Podemos analisar o consumo musical por eras: primeiro eram as lojas de discos, depois as livrarias repletas de CDs. Com a pirataria, esses CDs passaram a ser vendidos em qualquer esquina, e depois as pessoas aprenderam a baixar músicas online e “queimar” seus próprios CDs, ou colocá-las em um mp3 player.
Você deve estar pensando: então hoje estamos na era do streaming, certo? Bem, sim. Mas o uso dos aplicativos de streaming, na verdade, proporcionou o que os especialistas estão chamando de “era dos criadores”.
De acordo com um relatório divulgado pelo portal MIDiA, 76 milhões de pessoas em todo o mundo se identificavam em 2023 como “criadores de música” (e não exatamente “músicos”), um aumento de 12% com relação a 2022. Até 2030, a previsão é que esse número quase triplique, alcançando a casa dos 200 milhões de músicos “casuais”.
Numa época em que a Inteligência Artificial se desenvolve rapidamente, a arte da fotografia já foi canalizada para o Instagram, e os filmes para o TikTok. O que será então da música nos próximos anos? Neste artigo, vamos analisar os prós e contras do fácil acesso a ferramentas de criação e divulgação de áudio no século 21.
Prós e contras da facilidade de acesso ao streaming e ferramentas musicais
A pandemia que começou em 2020 acelerou esse processo, tornando a criação artística parte do próprio entretenimento, na sua casa mesmo. Por um lado, isso deu mais poder aos fãs e garantiu a artistas independentes mais liberdade para compor, gravar, mixar e distribuir suas músicas para o mundo todo, gratuitamente.
Por outro lado, a demanda por músicas novas e “caseiras” não cresceu no mesmo ritmo da oferta, o que ampliou consideravelmente o funil do financiamento para artistas em plataformas de streaming. Ou seja, se os royalties pelo consumo online já pagavam pouco, agora pagam menos ainda.
Em entrevista à MusicRadar, o ex-executivo de finanças do Spotify, Will Page, apresentou dados mostrando que mais músicas estavam sendo lançadas em um único dia de 2024 do que durante todo o ano de 1989, por exemplo.
Isso despertou uma preocupação das plataformas de streaming com “criadores e ouvintes fantasmas”. Como te mostramos neste artigo, há dezenas de casos em investigação de pessoas que lucraram milhões de dólares com fraudes de direitos autorais, enquanto artistas independentes genuínos lucram apenas 3 centavos de dólar por reprodução.
“Fadiga de assinatura”: modelos de pagamento para artistas e fãs precisará mudar
A onda dos “músicos casuais” impulsionou a procura por softwares de produção musical, o que por sua vez fez crescer os modelos de assinatura para esses programas – tal qual fazemos atualmente com Netflix, Amazon, supermercados, clubes de livros, vinhos e cervejas e tantas faturas mensais que até perdemos a conta.
Para o pesquisador Steve Heithecker do Pyramind Institute, uma das instituições que participou do estudo da MIDiA, isso criou o que está sendo chamado de “fadiga de assinatura”, quando as pessoas passam a se irritar com o tanto de cobranças caindo automaticamente na conta:
“Empresas de software seguiram o modelo de Wall Street, que colocou as receitas recorrentes como algo muito ‘sexy’. Todo mundo quer um pedaço. Às vezes as pessoas esquecem que há a renovação automática [da assinatura], e isso é como ‘dinheiro de graça’ para essas empresas. Atualmente, o desgosto por esse modelo é quase universal. Músicos mais antigos odeiam o formato de assinatura, mas os artistas mais jovens que ouvimos também se sentem assim”.
Como consequência, programas de edição de áudio como Waves, Minimal Audio e VCV Rack precisaram voltar atrás em seu modelo de negócios “subscription-only” após uma série de reclamações dos criadores nos últimos anos.
Ainda assim, o volume de músicas novas que é hospedado diariamente em plataformas como Spotify, Deezer e YouTube Music continua assustadoramente grande, desafiando a capacidade da audiência de absorver isso tudo – e também a saúde financeira tanto dos “criadores casuais” como dos artistas “tradicionais”.
E você, se sente perdido ou maravilhado com tantas opções?!
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