27/05 - 01/06

CELEBRAÇÃO

Dexter revisita sua própria lenda no rap com o álbum “D’LUXO” e celebra liberdade com som e memória

Disco marca os 35 anos de carreira e 14 anos de liberdade do Oitavo Anjo

Dexter
Foto: Rafa Leforte

Por mais de três décadas, Dexter construiu sua história no rap nacional a partir de dois pilares: vivência e verdade. Agora, o artista transforma essa caminhada em um monumento sonoro com o lançamento de D’LUXO, álbum que revisita sucessos compostos entre 1999 e 2002 sob nova roupagem, produzido por Laudz e Zegon, o duo Tropkillaz.

O disco, disponível nas plataformas digitais desde a última quinta-feira (24), celebra os 35 anos de carreira e os 14 anos de liberdade do rapper — números que traduzem tanto a persistência quanto a superação.

Mais que uma coletânea de releituras, D’LUXO é um exercício de memória afetiva e resistência. Ao todo, são 12 faixas, sendo nove regravações de clássicos como “Saudades Mil”, “Triagem” e “Oitavo Anjo”, e três interlúdios com falas inéditas de Dexter, que contextualizam o impacto dessas composições na época em que foram feitas — parte delas ainda dentro do sistema prisional. Uma das novidades do projeto é a versão exclusiva de “Alta Voltagem”, que ganha nova vida com as colagens do DJ Loo e beat assinado pelo Tropkillaz.

Modernizar o passado

“Nosso objetivo foi modernizar a sonoridade das canções. Em clássico não se mexe, mas pode se aprimorar. Regravamos vozes, tiramos excessos e trouxemos os timbres pro tempo de agora”, explica Dexter, que vê no disco um gesto de gratidão e um reencontro com as raízes.

Essa gratidão aparece em destaque em uma das faixas inéditas, intitulada justamente “Gratidão”. Nela, Dexter narra com emoção o dia em que conquistou sua liberdade: 20 de abril de 2011, após 13 anos e 3 meses de privação. “A caminhada foi difícil, e milhares de coisas aconteceram nessa jornada”, diz o rapper, com a mesma firmeza de quem transformou dor em verbo e rima.

Figura histórica do rap brasileiro, Dexter — ou Marcos Fernandes de Omena, como foi batizado — começou a rimar ainda nos anos 90, e foi cofundador do lendário grupo 509-E, surgido no extinto Carandiru. Canções como “Saudades Mil” e “Oitavo Anjo” se tornaram hinos de uma geração, ecoando nas ruas e nas celas como declarações de humanidade.

Ao longo dos anos, Dexter consolidou não só uma discografia potente, mas também um discurso lúcido sobre o papel do hip-hop na transformação social. “O rap nasceu pra ser pai, irmão mais velho, tio… pra quem não teve isso em casa. A gente salva vidas com essa música. Aconteceu comigo, com o Brown, com o GOG, com tantos outros”, afirma.

Novo ciclo

D’LUXO é apenas o primeiro capítulo de um novo ciclo. Para o segundo semestre de 2025, Dexter promete o aguardado álbum Frustrações, Dogmas, Convicções, com faixas totalmente inéditas — seu primeiro projeto autoral desde Flor de Lótus, de 2015. Também está em produção o disco Na Linha do Tempo, em que o artista vai reinterpretar colaborações que gravou como convidado ao longo da carreira.

Fora do estúdio, Dexter segue ampliando suas frentes de atuação. Em 2024, estreou o podcast Direito de Sonhar, dando voz a pessoas privadas de liberdade em conversas profundas com figuras como Dráuzio Varella, Ferréz e Preta Ferreira. No mesmo espírito, lançou este ano sua própria cerveja artesanal, Oitavo Anjo, em parceria com a Smoked Brew — uma Munich Helles pensada para harmonizar com sua história e com sua música.

Em março, levou seu som pela primeira vez a Barcelona, na Espanha, e recentemente voltou de apresentações na Bolívia. Aos 50 anos, Dexter segue na ativa, firme e forte como ele próprio define: “Eu continuo aqui, firmão, fortão e no corre do dia a dia. Logo menos, vários outros capítulos serão do conhecimento de vocês.”