Aya Nakamura

“Nada de Aya. Isso é Paris, não o mercado em Bamako”. Foi assim que uma faixa, exposta às margens do rio Sena na capital francesa, colocou em pauta o racismo e a xenofobia presentes nos Jogos Olímpicos de Paris.

Citada nominalmente, a cantora Aya Nakamura foi o alvo fácil de grupos nacionalistas dos últimos dias, após o presidente Emmanuel Macron levantar a possibilidade da artista de 28 anos ser atração da Cerimônia de Abertura. 

A informação inicial veio do jornal L’Express. Segundo a reportagem, Nakamura teria conversado com Macron em fevereiro sobre uma possível participação na cerimônia que dá início aos Jogos, marcados para 26 de julho a 11 de agosto. No entanto, nem o presidente, nem a artista confirmaram o que até o momento é um boato.

Este “detalhe”, porém, não segurou a reação inicial de grupos que se dizem nacionalistas. O resultado foi um intenso debate sobre identidade e língua na França.

Por que Aya Nakamura está sendo atacada na França?

Aya Nakamura

Enquanto os apoiadores de Aya defendem que sua presença seria uma excelente forma de destacar a vivacidade da cultura francófona moderna, celebrando sua diversidade, os detratores argumentam que sua música tem mais influências africanas e americanas do que francesas, e dizem que seu uso da língua francesa a deprecia.

O que Nakamura canta em seu próprio trabalho não vem ao caso, porém. Isso porque, segundo os boatos, especula-se que ela apareceria para interpretar uma canção de Édith Piaf durante a cerimônia de abertura, atualizando assim um clássico francês diante de uma audiência global moderna e multiétnica. Mais francês que isso, impossível.

Essa controvérsia extrapolou as fronteiras dos debates políticos e sociais e atingiu as redes sociais, onde o nome de Nakamura foi vaiado em um comício do partido de extrema direita Reconquista, e um grupo chamado Les Natifs publicou uma foto online com a tal faixa que virou notícia. O cartaz dava a entender que a artista pertence ao mercado aberto da capital do Mali, e não a Paris – claramente fazendo um juízo de valor sobre Nakamura, sua cultura e origem.

Em resposta às críticas, Nakamura afirmou nas redes sociais: 

Vocês podem ser racistas, mas não surdos. Isso é o que os machuca. Sou o principal assunto de debates públicos, mas o que eu devo a vocês? Nada.

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Repercussão dos ataques xenofóbicos a Aya Nakamura

Autoridades, colegas músicos e os organizadores dos Jogos Olímpicos saíram em defesa de Nakamura, acusando seus oponentes de rejeitá-la por sua origem estrangeira.

É o caso de críticos como Marion Maréchal, candidata do partido Reconquista e oposição a Macron, que argumenta que Nakamura “não representa adequadamente a língua, a cultura e a elegância francesas”.

Entretanto, defensores da cantora destacam seu sucesso internacional, muito bem representado por hits como “Djadja” e “Copines”, ambos com centenas de milhões de reproduções em plataformas de streaming, como um sinal positivo de integração e sua influência sobre os jovens em todo o mundo.

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Aya Nakamura é a cantora mais ouvida na França

Conhecida mundialmente por seu estilo único que mescla Afropop, R&B e gírias parisienses, Aya é atualmente um dos maiores nomes da música popular na França. Embora sempre tenha encontrado resistência de parte do público por sua origem malinesa, isso não impediu que Nakamura crescesse exponencialmente – tal como a presença francesa no continente africano no século XIX.

Nakamura detém o título de cantora mais ouvida nas plataformas de streaming no país, acumula cinco músicas e um álbum número 1 nas paradas francesas. Além disso, ganhou o prêmio Victoires de la Musique, uma honraria importante da música francesa, e seu álbum Aya recebeu certificação de platina dupla, vendendo mais de 200 mil cópias.

Apesar das controvérsias, a possível presença de Aya Nakamura nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 continua sendo um tema de discussão e reflexão sobre a diversidade cultural e a identidade nacional francesa. Com um país com questões tão profundas quanto à imigração e temas raciais, era esperado que o assunto fosse politizado – ainda mais em ano eleitoral, com eleições para o parlamento europeu marcadas para junho.

Uma coisa é certa: a porcentagem de imigrantes na França é de 10,3%, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística da França (Insee) de 2021. Isso significa que quase sete milhões de pessoas que vivem na França nasceram em outro país.

A seleção de futebol masculino é reflexo disso. E se ela é boa o suficiente para ganhar a Copa do Mundo, também deve ser boa para representar a música francesa, não? O debate seguirá nos próximos meses.

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