
Confesso que demorei para entender e valorizar o estilo. Hoje, gosto e entendo. Ainda mais se presto atenção no que acontecia no mundo naquele momento. Na época, gostava de algumas coisas bem específicas, mas já sabia que era inegável o impacto do movimento no comportamento dos jovens e, principalmente, na moda.
Quando a adidas anunciou coleções oficiais em colaboração com o Korn, o choque não foi apenas pelo inusitado timing da parceria — foi pelo acerto estratégico, mesmo que possivelmente tardio, que ela representava. Mais do que vender tênis ou roupas, a collab materializou uma história que já existia no imaginário dos fãs de música e moda desde os anos 90: a profunda ligação entre o Korn e a estética urbana que a adidas sempre simbolizou.
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Nos anos 90, enquanto o grunge dominava as rádios – depois do hard rock e de alguma coisa do metal – o Korn surgia como uma força disruptiva. Trazendo um peso diferente, com impacto semelhante ao Roots do Sepultura, o groove único e a angústia crua ajudaram a banda a fundar o movimento nu metal — uma mistura de metal com rap, funk e cultura de rua. Visualmente, isso se traduzia em roupas largas, tênis esportivos e uma atitude que rompia tanto com o glam rock quanto com o grunge.
E, por incrível que pareça, não soava forçado.
Jonathan Davis, vocalista da banda, era frequentemente visto usando agasalhos da Adidas — ao ponto da banda gravar a música “A.D.I.D.A.S.” em 1997 (um acrônimo provocativo: All Day I Dream About Sex). Na época, no entanto, a marca nunca havia formalizado qualquer tipo de parceria com o grupo. O vínculo era orgânico, nascido do consumo espontâneo e da identificação cultural.
Ao oficializar a collab mais de duas décadas depois, a adidas não apenas preencheu uma lacuna histórica. Transformou em produto uma narrativa que os fãs já sabiam de cor. A linha de tênis e roupas desenvolvida em parceria traz símbolos do Kornverse — como fontes distorcidas, referências visuais aos álbuns e à estética da época.
E, putz… são bonitas, hein? (e caras também, sejamos francos…)
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Esse movimento é emblemático: enquanto muitas collabs hoje tentam forçar uma conexão entre marcas e artistas, a adidas e o Korn apenas celebraram algo que já existia de forma legítima. E isso faz toda a diferença. Não é só merchandising, é o reconhecimento de uma história cultural.
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O lançamento nos mostra como um bom posicionamento pode reativar relevâncias adormecidas (o Kiss e o Metallica dão aula sobre isso há décadas). Ao associar-se formalmente a uma banda icônica, a Adidas se conecta com fãs nostálgicos dos anos 90 e início dos anos 2000 – um público que hoje tem poder de compra – e também com as novas gerações que redescobrem um estilo.
Para o Korn, é uma oportunidade de reacender seu valor cultural fora do circuito apenas musical, trazendo a banda para o centro da conversa de moda, cultura e estilo de vida. Em vez de ser visto apenas como uma “banda dos anos 90”, o Korn se posiciona como uma força estética atemporal — parte de um legado que segue inspirando novas audiências.
Esse tipo de collab também contribui para uma revalorização do nu metal como movimento cultural. Um gênero muitas vezes marginalizado ou criticado pela crítica musical, mas que hoje começa a ser reavaliado como parte fundamental da música pesada moderna.
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O fortalecimento desses símbolos ajuda a dar nova luz ao legado do nu metal, mostrando como aquela mistura agressiva de rap, metal e cultura urbana capturava tensões sociais que ainda ecoam hoje.
No fim das contas, é um case perfeito sobre o poder de contar histórias autênticas. Quando marcas e artistas respeitam a história que compartilham, em vez de tentar fabricar uma, o impacto é muito maior. Não é apenas sobre nostalgia: é sobre reconhecer que, para certas audiências, cultura e produto são duas faces da mesma moeda.
A primeira cápsula da coleção saiu em 2023 e, neste ano, um segundo round chegou às lojas do planeta (desta vez temático com o Follow The Leader de 1998).
Vale conhecer.
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Coluna dedicada a explorar como o marketing pode transformar bandas em marcas icônicas e vice-e-versa. Com mais insights sobre música, estratégias criativas e cases de sucesso, a coluna pretende desvendar o universo em que música e negócios se encontram.
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