da realidade brasileira, Cjota segue na contramão, apostando em letras que resistem ao tempo e criam vínculos profundos com sua base de fãs.
“Eu não faço música para ser esquecida depois da balada. Quando o foco é fazer algo que dure, a música dura. Eu não me deixo levar pelo hype”.
Em um mercado onde muitos artistas se perdem tentando replicar fórmulas de sucesso, Cjota se mantém firme na construção de uma identidade única. “Pode até ter similaridade entre as minhas faixas, mas você não encontra outro artista com uma sonoridade igual à minha. Não adianta procurar, que não vai achar”, afirma com convicção.
Esse compromisso com a autenticidade não é só um posicionamento estético, mas também um pacto com seu público.
“As pessoas gostam da minha música porque sentem que é de verdade. E isso fortalece uma fanbase sólida. Eu quero que elas gostem da música do Cjota, e não de uma versão diluída de outra coisa que já existe.”
De olho no futuro
Cjota também sabe que não quer ser colocado em uma caixinha. Embora o trap seja sua casa, ele vislumbra um futuro onde sua voz — já reconhecível por sua estética própria e lirismo — possa ecoar em outros ritmos. “Eu me vejo fazendo pagode, funk, sertanejo… Quero ser um artista que ninguém consiga nichar. Quero criar tendências e levar minha voz para outros lugares, independente do gênero”, diz.
Esse desejo de expansão já começou a se concretizar: uma colaboração com um artista chileno sinaliza a intenção de projetar sua carreira internacionalmente. E o EP recém-lançado, com sua carga emocional densa e estética sólida, funciona como um ponto de partida para essas novas direções. “Esse projeto é como um laboratório criativo, um passo necessário antes de algo maior que ainda está por vir.”
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